FORMAS GEOMÉTRICAS

Crônicas

Por Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

Certa vez Jesualdo contou que desde cedo possuiu uma admiração toda especial pelas formas geométricas. Adorava desenhá-las, mas por incrível que pareça tinha certa dificuldade em calcular suas áreas nos tempos de escola. Eis que chega o momento de decisão a respeito de qual profissão escolher para chamar de sua.

Sabendo que o curso de Engenharia Civil, exigia uma forte base matemática para se sair bem nas disciplinas, sendo fundamental o culto à exatidão dos números, e onde um triangulo seria sempre um triangulo e dois somado dois, igualaria a quatro, resolveu optar por cursar Direito, onde os alunos deveriam ter a capacidade, de já no segundo semestre letivo provar ser um círculo idêntico ao quadrado e vice versa, caso contrário seriam sumariamente jubilados.

Tornando-se um jurista, teria condições de trabalhar as leis existentes a seu favor e interesse, na expectativa de atender os desejos do seu cliente. E assim foi feito.

Já com o anel de bacharel no dedo anular, sentiu-se poderoso e na primeira oportunidade em que necessitou colocar em prática todo o seu baú de conhecimento, contou ele, passou uma grande vergonha, pois ao ser inquirido a respeito da sua inscrição na ordem dos advogados, simplesmente havia esquecido o próprio número.

Jesualdo contou sempre lembrar do primeiro desafio enfrentado. Certo dia chegou em seu escritório um cidadão com uma pergunta incomum: - como posso processar uma sauna e exigir o pagamento de pensão alimentícia?

Surpreso, Jesualdo pediu maiores explicações. O cliente em potencial, expôs ter viajado a trabalho durante meio ano, e ao retornar, encontrou a esposa grávida de quatro meses. A mulher contou ter a concepção acontecido quando ela e umas amigas foram a uma sauna e nadaram na piscina do local. E que não tinha como saber que tipo de coisa havia dentro daquela água.

Jesualdo, talvez por falta de experiência, lembrou haver sorrido tanto e tão alto que teve a sensação dos vidros das janelas tremerem. Mas mesmo assim resolveu encarar a situação, tentando embasado em leis, provar o improvável.

Bem mais experiente na profissão que escolhera, manteve entrevista com um cliente seu, que iria participar naquele dia de interrogatório com o juiz, considerando ser ele indiciado no assassinato do companheiro de trabalho, onde retiravam areia das margens do rio.

Na hora marcada o preso, muito bem orientado e treinado por Jesualdo, seguiu até o fórum da cidade, para responder as perguntas de Sua Excelência. Iniciado o júri, ele negava haver atirado no colega, mas sim em uma cutia.

A arma apreendida foi mostrada para reconhecimento. O detento, pediu para chegar mais perto olhando-a e em seguida na sua simplicidade disse ao magistrado: - Doutor é a minha espingarda mas não quero ela mais. Está enferrujada e a mira ruim. Por isso errei o bicho e acertei o Tião. O senhor me arruma outra? A pedido do promotor, foi solto para responder em liberdade.
Fantástico o Jesualdo.

Comentários