O MENINO DE JEREMOABO

Contos

Adelson Miranda

Não aparentava mais que dez anos. Era franzino, de feições delicadas e acentuados sinais de carência orgânica. Um olharzinho safado.
Abordou-me:

- O senhor pode me emprestar vinte cruzeiros? Sábado, eu pagarei o senhor.
- Você tem pai, garoto?
- Não senhor.
- E sua Mãe?
- Eu não sei onde ela anda. Tá com mais de um mês que ela foi embora com um homem.
- Você é de onde?
- De Jeremoabo, na Bahia.
- Como chegou até aqui?
- De todo jeito.
- Como você vai pagar os vinte cruzeiros?
- Lavando carro, eu dou um jeito, não se preocupe.

Era meio dia. Mandei preparar um prato bem reforçado e o garoto não se fez de rogado. Agradeceu, pegou os 20 mangos e deu no pé. Quatro dias depois ao chegar em casa, entregaram-me duas notas de dez cruzeiros

- Foi um menino que deixou.

Ele disse que ia voltar para Jeremoabo.

* Conto extraído do livro Minha História de Amor e Saudades (Adelson Miranda)

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