Outro dia caminhava de forma descontraída pela cidade quando ouvi alguém gritar meu nome, era uma voz feminina, não precisei me curvar completamente para reconhecê-la. Tratava-se de uma senhora da zona rural, não a via há algum tempo. Imediatamente me fiz de surdo e tendo a certeza que a mesma não havia percebido que a teria visto apressei os passos, aquela não era uma boa hora para reencontrá-la. Num pequeno espaço de tempo meus pensamentos tinham sido vários. Buscava idéias de como me livrar daquele encontro indesejado.
A questão era a seguinte: três meses antes aquela pessoa havia me falado um dinheiro emprestado, o valor era um tanto quanto pequeno, como diz um velho ditado; "se o espírito não me engana," eram uns R$ 30,00 (trinta reais). A promessa de me pagar seria uma semana depois, algo que eu já tinha dado por perdido. E como não estava naquele instante com dinheiro suficiente para levar outra "ferrada" evitava o reencontro. A mulher sentindo que eu teria aumentado os passos cuidou de acelerar os seus. Logo, me alcançou e segurou-me pelo braço me chamando pelo nome. Não tendo alternativa, me virei com expressão de surpresa e "alegria" em revê-la. Ela esboçava um sorriso contagiante. Cumprimentou-me educadamente, e talvez imaginando que minha pressa fosse devido a algum compromisso falou sem perder tempo: "Sérgio, faz alguns dias que estou querendo lhe ver para pagar aquele dinheiro que você me emprestou," tirando da bolsa me entregou o valor combinado. Forçando um sorriso, meio sem graça, ainda lhe afirmei hipocritamente: "Que é isso, não precisava! já nem me lembrava disso!". Ela saiu toda satisfeita! Não sem antes agradecer com a certeza de ter cumprido seu papel de pessoa responsável.
Sai em sentido inverso com o pensamento fervilhando em dúvidas sem saber qual denominação daria à minha atitude. No primeiro momento senti vergonha, porém, como bom ser humano logo encontrei uma desculpa!
E minha culpa, minha tão grande culpa, em questão de segundos, se perdeu no espaço.
Quantos de nós já não nos perguntamos: "Eu sou bom ou mau"?
Essa é uma indagação que dificilmente fazemos. A dificuldade aumenta se a pergunta diminuir: "Eu sou mau"?
No entanto, se quisermos ver a historia mudar imediatamente de figura é só alguém nos indagar sobre o próximo. Nesse caso nossa fertilidade mental para falar mal é extraordinária.
- Fulano? Aquele não vale nada!
- E Beltrano? Nem me fale...
- Eu não! Não tenho orgulho, inveja, ciúmes! Não sou avarento, traidor, preconceituoso e nem corrupto.
"O inferno são os outros"! (Dante Alighieri)
"A bondade é um espelho que caiu do Céu e se quebrou. Cada um recolhe um pedaço e diz que toda a bondade está naquele caco". Ditado Popular.
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