ZÉ GOITINHO E O HOMEM DO TEMPO

Fábio Campos

Por três dias incluindo hoje, estivemos participando de uma capacitação para conselheiros municipais da Secretaria de Meio Ambiente para os municípios sertanejos na UNEAL.

Um filme passou em nossa mente ao lembrar, das inúmeras capacitações, seminários e palestras que já contabilizamos, são muitas. E recordamos meio que enfastiado das mesmas formalidades que permeiam a todos esses eventos: Recepção, inscrição, dinâmica, cofee break, etc.

Recordamos de uma delas acontecida neste mesmo local, de quando ainda éramos estudantes do curso de Zootecnia (2000). Tivemos a incumbência de arregimentar uma certa quantidade de agricultores, para participar de uma palestra com o título: “Chuvas e Estiagem no Semi-Árido Alagoano” proferida por um baluarte no assunto, o senhor Luiz Carlos Molion.

E Zé Goitinho, uma figura exótica, lá do sítio Rancho dos Ferreira do município de Senador Rui Palmeira, a nosso convite estava ali pra participar da palestra. Se aproximou da moça que recepcionava. Dela recebeu um crachá, uma pasta de elástico contendo, caneta, bloco de anotações e memento do evento. E por ela, também foi sabatinado pra preencher com seus dados a ficha de inscrição:

-Como o senhor se chama?

- Minha “fia”! Fui batizado José Ferreira da Silva, mas nesse mundo de meu Deus ninguém me conhece por esse nome. Todo mundo só me conhece por Zé Goitinho.

-Qual é sua formação?

-O quê?
-O senhor terminou algum curso?

-O Fábio já me "trôxe" pra tanta conversa dessas que eu tenho um bisáco cheio de "déploma" em casa!

Passada essa parte, teve início o evento. Naqueles meios o palestrante que mantinha a platéia atenta e em silêncio, achou de fazer a seguinte afirmação:

-...Vocês fiquem sabendo que os próximos quatro anos será de muita seca! Nessa região, não vai chover nada nos próximos quatro anos!

Isso causou o maior reboliço no meio da platéia que na sua maioria era de homens do campo. E Zé Goitinho, levantou-se da cadeira de mão levantada pedindo pra falar, e mesmo sem ter sido autorizado falou assim mesmo:

-Moço o senhor vai me desculpar que eu sou um homem matuto, sem leitura. Mas “derna deu” criança que ouvi os mais velhos dizer, que meu “padinho” Ciço do Juazeiro dizia: “Quando o homem quiser saber mais do que Deus; Ele muda os tempos.”

Pediu licença pra sair e foi embora.


Fabio Campos 23/07/2010 É Professor em S. do Ipanema – AL.
Contato: fabiosoacam@yahoo.com

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