Deus e o Universo Holográfico (Parte 3)

Artigo

Por Fernando Soares Campos

Em meados dos anos 1990, fui convidado a participar da composição de uma mesa de debate no Seminário Arquidiocesano São José, localizado no bairro do Rio Comprido no Rio de Janeiro. O tema se reportava aos diversos conceitos de céu, inferno e a vida após a morte, conforme orientações doutrinárias de diversas religiões. A plateia era composta de seminaristas, leigos católicos e convidados especiais. Os integrantes da mesa deveriam se posicionar como representantes de credos religiosos ou simplesmente na condição de praticantes de tal ou qual doutrina religiosa. Também participou um notável professor da própria instituição católica, o qual se declarava ateu.

Estavam ali representantes do Candomblé, do Evangelismo Protestante, da Igreja Católica (Evangelismo Católico), do ateísmo e eu, estudante da Doutrina Espírita. E, na condição de mediador, um seminarista, destacado líder estudantil do Seminário Arquidiocesano São José.

Representando a Igreja Católica, ninguém menos que Dom Estêvão Bettencourt (1919 ─ 2008), teólogo, professor do Instituto Superior de Teologia da Arquidiocese do Rio de Janeiro.

O evento representava, simbolicamente, a última aula do curso de Teologia para a turma de seminaristas que se graduavam naquele ano.

Ao ser convidado para participar do evento, imaginei que, no mundo “avançado” em que nos encontrávamos, alunos de cursos de Teologia já haveriam de ter tido acesso a todas as visões de céu e inferno pregadas por todas as doutrinas religiosas do mundo, principalmente pelas mais ativas em território nacional. Engano. Ali, pude deduzir, em vista das perguntas que vinham da plateia, que os formandos ignoravam tudo sobre os conceitos da Doutrina Espírita e das outras religiões que se faziam representar no evento. Pelo visto, naquele curso, o ensino se resumia aos princípios da Igreja Católica.

Parodiando Nietzsche: Lúcifer está morto
Dom Estêvão Bettencourt foi o primeiro a expor noção do que o Catolicismo prega sobre o que venha a ser o Céu e o Inferno. E eu esperava que, a esse respeito, ele discorresse sobre duas regiões bem definidas, para onde iriam todas as almas depois da morte do corpo físico. Cada uma sendo admitida em ambiente próprio ao seu merecimento: as virtuosas para um lado, as pecadoras para o outro, de maneira definitiva, para todo o sempre, conforme me fora ensinado quando criança na Cruzada Infantil. Mas eis que o eminente sacerdote católico me surpreendeu. Falou de Céu e Inferno como sendo o resultado de profundas impressões que o espírito leva na consciência, esta que, com a morte, fazendo a passagem para outras dimensões cósmicas, não mais possuía o corpo material denso para encobrir ou dissimular os valores morais que alimentou enquanto encarnada. Naquele estado, o espírito, na mais perfeita liberdade de consciência sobre seus atos, seria o seu próprio e único juiz. Assim, a alma desencarnada poderia impor a si mesma sentimentos de culpa e consequentes remorsos, mergulhada em profundo estado depressivo que a levaria a sofrer atrozes dores morais, aquilo que conseguira evitar quando da sua existência encarnada; ou, no caso dos que bem procederam durante sua estada na Terra, se rejubilaria entre os justos.

“Ora! – pensei – mas esse é, basicamente, o conceito de céu e inferno de acordo com os princípios doutrinários do Espiritismo.” Em momento algum Dom Estêvão se referiu a Lúcifer e suas falanges espetando tridentes nas nádegas dos pecadores que teriam sido condenados a viver em regiões infernais bem definidas. Nada de caldeirões ou lagos de enxofre fervente, não falou de monstruosas criaturas do tipo lobisomem torturando a pobre alma por toda a eternidade. “Lúcifer está morto!”

Porém, se na explanação de Dom Estêvão identifiquei aparente concordância entre a visão espírita e católica sobre o destino das almas desencarnadas, o mesmo não aconteceu quando fomos questionados a respeito da criação do ser humano, da reencarnação versus ressurreição e comunicação com os “mortos”.

Conforme a religião católica, a alma humana seria criada no momento da concepção do corpo e o animaria para jornada única na Terra: nascimento, vida e morte. Depois disso, aguardaria o dia do juízo final, com a ressurreição dos mortos – na oração “O Credo”, os católicos professam a crença na “ressurreição da carne”.

