ZÉ PINTO, CADÊ AGILDO
José de Melo Carvalho
O termo circo (em latim, “circus”) significa circunferência. O circo, arena, anfiteatro com palhaço e tudo é formado às vezes por famílias e aderentes ou como os grandes que se transformam em empresas de negócios. Reúnem em seu elenco, além dos animais, artistas de diferentes peculiaridades e características, como acrobatas, contorcionistas, malabaristas, equilibristas, ilusionistas, entre outros e os famosos palhaços para a alegria da criançada nas matinês e nas noitadas dos adultos. Possuem geralmente o picadeiro circular com os assentos ao longo do seu entorno, o palco para as apresentações dos artistas, coberto por lona, com entrada e cerca de proteção.
Quase todas as civilizações antigas, como os chineses, os gregos, os indianos e os egípcios já praticavam a arte circense há centenas de anos. Conta a História que o primeiro a se formar foi durante o império romano, como o famoso “Circus Máximus”, que teria sido inaugurado no século VI a.C., com a capacidade para 150 mil pessoas. A atração principal eram as corridas de carruagens, lutas de gladiadores, apresentação de animais selvagens e de pessoas com habilidades, como os engolidores de fogo. Destruído por incêndios, foi substituído pelo Coliseu que foi construído entre 79 d.C. e 80 d.C., cujas ruínas compõem o cartão postal de Roma.
Após esses dados históricos, vejamos nossa época de criança e adolescente em Santana do Ipanema. Recebia a cidade, regularmente, circos, tantos os de pequenos portes, como o de Zé Bezerra com suas famosas rumbeiras, como os de maiores portes com acrobacias e diversas outras atrações. Era uma festa e tanto na cidade a chegada desses circos. Tudo começava com um desfile pelas ruas com carros, animais, bailarinas e os palhaços pernas-de-pau. A moçada ficava maravilhada.
No primeiro momento, devia-se saber o valor da entrada, depois, o problema principal era onde arranjar o dinheiro. Outros mais espertos burlavam a segurança e “maiavam” (entravam escondidos por debaixo do pano) sob o perigo de levar uma puxada de orelha ou uma dentada de um cachorro valente.
Por essa época, existiam assim como hoje as turmas de rapazes e moças que se divertiam com as brincadeiras dos grupos formados, inclusive com os apelidos de alguns deles que não apreciavam muito as chacotas. Pois bem, os palhaços satisfeitos ficavam quando alguém, reservadamente, a eles entregava relação dos que não gostavam de apelidos, para com eles praticarem algum tipo de brincadeira ou gozação.
A marcha-frevo Evocação nº 1, do famoso compositor pernambucano Nelson Ferreira, lançada em 1957, era então a mais cantada em carnaval. Referia-se a Felinto, Pedro Salgado, Guilherme, Fenelon, senhores fundadores de blocos carnavalescos de Recife e Olinda da década de 1920. Inspirado nela, o palhaço compôs a seguinte paródia para ser cantada na próxima apresentação do circo:
“Zé Pinto, cadê Agildo, chame logo o maquinista e vamos à estação; Josa é a maquina, Genival o condutor, Henaldo é o foguista e guarda-freio é Zé Yoyô; com a luz apagada, a turma agarrada passa a brincar de trem; Zé Terreiro chega afobado, trazendo João Babado agarrado com o seu pão; vamos, vamos, minha gente, que o Carranca já chegou; Bolinha está por lá, Djalma a gaguejar, e o trem já vai parar”.
No outro dia, foi o maior rebuliço na cidade. “Quem foi o gaiato que informou os apelidos dos colegas ao safado do palhaço?”, perguntava um. Outro dizia que fora fulano de tal, e assim a gozação seguia seu rumo. “Vou dar uma tapa no sem-vergonha do palhaço”, afirmou outro. Nada aconteceu. A brincadeira divertiu muita gente, e ficou por isso mesmo.
Era comum esse tipo de zombaria. O autor do presente texto e sua turma também foram alvos de comediantes de circos. Tudo bem.
Maceió, março de 2015.
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