ADEUS A VAVÁ MACHADO

Antonio Machado

ADEUS A VAVÁ MACHADO

Antonio Machado
Muitas vezes a simplicidade se torna a característica basilar das pessoas e até de grandes artistas, aclamados e aplaudidos pelo povo, como foi a vida do cidadão Ademar Teles de Carvalho, nascido aos 13 de junho de 1946, na cidade pernambucana de Lagoa do Ouro, cidade pequena com pouco mais de dez mil habitantes tendo como suporte econômico a pecuária, a agricultura e o comércio, terra de gente simples, porém boa, terra de aboiadores. Mas o garoto Ademar foi criado pela família Machado da cidade de Major Izidoro em Alagoas. Quando jovem serviu ao Exército Pernambucano, ao término de suas obrigações militares, sentiu a vocação para a vida de vaqueiro, onde encontrou um terreno fértil e promissor, passou a se assinar como Vavá Machado, talvez numa alusão primorosa a família que tão bem o criou e encaminhou para a vida, dando-lhe todo incentivo a vida artística. Possuidor de uma bela voz, trouxe ainda a vocação pela poesia, constituindo-se um poeta vaqueiro, afinado por natureza, se não tocava nenhum instrumento, mas tinha a sensibilidade artística musical, sem subtonar em suas músicas. Nasceu assim artisticamente Vavá Machado, passando a ser requisitado pelos fazendeiros e feitores de vaquejadas pelo sertão afora, mormente nos estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia, estava pois, Vavá Machado, com sua agenda cheia de contratos para, cantar e versejar nas festas de gado. Encontrou na pessoa de outro artista, Marcolino de Garanhuns, a voz perfeita para uma dupla de primeira linha, ambos afinados e que pareciam casar as vozes, fundindo uma na outra, tanta era a afinação de ambos. Foi a dupla Vavá Machado e Marcolino, quem primeiro gravou toada nordestina, tornando-se os pioneiros no Nordeste nesse ramo tão bonito e aplaudido pelo povão, que vibrava e cantava a peito solto ao som de suas músicas chorosas, mas que tocavam ao coração do nordestino. Quem não contou “Coqueiro da Bahia, quero ver meu bem agora”, Meu Beija flor, além de tantas outras centenas de músicas gravadas por essa famosa dupla de vaqueiros aboiadores, que a cada dia conquistava o público de todas as classes tempos depois a dupla se separou, levando Vavá Machado passar a cantar com o grande poeta Zé de Almeida com quem gravou vários discos, todos eles com grandes sucessos e boa aceitação do público. Vavá Machado casou com uma moça que lhe deu um casal de filhos, Luciano e Luciana, porém, ele veio a se separar do primeiro casamento passando a conviver com uma segunda mulher, mas jamais perdeu a familiaridade e o amor dos filhos. A sua vida artística o fez percorrer todo Nordeste levando sua voz, suas músicas e muito aplaudido onde chegava, foi amigo e fez amigos, mas a doença sorrateiramente, lhe estava minando a vida, mesmo assim o artista vinha fazendo seus shows no meio de seu povo, mas no último dia 06 de agosto, estando em Olho d´Água das Flores, sentiu-se mal, foi levado às pressas para o hospital da cidade, mal recebeu os primeiros socorros médicos, o artista não resistiu, vindo a falecer. A família veio de sua cidade, Lagoa do Ouro e o levou para ser velado na Câmara de Vereadores de sua cidade, e sepultado em sua terra natal. Muitas homenagens lhe foram tributadas, a cidade parou para se despedir de seu mais ilustre filho, Vavá Machado, aboiadores, sanfoneiros, repentistas e o povo cantou na despedida de Vavá, suas músicas com seus parceiros foram cantadas durante todo velório e no percurso até o cemitério. Sentenciava D. Helder Câmara que: “as pessoas que nós amamos, quando morrem, não são sepultadas, mas semeadas na terra”. Vavá Machado foi dessas pessoas, Victor Hugo dizia: “os mortos são uns vivos invisíveis”. Ainda moço Vavá Machado partiu para outra dimensão, porém deixou um legado cultural incomensurável, que precisa ser preservado como exemplo para à posteridade. Enquanto existir o som de chocalho dolente, um aboio saudoso, uma vaquejada, um vaqueiro correndo atrás de um barbatão nas quebradas do sertão do Nordeste, a voz de Vavá Machado ecoará viva e latente nos corações dos nordestinos.

Comentários