O problema é quando a gente questiona o porquê de tanta gente nascer saudável, com o corpo em perfeita conformação, algumas pessoas externando, ainda em tenra idade, desenvolvido grau de inteligência, enquanto outras nascem com deformações físicas ou profundas dificuldades para expressar de forma compreensível o produto de suas funções mentais.

De acordo com a Doutrina dos Espíritos, o ser humano se formaria em milenar desenvolvimento, originando-se embrionário no reino mineral, passado por estágios de evolução no reino vegetal e animal, até encarnar em corpo hominal, simples e ignorante, mas todos igualmente dotados do mesmo potencial para progredir. A partir daí, iniciando jornada evolutiva, agora consciente de sua própria individualidade. As multirreencarnações teriam como objetivo o autoaperfeiçoamento, até quando o indivíduo não mais necessitasse da roupagem carnal, passando a viver em corpo de matéria sutil, extremamente tênue, plasmática, submetido a processo evolutivo.

Em cada reencarnação, o esquecimento das reencarnações anteriores é estabelecido por natural dispositivo, a fim de que o espírito não se perturbe com as reminiscências do passado.

Transcrevo abaixo trecho do livro “Nosso Lar”, colônia espiritual levada às telas de cinema sob o mesmo título do livro psicografado por Francisco Cândido Xavier e ditado pelo espírito André Luiz.

Dois espíritos desencarnados, vivendo na colônia, dialogam. Um deles explica para o outro:

“...antes de tudo, é indispensável nos despojarmos das impressões físicas. As escamas da inferioridade são muito fortes. É preciso grande equilíbrio para podermos recordar edificando. Em geral, todos temos erros clamorosos, nos ciclos da vida eterna. Quem lembra o crime cometido costuma considerar-se o mais desventurado do Universo; e quem recorda o crime de que foi vítima, considera-se em conta de infeliz, do mesmo modo. Portanto, somente a alma muito segura de si recebe tais atributos como realização espontânea. As demais são devidamente controladas no domínio das reminiscências e, se tentam burlar esse dispositivo da lei, não raro tendem ao desequilíbrio e à loucura.”
Sopro de lógica
A certa altura, o debate se polarizou entre mim e Dom Estêvão, à época, declarado inimigo do Espiritismo, autor de pequena obra que transmite contundente manifesto contra a chamada Codificação Kardequiana, a base da Doutrina dos Espíritos.

Notando que a plateia se empolgava e parecia querer se esclarecer mais e mais sobre os conceitos espíritas, Dom Estevão, certamente incomodado devido a que a maior parte das perguntas era encaminhada a mim, alertou: “Não é porque um sopro de lógica acena para a nossa mente que devemos aceitá-lo como expressão da verdade”.

Lógico! Até porque “um sopro de lógica” não pode ser de imediato aceito como lógica plenamente desenvolvida. Mesmo assim, é preferível acompanhá-lo, analisando-o com racionais critérios, a fechar a mente sob a ditadura de um dogma qualquer. Quer dizer: mais vale um sopro de lógica voando em sua mente do que mil dogmas castrando seu raciocínio.
Deus e o Diabo na Terra são um só
A inútil tentativa de separar Deus do Diabo é fruto do nosso maniqueísmo fanático, ignorância gerada pelo puritanismo hipócrita dos que se assemelham a túmulos caiados.

Deus, em qualquer das formas que possamos nele crer, é amor e ódio, é ignescente lava vulcânica e montanhas de eterno gelo glacial. Deus é doce mel e amargo fel, é o Bem, o Mal e as nuances que os confundem.

Tudo depende apenas da forma, da imagem e ideia que fazemos do nosso deus pessoal e intransferível. Com isso, não estou afirmando que Deus é uma invenção humana, refiro-me apenas à maneira como cada um de nós o percebe.

Essa história de que o Bem sempre vence o Mal é balela, feliz apoteose de novela épica. O Bem não vive em conflito com o Mal, o Bem e o Mal se complementam e se dispõem numa só forma. O conflito é nosso, é íntimo, não é externo. É de dentro para fora; não, o contrário; e ele se dá em função dos nossos interesses pessoais, imediatos, inalienáveis. A distinção entre um e outro está condicionada apenas à nossa consciência, ao que dela fizemos, ao que nela plasmamos, mas isso não quer dizer que podemos tratar essa questão atribuindo-lhe uma condição relativa, pois o Bem e o Mal se fundem e são inseparáveis, são objetos, sujeitos, não são qualificações de objetos, de sujeitos, como o que consideramos bom ou mau.

