ESCORÇO BIOGRÁFICO

Djalma Carvalho

Em meados de 1952, conheci Albertina Nepomuceno Agra, excelente figura humana que trabalhava nas Casas Nepomuceno, cuja filial funcionava embaixo do chamado Sobrado de Seu Ulisses, esquina do quarteirão que não mais existe no centro comercial de Santana do Ipanema.
Ali na filial, meu tio Manoel Constantino Melo, que gerenciava a sortida loja de tecidos, me fez aprendiz de balconista, levando-me a trabalhar aos sábados, dias de feira na cidade. Trabalhava para fazer jus àquele valioso trocado que me permitia assistir às sessões de cinema durante a semana. Ou no Cine Zé Filho ou no Cine Glória.
Sobrinha de Fernando Nepomuceno, proprietário da empresa-matriz, Albertina era experiente balconista, pessoa amiga e conselheira dos demais empregados da loja. Desde aquele tempo, sou seu amigo e incondicional admirador. Quando retorno à minha cidade, em visita ou em festa, faço questão de abraçá-la.
Desde aquela época, Albertina dedicou-se ao teatro amador, tendo participado, com excelente desempenho no palco, da encenação de diversas peças de renomados autores nacionais, com apresentações até no Teatro Deodoro, em Maceió. Hoje é ela referência nesse particular, sendo chamada carinhosamente de Dama do Teatro. Faz da preocupação com a cultura e com a educação o salutar exercício do seu dia a dia na cidade, ainda que veja aproximar-se a privilegiada fase outonal da vida. Diz-me, em frase sábia e bem elaborada: “Aprendi que o primeiro passo para se chegar a algum lugar é colocar o coração nesse lugar.”
Recebo dela, agora, um exemplar encadernado do opúsculo Escorço Biográfico do padre Francisco José Correia de Albuquerque, missionário apostólico, que em 1787 chegou ao arraial que então existia na fazenda de Martinho Vieira Rego, situada à margem esquerda do rio Ipanema, e ali conseguiu levantar uma capela sob a invocação de Santa Ana, que seria definitivamente a padroeira do lugar. Pronto. Estava fundada Santana do Ipanema, primitivamente chamada de Ribeira do Panema.
O escritor e pesquisador Tobias Medeiros, em seu livro A Freguesia da Ribeira do Panema, edição de 2006, página 30, ressalta que esse prodigioso missionário era detentor de dons sobrenaturais, fazia milagres, profetizava e levitava-se.
Segundo o seu biógrafo, o missionário nasceu em Penedo, provavelmente em 1757, e veio a falecer em Bezerros, Pernambuco, em 1848, tendo sido o primeiro vigário da paróquia de Santana do Ipanema, criada que fora em 1836. Construído em 1938, o tradicional e mais antigo grupo escolar da cidade tem, com toda justiça, o nome do padre gravado no frontispício.
Referido livreto foi reeditado em 1958 pelo então prefeito, Dr. Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos, que assim se expressou no início do prefácio: “Pouco ou quase nada se sabe acerca da fundação de nossa cidade. Confesso que a minha geração abria os olhos à vida sem conhecer a história de nossa terra.”
Trata-se, afinal, do primeiro documento a contar a história da cidade, escrito em 1915 pelo padre Teotônio Ribeiro (1855-1929), homem reconhecidamente culto, natural de Traipu e 15º vigário da paróquia de Santana do Ipanema, no período de 1884 a 1888.
Maceió, setembro de 2010.

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