O SERTÃO BRINCOU O CARNAVAL COM CHUVA

Antonio Machado

Antonio Machado


O sertão viveu este ano um carnaval atípico, face as chuvas caídas na região, quando as clarins assinalavam com seus tons estridentes o inicio da festa momesca, nuvens escuras cobriam os sertões das Alagoas, e espargiam a chuva bem fazeja e tão desejada pelo sertanejo, e este caiu na folia com mais entusiasmo e alegria que contagiou àqueles que vieram se deleitar com o carnaval sertanejo. Sentiu-se nas chuvas caídas que se não foram muitas, mas deu para atenuar o calor escaldante que estava assolando a região, e propiciar ao período momesco um carnaval atípico com chuva aumentando ainda mais a alegria dos foliões, mormente a região sertaneja que vinha sofrendo as agruras de uma seca impiedosa está agora vivenciando uma situação mais amena, e pode até que as trovoadas venham puxando o inverno pelas mangas, a exemplo de 1957, que amargava uma seca sem precedentes, a de 1956, que assombrou o sertão, mas quando as trovoadas da segunda semana de fevereiro daquele ano chegaram, foram se acentuando e emendaram com o inverno que trouxe fartura e barriga cheia aos sertanejos. Vê-se já, nas copas das árvores a cigarra com seu canto estridente e agudo, cantando em dueto no prenúncio da quaresma como acertadamente acentua o homem do sertão em cima e de sua experiência, trazendo assim esperanças àqueles que vivem da agricultura e tão esquecidos dos homens de posição, a Emater, orientadora dos agricultores, tendo ressurgido das cinzas, como Félix encastelada, porém não decolou, mas o sertanejo confia no seu trabalho enquanto a esperança é a última que morre. Diante do quadro em tela, o poeta sem métrica, Colly Flores escreveu: “depois do carnaval/o sertanejo ficou cansado,/mas muito mais feliz,/porque o sertão está molhado”.
Sabe-se, entretanto que, o homem é um ser festeiro por índole, dada sua condição social, e o sertanejo insere-se dentro deste contexto em todos os aspectos, e no período momesco, o sertanejo queda seus instrumentos de trabalho e se joga na festa com a família brincando brincar pra valer com respeito, e, sobretudo dentro de sua lhaneza com àqueles que vêem de fora, integrar-se a família sertaneja, e juntos marcam o passo na mais perfeita harmonia, esquecendo-se às vezes, dos espinhos da vida, constituindo-se uma família só na largueza da alma de cada um, haja vista o carnaval ser uma festa onde todos brincam com igualdade como a se viver uma mesma cidadania, levando Mahatma Gandhi a exclamar: “a satisfação reside no esforço, não no resultado. O esforço total é a plena vitória”. E assim o sertão viveu seu carnaval, houve sim, os dissabores, com perda de vidas preciosas, marcando as famílias, mas no bojo, alegrou mais do que entristeceu, quando muitos se encontraram e juntos procuraram viver uma festa em paz no compasso da alegria. Oxalá, pois, que as festas e congraçamentos tivessem o fim precípuo de divertir, unir e nunca de prejudicar as pessoas e que também nos prejudica haja vista o mal possuir uma grande ramificação, acertadamente escreveu o pensador francês Anatole France: “todas as misérias verdadeiras são interiores e causadas por nós mesmo”.

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