JESUS VEIO AO MEU ENCONTRO. POR TRÊS VEZES! EM UMA ÚNICA TARDE, EM MACEIÓ.

Crônicas

Fabio Campos

Na condição de diretor da Escola Senhora Santana, fui designado, para participar de um treinamento, esta semana, sobre o ProJovem. Trata-se de um Programa do governo federal relacionado com a inclusão social: Onde jovens entre 18 e 29 anos, previamente matriculados, terão a oportunidade de concluir o ensino fundamental em dezoito meses, além de receber uma bolsa de estudo de cem reais, irão adquirir também, uma qualificação profissional.

O local da capacitação: hotel Ouro Branco, na Avenida Jangadeiros Alagoanos em Maceió. Ficamos ali por três dias, mais de cinquenta treinandos, de diversos Estados do Nordeste, absorvendo os conhecimentos relativos à execução do ProJovem II. Cujo início está previsto para 06 de abril. Tenho comigo uma convicção com relação a esses encontros. É praxe: O cabedal de conhecimentos que tentam repassar é extenso, em detrimento de um período de tempo relativamente curto. Mas, uma coisa fica de certeza, as experiências vividas, que entre um momento e outro são relatadas. Isso fica. Isso marca. E quando termina saímos bastante motivados, com a mente fervilhando de novas idéias e objetivos brilhantes. Ávidos para colocarmos em prática o que aprendemos.

Saí do hotel em direção a um ponto de ônibus. Precisava chegar a Rodoviária pra voltar à Santana. Ocupado na tarefa de vigiar a bolsa e ler as bandeiras indicativa dos destinos dos ônibus coletivos, não percebi a aproximação de um rapaz que me abordou. Cutucando meu braço pediu:

-Moço! Me ajude aí, me dê um real! Tô cum fome...não comi nada ainda hoje!

(Eram quase três e meia da tarde). Olhei-o de relance. Tratava-se de um rapaz moreno, muito magro de estatura alta, olhos e cabelos negros, a pele curtida pelo sol, usava um boné amarrotado e uma roupa suja e surrada. Comovi-me diante da situação. Mas fiz cara de poucos amigo. Uma reação de autodefesa. Puxei uma nota de um real que tinha num bolso e dei-lhe rápido. Tentado me desvencilhar da situação. Ainda consegui ouvi-lo dizendo enquanto se afastava, sem que eu tivesse mais coragem de fitá-lo novamente:

-Deus lhe pague, moço!...

Mais meia hora se passou e finalmente o coletivo esperado chegou. Subi. Ao parar na Avenida das belas praias de Pajuçara, sobe pela porta traseira do ônibus um rapaz, de cabelos encaracolados, de olhos claros, usa uma camisa de malha e uma bermuda jeans, traz uma bolsa à tira-colo. Sem falar nada, vai passando pelos passageiros e entregando um pequeno bilhetinho. Ao tentar me entregar, recusei-me a receber. Por saber, de experiências anteriores, do que se tratava. Vi de relance que a pessoa ao meu lado recebera e se punha a ler. Como eu previra: Tratava-se de um pedido de ajuda. Era deficiente auditivo: surdo-mudo. Depois de entregar, aos demais passageiros, se pôs a recolher. Senti que minha consciência tornou-se terrivelmente pesada, obesa! Nesse momento, vasculhei os bolsos em busca de uma moeda. Encontrei. Quando o rapaz recolheu o bilhete do passageiro sentado a meu lado, aproveitei para entregar-lhe a moeda. Ele fez uma gestual que devidamente traduzido, seria como se dissesse:

-Deus abençoe!... E no ponto seguinte desceu.

O ônibus seguiu seu trajeto. No bairro do Jacintinho, antes da ladeira do Feitosa, sobe, também pela porta traseira, um garoto. É um garoto de cor negra. Cobre com folga seu corpo franzino, uma camiseta regata e um calção muito sujo. Nos pés cheios de poeira umas chinelas muito velhas. Ele corre, vai até o cobrador, se segura nos ferros. E pra minha surpresa: Saúda a todos passageiros com um sonoro, Boa tarde! (pede que todos respondam, pra ele não passar vergonha!). Pede um minuto da atenção de todos. E conta sua história: Têm seis irmãos, todos pequenos, o pai foi embora procurar emprego. Ele diz que gostaria muito de ter uma casa e que nunca faltasse comida pra ele e pra os seus irmãos. Diz que precisa de ajuda, qualquer coisa serve...E deseja que Deus acompanhe a todos. Depois vai passando pelos passageiros, recolhendo as ajudas. O ônibus chegou ao meu destino. O garoto ainda está longe de mim. Desci.

Agora, estou no ônibus da Real Alagoas. Já é noite. Sou todo pensamentos. E me recordo...assim disse Jesus: “ Todas as vezes que acolhestes alguém necessitado: Vistes alguém nu, e vestistes; com fome e destes de comer; preso ou doente e visitastes. Foi a Mim que acolhestes” (Mateus Cap. 25,vs.35,40).

26/03/2009

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