Por necessidade fundamentada no nosso atrasado estágio evolutivo, inerente ao processo de desenvolvimento e aperfeiçoamento do saber e dos princípios éticos, podemos até personificar Deus, levando em conta a hierarquia necessária ao equilíbrio funcional de todas as coisas ("Ninguém vai ao Pai, senão por Mim" João, 14,6). Mas o verdadeiro Deus, princípio de todas as coisas, não é alguém. Deus, por uma de suas inúmeras definições, é a soma dos potenciais existentes em todas as coisas, no âmago da matéria, em qualquer de suas formas, sejam minerais, vegetais ou animais; e acrescente-se, acima de tudo, os potenciais disponíveis na alma humana, a nossa capacidade de sentir, pensar e agir por conta própria, por livre-arbítrio diante do que está suscetível aos efeitos de nossa ação.

Deus impessoal é a Lei Universal, sobre o que conhecemos muito pouco, ou fazemos questão de conhecer apenas os seus introitos, mesmo assim interpretando-os conforme o interesse de nossas semiconsciências, apenas o suficiente para nos odiarmos uns aos outros, mas fazendo caras e bocas de amor ao próximo.

Conforme preceitos bíblicos, "Nem uma folha cai sem que seja a vontade de Deus". Acredito que o mais correto seria dizer que "Nada acontece sem a permissão de Deus". "Vontade" é a força que realiza desejos, ou que se empenha para realizá-los. Deus não deseja. Deus é a Lei Universal, completa, perfeita e imutável. "Permissão", neste caso, é conquista da liberdade de ação (boa ou má). "Permissão" aqui não significa o aguardo de ordens superiores, mas a conquista das condições favoráveis à ação. Com a permissão para agir, com a disponibilidade dos elementos adequados ao empreendimento da ação, passamos ao exercício do chamado livre-arbítrio, que se manifesta de acordo com o estágio da formação do caráter personalista de cada um de nós.

A permissão divina não pressupõe conivência de Deus, ou sua incondicional anuência, com o ato praticado. Deus (a Lei Universal) faculta as ações para que os homens testem a si próprios. Observe que Jesus, ao nos ensinar a orar, não recomendou que pedíssemos a Deus que não fôssemos tentados, mas que não caíssemos em tentação. "Não nos deixeis cair em tentação." É como se pedíssemos permanente inspiração e alerta ao Pai para superar as nossas más inclinações e, assim, nos livrar das permanentes tentações concernentes aos prazeres mundanos (aqui entendemos o Pai Nosso, sobre quem Jesus falou, como sendo Deus personificado.)

"Nunca me corrompi!", diria o homem que nunca sofreu a tentação planejada por um corruptor externo, alguém que poderia lhe oferecer privilégios em troca da liberalização do vírus da desonestidade nele incubado, como qualquer agente infeccioso que percorre seu corpo em busca de oportunidade para se manifestar. Pessoas que ainda não tiveram oportunidade de provar para si mesmas que não se renderiam a propostas indecentes e se autoproclamam honestas até no controle de suas mais irreprimíveis emoções, estas são como uma virgem numa ilha deserta: quando o cio lhe provoca a fúria do desejo sexual, só lhe resta masturbar-se, ou seja, não extravasa sua voluptuosa sensação com alguém, até de forma desregrada, porque não tem com quem.

A ocasião não faz o ladrão, apenas desperta a tendência à ladroagem, e se esta inclinação não for reprimida (pela lei e pela consciência), o cidadão se desvela como ladrão.

A permanente luta para domar o Mal dentro de nós mesmos. Esta, se não é a única, é, provavelmente, a mais importante virtude humana.

Se algum de nós já não sente qualquer impulso para a prática do Mal, conforme os conceitos ditados pela nossa consciência, contrapondo-o ao que possa vir a ser o Bem, então esse alguém já não pertence à categoria humana, sublimou-se, alcançou esferas muito mais elevadas, extrapolou a perfeição moral relativa à vida na Terra. Se estiver encarnado aqui entre nós, encontra-se na condição de missionário divino. Mas como um missionário divino poderia conviver entre nós, almas potencialmente corruptas? Seria agindo como um ser ainda em conflito com a formação do seu caráter, como nos encontramos aqui na Terra? Não. Ele seria apenas compreensivo, entenderia a fraqueza humana e, por isso, compreenderia o criminoso, mas sem justificar ou tolerar o crime cometido.

