Com bolo, sem vela e no sinal amarelo, Santana aniversaria...

Manoel Augusto


Freguesia de Santa Anna da Ribeira do Panema ou simplesmente Santana do Ipanema, eis o nome mágico que faz tremer os corações dos santanenses, principalmente daqueles que vivem a quilômetros, léguas ou luas de distância.
Então, essa terrinha quente e gostosa protegida de Santa Ana está mais uma vez aniversariando, são 138 anos de emancipação e trabalho, 138 verões e entressafras, quase 138 invernos e umas poucas boas safras, porém, são 138 anos de esperanças.
Pela idade humana nossa cidade poderia se aposentar, não obstante, para sua gloriosa existência e para o futuro das suas gerações, Santana é apenas uma jovem debutando para uma longa vida e, por suas ruas, caminhos e praças muitas gerações correrão, uns na “busca do ouro”, outros no “oribusca”, “pega pega”, chicote queimado e tantas brincadeiras dos idos, anos dourados da criançada ...
Que diriam nossos antepassados se voltassem às terras da velha Fazenda Picada? Talvez ficassem pasmos diante da majestosa torre da matriz, admirados diante da Escola Superior do Sertão, quem diria, aquele pequeno núcleo iniciado no século XVIII é uma cidade universitária! Sem dúvida ficariam felizes diante de jovens tão bonitas: suas netas, bisnetas, tetranetas e por aí vai...
Mas, creio, a felicidade duraria pouco, quando eles vissem a performance do Ipanema (falo dos dois...) e do riacho Camuxinga, vias por onde o lixo abunda, quando outrora foram as razões da sua fundação. Estariam orgulhosos da grande prole que geraram? Em seus tempos, esta região catingueira possuía uma densa flora de médio porte, composta de craibeiras, baraúnas, pau d’darcos, paus ferro, angicos, aroeiras, imburanas, umbuzeiros, catingueiras, etc...etc... de até 15 metros de altura. A fauna era variada: veados (falei veados...), raposas, tatus, porcos do mato, cobras, tiús, onças, papagaios, araras, periquitos, galos de campina, rolinhas, asas brancas, nhambus, perdizes, juritis e quanto mais a nos colorir a visão, até o final dos anos cinquenta, pois, daí pra frente, a intensidade dos desmatamentos e as caçadas predatórias levaram à extinção absoluta da maioria das espécies citadas.

As árvores outrora frondosas são chamadas deselegantemente de “pé de pau” e os animais silvestres remanescentes são atropelados nas estradas ou caçados ferozmente, aos gritos de “mata aquele bicho”!!! Não tenho dúvida de que João Carlos de Mello, Martins Vieira Rego, Padre Francisco Correia, Martinho Rodrigues Gaia, os seus descendentes e os descendentes dos seus descendentes, ficariam pasmos quando dissessem: “_Vai ali, menino, tirar umas estacas de cerca e trazer lenha pra queimar!” Recebendo a resposta: “_Aonde, padim, aqui num tem mato... qué qui vá buscá no Ceará? Lá ainda tem um restim. É uma caça pru armôço? Ah, só si fô arubú, as outras mataram tudo!” “_ Entonsses vamo tumar banho no rio e trazer uns potinho dágua pro gasto!”, “_Cuma, lá num tem água, só lixo e uma gosma preta que nóis num sabe de onde vem...”.
Pois é, minha gente, a decepção seria completa... Porém, caros conterrâneos, ainda temos tempo de recuperar “um pouco” nosso espaço natural. Vamos preservar algumas pequenas reservas em torno de nossa cidade e criar um programa de reflorestamento.
Um bom e variado canteiro de mudas de espécies nativas e outras adaptáveis, seguido de uma campanha de educação ambiental para recolher o lixo que transborda nos nossos rios/riachos e periferia, promovendo o seu reaproveitamento (reciclagem e compostagem) e mais do que depressa colocar em funcionamento o sistema de esgotamento sanitário que foi enterrado em nossas ruas e continua envelhecendo sem viver.
Essas providências podem minimizar o degeneração natural em que vivemos. As padarias, as olarias, a construção civil, as movelarias e as fazendas demandam lenha, madeiras de lei e forrageiras, respectivamente. As nossas terras são propícias, falta incentivo e iniciativa, vamos à luta para recuperar um pouco do que destruímos, para não inviabilizarmos a vida das gerações futuras. Neste dia de aniversário deixo aqui este apelo que é de muitos sertanejos e os cumprimentos a todos os santanenses pela “belíssima festa”!!!...

maas

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