Clima e crise global de alimentos

Paiva Netto

Nos últimos meses, a forte onda de calor e incêndios que atingiu a Rússia, além das chuvas que castigam o Paquistão com enchentes devastadoras, pôs as Nações Unidas em alerta para o risco de uma nova crise mundial de alimentos.
As péssimas condições climáticas na Ásia causaram a quebra na produção de cereais nesses territórios, com reflexo em boa parte do planeta. No caso da Federação Russa, a terceira maior exportadora de trigo do mundo, a situação afeta diretamente o estoque de populações importadoras desse cereal. Por conta disso, já se tem conhecimento de desordem popular no Egito e na Sérvia. Para piorar, o governo russo, preocupado em atender o mercado doméstico, prolongou até 2011 edital que proíbe a exportação de trigo.
Com isso, a consequente demanda mundial pelo produto tem elevado o preço. Protestos violentos contra o aumento no valor do pão em Moçambique – um dos países mais pobres da Terra – provocaram, recentemente, 10 mortes.

REUNIÃO DE EMERGÊNCIA
Apesar de alguns analistas afirmarem não haver motivo para desespero – fundamentados nos atuais seguros níveis de produção e estoque de cereais em todo o orbe – a ONU marcou para o próximo dia 24, em Roma, na sede da FAO (órgão das Nações Unidas para assuntos relacionados a alimentação e agricultura), reunião extraordinária com técnicos e diplomatas a fim de avaliar a gravidade da crise.

CELEIRO DO MUNDO
Nesse turbulento cenário, o Brasil surge como forte opção de abastecimento. Consoante reportagem de Danilo Macedo, da Agência Brasil, “os problemas climáticos que estão afetando seriamente o continente asiático devem aumentar a demanda internacional por produtos brasileiros. Em relação à soja, o produto mais comercializado no mundo, o secretário de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Célio Porto, disse que o Brasil já atende 23% do comércio internacional e deve ampliar essa participação”.
Vale ressaltar que não somente o clima, mas o próprio crescimento do consumo de alimentos nos países desenvolvidos, é apontado como um dos vilões da crise. Com tudo isso, está havendo uma procura maior por produtos brasileiros.

ESTRATÉGIA DE SOBREVIVÊNCIA
De tempos em tempos, tais crises rondam o planeta, aumentando a fome de tanta gente. Sem deixar de trabalhar pelo justo progresso de nosso país, não percamos de vista o valor do espírito solidário, que deve acompanhar as ações terrenas.
No fim da década de 1970, ao reiterar a urgência da Economia da Solidariedade Humana, comentei a respeito do desastre que constitui a sua falta no campo econômico. Sem o seu exercício, será impossível estabelecer uma Estratégia de Sobrevivência para muitos povos.
Uma atitude simples e providencial começa em nossas próprias casas quando combatemos qualquer tipo de desperdício. Estou sempre recordando ao pessoal por onde passo: a migalha de hoje é a farta refeição de amanhã.

ESPERANTO
Por iniciativa do médico esperantista Sandor Monostori, a matéria “O coração que pulsa pela Humanidade há 60 anos” – que destaca as seis décadas de ação socioeducacional da LBV no Brasil e no exterior – foi publicada na revista “Esperanto sub la Suda Kruco” (“O Esperanto sob a Cruz do Sul”, em tradução livre), órgão oficial das associações de Esperanto da Austrália e da Nova Zelândia.
Grato, dr. Sandor. Estamos juntos no sagrado ideal da Fraternidade. Alziro Zarur (1914-1979), com acerto, assim dizia: “A LBV é o Esperanto das religiões, como o Esperanto é a LBV das línguas”.

José de Paiva Netto é jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br — www.boavontade.com

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