Se estivesse vivo, ele morreu em 1995, o pioneiro do cinema no sertão alagoano José Francisco Filho, o Zé Filho, completaria 100 anos.
Ele nasceu no dia 9 de março de 1921 nesta Santana do Ipanema que carregou sempre em seu coração. Recebeu os sacramentos do batismo, crisma e primeira comunhão das mãos do padre Bulhões, lendário sacerdote amigo fraterno dos pais de José. O único dos seis filhos de Zé Francisco nascido em Santana, Fernando “Badu” Azevedo, também foi batizado na pia da matriz da Senhora Santana, só que pelas mãos do padre Cirilo.
José Francisco Filho, casado com a professora de geografia, a baiana Wanda Elizabeth, saiu de Santana em 1951 para Campina Grande-PB onde já residia o seu tio materno Francisco Alves Pereira, superintendente da Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro-SANBRA, multinacional argentina que na época era líder no processamento industrial do algodão abundante na região. Entrou para os quadros da SANBRA mas não se adaptou ao ritmo burocrático do trabalho, o dia todo sentado num birô revisando e carimbando papéis, saiu. Irrequieto e com o espírito de desbravador que tinha, comprou um caminhão Mercedes Benz e foi fazer fretes por conta própria, levando e trazendo cargas do nordeste para o sudeste. Um grave acidente na Serra das Pias (BR 115-AL), sem vítimas só danos materiais, encerrou a breve carreira de fretista autônomo de Zé Filho. Deu aulas de mecânica de automóveis (assunto que dominava) no SENAI e, a partir de 1958, ingressou nos quadros da Receita Estadual, como auditor-fiscal, cargo que exerceu até se aposentar nos anos 1980.
Zé Francisco saiu de Santana, mas Santana nunca saiu dele. Estava sempre lembrando fatos e histórias da cidade, personagens, além de manter em sua casa uma verdadeira “embaixada” do sertão alagoano onde recebia e hospedava com frequência parentes e amigos, muitos deles comerciantes que iam fazer compras no então forte comércio regional da cidade.
Além de Santana, Zé Francisco não cansava de exaltar o seu querido estado “das Alagoas” como costumava dizer. Citava os vultos históricos e se alegrava em saber que a maior avenida de Campina Grande, com cerca de 4 quilômetros unindo a zona leste a zona oeste da cidade, homenageia o Marechal Floriano Peixoto e o principal teatro da querida capital Maceió, localizado na Praça Marechal Deodoro, tem como patrono Deodoro da Fonseca (ele estufava o peito ao dizer que tinha nascido “na terra dos marechais”). Também vibrava com as regulares aparições do conterrâneo Aldemar Paiva na televisão de Recife cuja imagem e som eram captadas em Campina nos anos 1960 como se fosse emissora local. Na música popular fazia questão de lembrar que Jacinto Silva, Augusto Calheiros e a dupla Jararaca e Ratinho eram alagoanos, na literatura, a grande referência era Graciliano Ramos, na política nos contava as façanhas e histórias do lendário Tenório Cavalcanti, “o homem da capa preta”, no Rio de Janeiro; no cinema nacional gostava de Jofre Soares e Sadi Cabral (ambos podem ser vistos no clássico “Chuvas de Verão”, dirigido e roteirizado por outro alagoano, Cacá Diegues), no futebol tinha grande entusiasmo pelos feitos de Zagalo, sobretudo a conquista do Tri no México em 1970. No campo da ciência vibrava com o trabalho pioneiro desenvolvido pela conterrânea Nise da Silveira na psiquiatria médica.
Quando decidiu abrir o Cine Ipanema no ano de 1949, Zé Francisco não pensou apenas no aspecto comercial do empreendimento, o que o movia mesmo era a vontade de instalar na sua amada Santana do Ipanema aquele equipamento, símbolo inconteste de modernidade e progresso em qualquer urbe no século 20. Por isso mesmo é um nome que merece ser lembrado pelos seus conterrâneos, assim como ele nunca deixou de lembrar a sua terra e ensinou aos seus filhos e netos tudo o que sabia sobre ela.
José Francisco Filho, o Zé Filho do Cine Ipanema, era um santanense da gema e sempre fez questão de frisar isso por onde andou no Brasil e até mesmo quando esteve lutando nos campos da Europa como membro da Força Expedicionária Brasileira-FEB na Segunda Guerra Mundial.
Saudamos a Zé Filho neste seu Centenário! Um nome que faz parte da História de Santana do Ipanema.
A história completa do Cine Ipanema pode ser conhecida aqui:
https://memoriacineipanema.blogspot.com/
JOSÉ FRANCISCO FILHO: O CENTENÁRIO DE UM PIONEIRO (1921-2021)
CulturaPor: Romero Azevêdo 20/03/2021 - 22h 10min Acervo da familia

José Francisco Filho, pioneiro do cinema no sertão alagoano
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