MENSAGEM SECRETA

Djalma Carvalho

Acabo de ler no jornal virtual, Conversa Afiada, trechos da palestra proferida por uma autoridade, dita conhecedora do povo brasileiro, sobre o tema “Diferenças Raciais”.
O ilustre palestrante, certamente sociólogo, biólogo ou naturalista, disse uma obviedade: “Todo brasileiro tem um pouco de sangue branco, um pouco de sangue negro e um pouco de sangue índio.”
Disse, ainda, o palestrante que o jeitinho brasileiro vinha dos nossos indígenas, também deles a curiosa mania de tomar banho todos os dias.
Na verdade, do branco colonizador, do negro africano e do índio nativo, herdamos o fantástico caldeamento de raças, a inconfundível miscigenação do povo brasileiro, que gerou a “moreninha sestrosa” e o “mulato inzoneiro” do genial samba “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso.
O colonizador em aqui chegando, já encontrou os povos indígenas como donos das terras que ocupavam, por força do direito congênito e originário, consagrado, posteriormente, pela Coroa Portuguesa em Alvará Régio de 1680. Depois daí vieram outros ordenamentos jurídicos de resguardo desses direitos territoriais que continuam assegurados no texto da Constituição brasileira.
Com o decorrer dos séculos, em contato com os colonizadores, com os bandeirantes e com os povoadores das terras doadas em sesmarias, foram os índios, paulatinamente, empurrados para o interior do território nacional, localizados, hoje, em biomas, concentrados, sobretudo, na Amazônia Legal.
Entretanto, a terra indígena é inalienável e indisponível, com direitos imprescritíveis. Nessas terras, o índio vive preservando seus usos, costumes, tradições, mitos, ritos e crenças. Os indígenas têm seu dialeto original, e uma mistura com a língua portuguesa, para comunicar-se com o mundo civilizado.
A propósito desse assunto, a seguir, uma engraçada historinha encontrada à página 295, do livro Sapiens, de autoria do doutor historiador israelense Yuval Noal Harari.
Em 20 de julho de 1969, domingo, à noite, assisti pela televisão à chegada do homem à Lua, levado pela Apollo II. No livro citado, o autor trata dos astronautas Neil Armstrong e Buzz Aldrin, americanos, responsáveis por esse feito histórico.
Antes da expedição à Lua, os astronautas treinaram, durante meses, num deserto no oeste dos Estados Unidos, em terreno muito parecido com o solo lunar. Sendo área habitada por povos indígenas, com suas crenças e mitos, um velho índio, perguntou-lhes o que iriam fazer na Lua.
Depois da resposta, o índio pediu-lhes que levassem uma mensagem aos sagrados espíritos que, na sua crença, habitavam a Lua. Mensagem secreta, codificada no dialeto indígena, cuidadosamente anotada pelos astronautas, levada à Lua sem conhecimento do significado.
De retorno da bem sucedida viagem à Lua, os astronautas procuraram um indígena no mesmo campo de treinamento, para traduzir o que continha na mensagem secreta. Dizia, então, a mensagem: “Não acredite em nenhuma palavra que essas pessoas estão lhe dizendo. Eles vieram roubar suas terras.”
Que velho índio sabido, vivido e desconfiado!...

Maceió, junho de 2020.

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