Acabo de receber, com a afetuosa dedicatória da amiga Maria Duarte Araújo, um exemplar do livro intitulado Vinicius Ligianus, A Face Poética de Antônio de Freitas Machado. Lido sem pressa, deliciei-me com os belos poemas e com a bem cuidada prosa que, por sua vez, dá ao livro a categoria de obra biográfica.
Entendo o lirismo poético como expressão da arte na exaltação de sentimentos e como maneira apaixonada de louvar as belezas da natureza, do viver, do sentir, do amar. Parece-me que romantismo e lirismo se completam, caminham juntos como sentimentos amorosos, impetuosa paixão, sensibilidade, emoção e imaginação fantasiosa, ferramentas utilizadas pelos poetas e escritores na produção dos seus textos literários.
Vejamos, a seguir, algumas composições pinçadas do livro que colocam o poeta nos pilares desses dois estilos literários:
“E o barqueiro, vogando, há de cantar
As modinhas regionais do meu sertão,
Que o filho das águas é poeta,
E o grande rio, a sua inspiração.”
“A lua desce do céu
Pra no rio se banhar,
E boia, alegre, nas águas,
Passa horas a brincar!”
“Meu pensamento voou
Pra bem longe da falua,
Foi brincar no firmamento,
No meigo colo da lua!”
“Que eu te adoro querida
Que tu és a minha vida.
Que és a minha paixão!
Que vives dentro, em meu peito,
Bem dentro do coração.”
Coube à Dra. Lúcia Maria Vieira da Rocha a apresentação do livro, redigida em texto escorreito e culto. Disse ela, com propriedade e competência, entre outras afirmações: “...embrenhar-se na produção textual de uma pessoa é embrenhar-se no seu mundo: o tempo em que viveu, as pessoas que influenciou e que o influenciaram; suas crenças, valores, saberes; o que amou, por que lutou.”
Lá para os anos de 1955 ou 1956, salvo engano, o diretor do Ginásio Santana levou uma delegação de alunos a Pão de Açúcar, para o garboso e cívico desfile naquela cidade. Na banda do Ginásio Santana, coube-me, como aluno, a tarefa de tocar tambor. Antes ou após o desfile, fomos recebidos nas dependências do Ginásio Dom Antônio Brandão. Ainda que adolescente, fiquei impressionado com o discurso de saudação aos visitantes, pronunciado pelo professor Antônio de Freitas Machado, diretor do educandário.
Grande orador. Homem honrado, íntegro, emérito educador, extraordinária cultura, poeta, empreendedor, sempre preocupado com o progresso de sua cidade. Com certeza, seu nome há muito tempo deve estar inscrito, com toda justiça, no portal histórico de Pão de Açúcar, em sua homenagem.
Na verdade, o poeta exaltou sua terra, sua gente, seus valores e, em seus poemas, muito cantou a mansidão das águas do rio São Francisco. Carregado de amor telúrico e de fé em Deus produziu o poema Cristo Redentor, monumento inaugurado no morro do Cavalete, em Pão de Açúcar, em 29 de janeiro de 1950.
Com raízes familiares fincadas na cidade de Pão de Açúcar desde a sua fundação, não esqueceu ele o original nome da cidade – Jaciobá (espelho da lua) – dado pelos indígenas, escrevendo: “Como filho dessas plagas sertanejas, sou partidário sincero da volta do antigo nome – Jaciobá, muito mais significativo do que Pão de Açúcar. Este último apenas nos recorda a denominação de uma Fazenda, em zona que, por sinal, não há cana e onde jamais se fabricou o antigo pão de açúcar.”
Como introdução à leitura do livro, há dois belos textos assinados pelo neto Álvaro e pelo filho Netônio. Ainda que de conteúdos naturalmente laudatórios, os textos têm a moldura do discurso fluente e culto. Merecida, sem dúvida, a homenagem que ambos, orgulhosamente, prestaram a Antônio de Freitas Machado.
Disse Álvaro: “Eu me fascinava, ouvindo-o discursar. Uma eloquência quase sempre isenta de inquietações, mas firme quando defendia princípios.”
Disse, afinal, Netônio: “Meu pai celebrava a vida nos seus versos; neles saudava a natureza; neles carpia suas angústias, louvava o amor, bendizia a existência, confortava-se com a esperança e neles proclamava a sua inabalável fé em Deus.”
Parabéns, portanto, aos descendentes de Antônio de Freitas Machado (1895-1970) pela oportuna ideia de registrar, em livro, a vida e a obra do ilustre professor e poeta de Pão de Açúcar.
Maceió, fevereiro de 2015.
Comentários