A minha aposentadoria

Crônicas

Mozart Brandão Barros

Dia 21 de fevereiro deste ano, uma quarta-feira de cinzas, foi publicada no Diário Oficial da União a minha aposentadoria. Foi voluntária.
Tudo começou com meu primeiro emprego no Colégio Bom Viagem, em Recife, ano de 1973. Estava com pouco mais de 20 anos. Depois, escola da rede estadual de ensino pernambucano, Escola Politécnica, SESI-PE, entre outros.
Em Maceió, professor da UFAL, FAL, rede oficial do Estado e ETFAL, (hoje CEFET) a minha estimada Escola Técnica Federal de Alagoas. Nesta, dediquei maior parte de minha vida profissional, foram tantas e tantas vitórias! Desde as conquistas nas quadras como Técnico Desportivo ao excelente clima fraterno e amigável com que vivi no meu ambiente de trabalho.
Não esquecendo também as derrotas, estas não desejávamos, aprendíamos com elas! Eu, com olhar de curioso e grande desejo do saber, antes de ser mestre, fomos um eterno aprendiz. Devo-lhe muito ETFAL.
Sempre tratei todos com o maior respeito. Começando pelos meus alunos e atletas, meus colegas de profissão, servidores administrativos e pessoal de apoio. Em todos os momentos, bons ou ruins fui leal, pacifista, transmiti otimismo e demonstrei solidariedade.
Sempre vi e continuo vendo nas pessoas as suas virtudes. Com meus erros e acertos aprendi a entender que cada pessoa tem que ser compreendida e tratada como essencialmente ela é.
Sou um vitorioso, não quero com isso afirmar que não tive revés e dissabores. Vivi alguns. Mas o que vale é o saldo. O meu é positivo. Tenho absoluta convicção que contribuí com dedicação, paixão e muito amor ao longo de mais de 34 anos de magistério, na formação cidadã de muitos jovens, adolescentes e adultos. Foi minha missão. Hoje, é meu legado!
Aposentado, quando em vez me pego saudoso dos ótimos momentos que vivi lecionando. Faria tudo de novo! Claro, com algumas correções de rumo.
Quando lecionava por último no CEFET com dedicação exclusiva, sobrava tempo para ler uma revista semanal, levar meu carro para lavagem, lia os jornais da cidade, ia a um cinema. Tinha tempo pra tudo. Hoje aposentado, no ócio maravilhoso, falta-me tempo para essas coisas. Minha prioridade é não ter prioridades. Minha preocupação é não tê-las. O leitor pode questionar o que é que ele está fazendo então?
O que me der na cabeça, o que naquele momento estiver motivado a fazer ou não, ora bolas!
Com 52 anos, já com tempo de serviço legal para aposentadoria, fui obrigado a esperar mais 3 para poder completar os 55 anos exigidos pelas novas leis de FHC e Lula. E, vou logo avisando, não gosto daqueles “conselhos”: puxa Mozart você é muito novo, não pode ficar sem fazer nada, você vai logo se cansar, cuidado com a depressão. Ou ainda: é bom pelo menos uma ocupaçãozinha. E vai ficar sem fazer nada? Não vou responder como um amigo barbudo, aposentado do BB, (não é o amigo-irmão Capiá), que foram lhes dar conselhos semelhantes e ele simplesmente mandou tomar... Vocês sabem onde. Gente, favor em, não estou na inutilidade não, agora sou merecedor dos meus feitos e dono do meu realizar ou não. “Desejo” sim é estressar de não ter stress.
Respeito e admiro o afortunado que não sabe viver sem ocupação, que vai morrer trabalhando. Assim são muitos. Se fizer bem, ótimo, continuem. Eu não! Se aposentar já arrastando os pés, vestir o pijama e esperar a morte chegar, tô fora! Quero mais é vadiar, brincar, pescar, andar e correr na beira mar, pedalar, viajar, curtir meu lar, minha esposa e meus dois filhos, meus amigos, ler um bom livro, boiar ao sabor do mar, degustar um bom vinho e charuto, vagar por aí... Ver mais vezes o sol amanhecer e as cores do seu pôr. Contemplar a força e a beleza misteriosa do vai e vem das ondas do mar. Admirar as paisagens verdes ou mesmo secas das terras do meu sertão. Jogar conversa fora com os vaqueiros e o povo sofrido e feliz das nossas caatingas. Subir mais a Serra da Caiçara (Maravilha). Não faltar a Festa da Juventude nem ao Reencontro. Tomar umas e outras nada de socialmente, farrear mesmo! Freqüentar festas! “Viver cada dia como se fosse um prêmio” (J. Luiz Borges). Sentir a minha respiração e perceber que estou vivo! Olhar para trás e me sentir feliz e realizado pelo que fiz. Perdoar a todos e também ser perdoado. E dormir sereno num domingo à noite sabendo que na segunda, na terça... A semana toda o sossego e a quietude me esperam. Quero amar despudorado e perdidamente, ser amado com emoções... Voltar a ser criança. Ser feliz!
Ter somente bons momentos. Disso é feito a vida. Só de momentos. (Borges) .

Como disse Francisco Xavier: “que eu não perca a beleza e a alegria de viver, que eu não perca a vontade de SER GRANDE, mesmo sabendo que o mundo é pequeno.... E, acima de tudo, que EU JAMAIS ESQUEÇA QUE DEUS ME AMA INFINITAMENTE.” Mesmo eu sendo um grande pecador.
E tem mais, meus sonhos, futuras realizações e meu aprimoramento pessoal (mesmo no prazeroso ócio) continuam em andamento. Tenho muitas esperanças!
Se perguntarem por mim, saibam que estou bem.
Tudo isto posto, até acontecer um novo desafio de labuta. Neste caso, pego a lida e recomeço como se tivesse meus 20 anos.
“Aos meus amigos um forte abraço, mesmo sabendo que um dia meus braços estarão fracos...”
“Mesmo porque, nada me garante que estaremos vivos amanhã de manha'' (Xavier e Borges.)



Tô de olho!
Fui!
E badadí e badadá.

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