Em duas crônicas de minha autoria, “Naquela Mesa” e “Lérios de um Palrador” existem duas passagens onde sou vítima do beliscão. Na primeira, de minha mãe, aquele beliscão pra valer mesmo e na segunda de minha irmã Nena. Um beliscão leve com objetivo mais de chamar a atenção.
Quando escrevia aquelas crônicas me despertou escrever algo mais sobre o “mau comportamento” dos filhos e as punições aplicadas na época.
Existiam o cocorote, cascudo ou croqui, palmatória, puxão de orelhas, beliscão, a surra na base do cinturão e o ficar de castigo. Tudo dependendo do tamanho do “mau feito” do filho. Bom ou ruim? Correto ou errado? Ações essas, hoje censuradas nos conceitos da pedagogia e psicologia modernas. Mas o certo é que meus pais e os que conheci, instruíram seus filhos dentro de uma disciplina rígida onde se valorizava o caráter, a honestidade, o respeito aos outros e o comportamento condizente com os bons costumes e a cultura da época. Quando se cometia alguma travessura lá em casa, podia se preparar para receber de imediato o castigo: puxão de orelha, beliscão e se a falta fosse maior, maior ainda seria o corretivo sempre acompanhado de um sermão. Recebi sim castigo de sentir dor e chorar com soluço. Apanhei! Apanhei até por mangar dos outros irmãos que apanharam. Nossos pais não sabiam que um “gato” ou carão às vezes doía mais que uma pisa. Hoje nada a reclamar. Só agradecer. Meus pais não completaram o primário, mas deram um show criando, instruindo e formando oito filhos.
E atualmente? Os leitores devem conhecer muitos pais que não impõem limites aos seus filhos. Ao contrario, quando fazem alguma traquinagem até acham graça e deixam o barco correr. Os corretivos acabaram, mas os problemas de comportamento educacional continuam ou aumentaram. O mundo talvez fosse diferente se os pais zelassem mais pelos filhos e não fossem tão ausentes.
...Deixa para lá...
Quero neste escrito é focalizar o beliscão. Beliscar: apertar fortemente a pele entre os dedos especialmente entre o polegar e o indicador, ou ainda arrancar com as unhas uma pequena porção de qualquer coisa. Beliscão: grande belisco. Os significados do beliscão são vários. Como já citei, tem o de chamar a atenção, o de repreensão, o erótico permitido e não permitido, o do individuo safado, o da moça para o paquera, o do teste de gordura, o de ofender de leve, o da raiva, do carinho, o da morte... Em Moçambique, um beliscão na nádega de uma mulher errada custou à morte violenta a um sul-africano quando o namorado da molestada retribui o “mimo” com sete tiros. Tem também o beliscão amistoso. O Adriano centro avante da seleção brasileira ao abraçar seu amigo, o jogador meio campista Stephen Appiah da seleção de Gana, aplicou-lhe um beliscão no seu traseiro, isto pouco antes do jogo entre as duas equipes começar.
Tem o beliscão da realidade fatal. Vejamos: Uma mulher ficou muito aborrecida porque o marido, espremido no elevador contra uma morena gostosíssima, estava visivelmente satisfeito. De repente a morena virou e deu-lhe um tapa e disse:
- Isso é para você aprender a não beliscar moças!
- Quando o casal saiu do elevador, o homem disse à esposa:
- Mas eu não a belisquei.
- Eu sei - disse ela.
- FUI EU!
Beliscão bissexual.
O matuto cabra macho, na parada gay no Rio. Conta ele: ...Quando decidi voltar pra casa, passei diante de uma linda morena, acompanhada de uma não menos atraente loura, que certamente estavam ali defendendo orgulhosamente a causa colorida. Confesso ter admirado respeitosamente a beleza da moça de cabelos pretos. Percebi que a loura não gostou muito de minha atitude, mas não pude deixar de passar bem próximo ao casal, já que estavam encostadas em meu carro. Qual não foi a minha surpresa quando, ao pedir-lhes licença para entrar no carro, a primeira tascou-me um beliscão em local inadequado e disse: desculpa foi uma recaída. Entrei no carro, dei um sorriso meio sem graça e até agora não sei se recebi uma cantada ou se foi uma brincadeira. Só porque eu sou da roça???
Tudo tem seu lado bom, ruim, perverso, cômico ou gostoso! Até um beliscão!!
Maceió-AL,Julho/2006
Crônica publicada em 03/07/06
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