DISCURSAR EM COMÍCIO, JAMAIS!

Djalma Carvalho

Não obstante passados alguns meses da recente eleição para presidente, senadores e deputados, ainda avultam ressentimentos no seio dos perdedores e dos frustrados eleitores com o resultado das urnas.
Nas chamadas redes sociais, por exemplo, circulam toda espécie de contestação e críticas desrespeitosas aos vencedores e às autoridades constituídas do país. Percebe-se, nas cartas-abertas, nas maliciosas notícias, o sentido derrotista das matérias postadas, até saudosista da ditadura militar. Verdadeira avalanche.
À população desinformada, ao povo ordeiro e trabalhador, a mídia a serviço da classe alta brasileira e da oposição prega a cultura e a política de terra arrasada. Proclama-se o quanto pior, melhor.
O que o país, afinal, mais precisa doravante é de paz, ordem e trabalho, para continuar a crescer e oferecer mais emprego, renda, saúde, educação e segurança aos brasileiros. Nada de baderna e vandalismo, porque não existe a possibilidade de terceiro turno eleitoral. A eleição passou. Respeitemos a vontade da maioria.
Ao tratar de pleito eleitoral em país democrático, com eleições livres realizadas de dois em dois anos, lembrei-me da figura alegre e simpática de “Biquinho Falador” (não sei o verdadeiro nome dele), que era proprietário de bar na periferia de Santana do Ipanema.
Pessoa muito conhecida e querida na cidade, “Biquinho Falador”, então, desdobrava-se no bom atendimento à clientela. Sorridente e alva dentadura à mostra, ele abraçava um cliente aqui, outro acolá. Vida de muita luta e trabalho.
Brincalhão, espirituoso, tinha na ponta da língua uma piada ou uma anedota, tornando o ambiente no bar cada vez mais agradável e acolhedor. Extrovertido, gargalhava, falava alto. Parecia um papagaio falador.
Tinha família numerosa, de muitos parentes, muitos irmãos, tios, sobrinhos e primos. O sobrenome denunciava a região de origem da família. Além da sua simpatia, essa condição despertou interesse entre os líderes políticos da cidade, no sentido de convidá-lo para disputar uma cadeira no legislativo municipal.
“Biquinho Falador” a princípio ponderou, rejeitou a oferta, mas terminou por aceitar o honroso convite. A intenção das raposas políticas, na verdade, era a de que, se ele não conseguisse os necessários votos para a eleição, pelo menos contribuiria para a formação do conhecido quociente partidário. Certamente isso deveria acontecer.
No primeiro comício eleitoral, lá estava ele bastante nervoso no iluminado palanque, entre os políticos, aguardando, como candidato, seu grande momento de falar aos eleitores.
De repente, o locutor do comício entrega-lhe o microfone.
Pronto! Cadê o homem tagarela do bar?
“Biquinho Falador”, coitado, emudecera. Esquecera o discurso.
Chateado com o súbito e avassalador branco na cabeça, imediatamente devolve o ainda aberto microfone ao locutor, dizendo-lhe: “Toma esta bosta aqui, hoje não falo nada!”
Maceió, março de 2015.

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