VALDEMAR DE LIMA, O IMORTAL

Antonio Machado

Antonio Machado
O dom de escrever é uma arte que se aperfeiçoa com o tempo (no fazer fazendo), porque talento não se adquire, se nasce com ele, se escrever é uma arte é também dificílima, carecendo sobretudo do domínio do assunto além de bom relacionamento com as concordâncias verbais, que, quando bem colocadas enriquecem o texto literário, caso contrário, tira toda beleza da escrita. Existem verdadeiros literatos autodidatas que escrevem com tanta desenvoltura que invejam aos letrados, e àqueles sequer não passaram de um curso médio, contudo, possuem um talento invejável, não cito alguns, porque já o fiz em outros artigos aqui nesta coluna semanal.
Refiro-me neste presente trabalho a figura de um dos melhores literatos sertanejos que conheci, Valdemar de Souza Lima (1902 - 1987), nesse mesmo naipe cito Dr. Geovan Benjoino, de cacimbinhas, Dr. José Jurandir (saudosa memória), sendo que Valdemar de Lima e Bezerra e Silva, se não cursaram a universidade dos homens foram diplomados na do tempo e o que escreveram nada deixaram a desejar, porque dominavam com facilidade nosso vernáculo. Aí sim, é talento.
O escritor Valdemar de Souza Lima nasceu no dia 20 de fevereiro de 1902, no alvorecer do século XX em Salomé, atualmente São Sebastião sendo o filho do casal José Virginio de Souza Lima e Josefa Leite de Souza Lima, professora estadual. Nos vai e vens da vida, Valdemar não encontrou campo propicio para cursar uma universidade, mesmo sendo possuidor de uma arguta inteligência e dono de um talento admirável redigia textos literários e artigos enxutos e bem feitos. Em vivendo na área sertaneja de Alagoas, Valdemar de Souza Lima vendo e sentindo as agruras do povo sertanejo, e dado seu amor ao próximo, encetou várias campanhas apartidárias em favor dos sertanejos como dois elos, um ligado a agricultura e o outro, a cultura de sua terra, sentia a exemplo do conterrâneo Graciliano Ramos, haja vista, ambos se identificaram na luta dos sertanejos de Palmeira dos índios onde os dois residiam, e seus arrabaldes. Se Graciliano Ramos escreveu 11 livros, Valdemar, escreveu somente 02 porém equivalem aos de seu colega, sem desmerecer o conteúdo extraordinário de Vidas Secas, Memórias no cárcere, Angústia, pois, Lampião e o IV mandamento escritos pela genialidade de Valdemar de Souza Lima, constituem-se obras antológicas que retratam uma época quando imperavam lampião e seus facínoras, era a lei do trabuco.
Os escritos de Valdemar de Lima o credenciaram a uma academia de letras, pois conhecimentos sobejos não lhe faltaram. Homem aclimatado ao sertão que o defendia com garra nos belos artigos que escreveu em todos os jornais do Estado de Alagoas além de outros Brasil afora.
Surgiram, até, a seu filho, Dr. Hugo Lima e sua esposa Dra. Zaida Lima por serem ambos escritores pois trouxeram a verve de seus pais, Dr. Adalberom Cavalcante Lins, a reunirem os artigos esparsos que Valdemar escreveu e foram muitos com a inclusão de depoimentos de quem o conheceu e enfeixarem numa homenagem póstuma a tão ilustre homem das letras, que também foi defensor incansável da preservação da memória de Graciliano Ramos em sua casa museu. Mas somos mortais, e o velho guerreiro cansou de suas lutas tão meritórias, e finalmente no dia 17 de julho de 1987, veio a falecer, deixando seu exemplo e seu legado imortal na perenidade da história.

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