Hoje não fiz minha caminhada matinal com meus parceiros. Muito prazerosa é aquela atividade em grupo. A conversa gira sobre tudo, principalmente das últimas notícias, muitas delas apresentadas no Jornal Nacional da noite anterior. Porém outras vezes, há aquela caminhada solitária que faz um bem indescritível. Foi o que aconteceu comigo. Acordei mais tarde, fui caminhar só. E é com a solidão que nós no imaginário, navegamos pelo nosso remoto passado e tentamos prognosticar o futuro. Refletimos sobre nossos erros e acertos na vida. Fazemos um retorno do pensamento sobre nós mesmos e o mundo que nos cerca. Examinamos mais profundamente uma idéia, uma situação, um problema. E quantos problemas resolvemos com o pensar! Enfim: Viajamos... viajamos.
Caminhei 9 km em 1h30m. Foi exatamente o tempo que viajei pelo meu interior, parte do meu passado e por anseios e sonhos que ainda desejo realizar. Idealizei muitas projeções, meditei! É bom e faz bem uma profunda reflexão. Imaginem! Entreguei-me as fantasias e delírios até de ganhar na mega sena. E joguei hein! Foram tantos os devaneios... atendi aos caprichos da minha imaginação. Fui às entranhas do futuro.
Nas minhas andanças pensantes passadas não fui muito longe, permeie mais minha rica e feliz juventude, com passagens pelas molecagens ainda no Colégio Moreira e Silva de onde me veio a lembrança do meu amigo e colega, o saudoso Jorge Chagas; quanta inteligência e caráter! Igualmente lembrei-me muito do meu tempo de faculdade, ou tempo bãoo!
Perpassei pelas situações maravilhosas na minha vida. E como foram muitas! Porém vieram também minhas situações vexatórias ou até constrangedoras. É comum as pessoas contarem sempre as coisas de suas vidas que fizeram sucessos, que foram engraçadas, que saíram “ganhando” etc. . As afrontantes eles só contam de terceiros. Não sou diferente. Mas hoje resolvi contar algumas (as mais leves) que me colocaram em situação vexante.
Ano de 1963, meus irmãos Márcio, egresso do internato do Marista e Nena interna no Colégio S. Sacramento. Foi o ano em que pela primeira vez viajei a Maceió, tinha 11 anos, estávamos passando em frente ao Cine São Luiz, rua do comércio (hoje uma loja) nosso irmão Chico Paz, dirigindo o Jipe de papai, uma colega de Nena ao lado do carona, eu e Nena e mais uma colega espremidos no diminuto banco de trás. De repente vejo a linha que era ainda dos bondes, imaginei ser de trem, nunca tinha visto um e ansioso para ver, não tive conversa perguntei:
- Nena a que horas o trem passa por aqui?
Ela mocinha, com as colegas da capital sentiu-se envergonhada da pergunta do irmão matuto, discretamente tacou um beliscão. Não foi daqueles que mamãe dava, foi só um aviso. Ruborizado Calei-me!
Depois ela explicou: ali nunca passou trem.
Era um domingo à tarde, papai nos incentivou a ir ao cinema. Lá fomos eu e Múcio. Cine Alvorada, em Santana, até então só exibia uma sessão por vez. Cine São Luiz, Maceió, mal entramos o filme acabou. Muita gente saindo, Múcio mais sabido, me cutucou, nos levantamos e acompanhamos aquele mundão de gente, a saída era por trás. Lá fora Múcio disse: Não observei, entramos no fim do filme! Quando chegamos em casa papai estranhando perguntou o que houve. Respondi: entramos no fim do filme. Ele fez uma cara de interrogação e um ar duvidoso, deu um sorriso e falou: vocês entraram na primeira sessão...
Em Maceió, Morávamos em uma casa na Rua da Alegria, hoje Joaquim Távora. Na época em Santana, short, bermuda, camiseta, não se usava em público. Ficar sem camisa dentro de casa nem pensar, sandália havaiana era coisa de “veado”. Papai não permitia. Calção de banho era quase um bermudão.
Em todas as praias de Maceió a freqüência só ia até ao meio dia, uma hora da tarde não tinha uma alma mais nas praias. Era o costume. Pois bem, tio Wilson nos deixou na praia da avenida. Era nosso primeiro banho de mar em nossas vidas. Eu e Múcio só de calção o restante da roupa ficou no carro que viria nos apanhar próximo ao meio dia. Ávidos pelo banho, caímos na água e esquecemos o tempo. Quando nos demos conta quase não tinha mais ninguém na praia. Passava das 12 horas e nada do tio vir nos buscar. Lá pra uma hora da tarde, a gente com fome, sede e imaginando ser proibido andar de calção nas ruas, ficamos agoniados. O “sabido” Múcio então se dirige à Cosme-Damião (dupla de policial da época) que se encontrava na calçada, explica o que aconteceu e literalmente pede:
- Seus guardas deixem à gente ir pra casa de calção!
Os leitores precisavam ver a cara dos policiais olhando para os dois matutos.
Essa foi em 1974 em Recife. Estávamos eu, Tamanquinho, Carlos e Moacyr colegas da faculdade e os Professores Aylton Pinto e José de Carvalho. Fomos almoçar diferente em um restaurante em Boa Viagem. O local estava lotado, era um salão retangular, grande e fino. Os garçons circulavam céleres para dar conta dos pedidos. As toaletes ficavam ao fundo, contrario a cozinha. As pias dentro do salão bem visíveis de qualquer parte do ambiente. Após conseguirmos uma mesa próxima às toaletes, todos sentaram e eu me dirigi ao lavatório. Ao lado, a máquina de enxugar as mãos. Após me lavar olhando para meus companheiros, passei a mão na parte inferior do equipamento procurando a ponta do rolo de papel. Não achei. Abaixei-me, não vi nada. Olho ao redor, um garçom me fita um pouco distante e com o dedo indicador faz o gesto horizontal de vai e vem sinalizando que tem sim o papel na máquina. No meu entender ainda li nos seus lábios a expressão se abaixe! olhe que tem. Verifiquei novamente e com meu indicador fiz o sinal de não. Eu já abusado, vi que o mesmo se aproximava. Indaguei-o: quer me fazer de besta é? Seu...
Ele abeirando-se ao equipamento aperta um botão. Ouço um barulho... Pronto! Acabei de conhecer o secador de mãos a vapor.
Maceió
Cronica publicada em 23/07/2006
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