Certa ocasião meu analista me perguntou: "O ser humano ri porque se sente feliz, ou se sente feliz porque ri?" "Choramos porque ficamos tristes, ou ficamos tristes porque choramos?"

Naquele momento tive o impulso de dizer que rimos porque nos sentimos felizes e choramos porque ficamos tristes, porém me contive, pois outros pensamentos assomaram à minha alma semipensante: "Ficamos felizes por nossas vitórias ou pela derrota dos nossos possíveis adversários?" "Tristes porque perdemos a luta, ou porque aquele adversário venceu?"

Aparentemente, tudo isso aí tem o mesmo sentido, mas as aparências enganam.

Aquele que se autoproclama honesto até no controle de suas mais irreprimíveis emoções diria que sua felicidade se concentra totalmente em suas próprias vitórias, conquistas, feitos, méritos e supostas virtudes pessoais. Jamais admitiria que um prazer mórbido insiste em comemorar o fracasso alheio, ou chorar pela vitória de outrem, seja a glória de um dos seus desafetos ou, pior, pelo triunfo de um daqueles a quem ele chama de "amigo".

A crise existencial nossa de cada dia pode estar relacionada com esta nossa tentativa de separar Deus do Diabo, aplicando conceitos pessoais, semiconscientes, sobre o Bem e o Mal, sem considerarmos que, dentro de nós, um não existiria sem o outro. Num mundo só de luz, não adiantaria alguém tentar explicar o que viria a ser a sombra. Também num mundo somente de sombras, seria inútil alguém tentar explicar o que possa ser a luz. "Quem não soube a sombra não sabe a luz" (Taiguara, em "Teu sonho não acabou").

A coexistência dos opostos determina a unicidade das coisas. Deus é único. Deus em separado do Diabo é fruto do nosso preconceito.  

Pode-se considerar uma afirmação paradoxal, mas Deus Personificado é infinitamente múltiplo, portanto, único ("Vós sois deuses", João, 10:34. "Vós podeis fazer o que eu faço e muito mais" João, 14:12). Somos deuses porque há em nós um latente potencial para realizarmos maravilhosos feitos. Tantos já foram realizados porque muitos de nós já conseguem fazer bom uso de uma ínfima parte desse potencial.

Mas Deus Impessoal não é alguém nem é ninguém. Deus é a Lei Universal, única, perfeita, imutável, e se manifesta em nós pela nossa consciência. Todos temos noção do que venha a ser oBem e o Mal, mas um ou outro aflora em nós, em nossa consciência imediata, como nos convém, na forma do que nos seja ou pareça bom ou mau.
Atração e repulsão ou complementares e expansivos?
Na natureza, os polos positivo e negativo são complementares entre si. Um não existiria sem o outro.  

Em vez de dizer que polos diferentes se atraem, prefiro dizer que estes se complementam. Trato assim porque, nos relacionamentos humanos, os iguais se atraem e se completam quantitativamente, em busca da realização de seus propósitos, mas nem sempre em benefício do conjunto, geralmente visam vantagens individuais; enquanto os verdadeiros complementos devem ser entendido pela soma dos diferentes, complementação qualitativa, considerando que, neste caso, há uma troca de informações, conhecimentos, experiências, um auxilia na evolução do outro.

Entretanto, na natureza, em que não se manifesta afetividade conforme os valores humanos, polos iguais, não se repelem propriamente, apenas se expandem em busca de unidades complementares para formar elementos temporariamente estáveis, até que, em função das necessidades vitais do Universo, se desagregam e reiniciam o processo de expansão e complementação. Assim funciona a dinâmica da natureza: tudo se transformando através de infinito processo de expansão e complementação.

Polos diferentes se complementam, polos iguais se expandem. Isso ocorre simplesmente para manutenção da vida. É a incondicional solidariedade verificada na Natureza no seu mais alto grau de pureza e perfeição.

No conjunto do Universo, tudo se complementa. Nenhum ser natural (orgânico ou inorgânico) se comporta contrariando, voluntariamente, as suas funções inatas. As qualidades originais (nativas) dos seres animados e dos aparentemente inanimados, considerados pelas suas utilidades, empregos e resultados de suas serventias, se harmonizam naturalmente, e aquilo que, em casos específicos, sugere a ocorrência de irregularidades ou aberrações da Natureza são, na verdade, ações que contrariam apenas os nossos desejos ou nossas necessidades pessoais, portanto, na Terra, Deus e o Diabo são um só, estão separados apenas em nossos conceitos, que em geral são formados tendo como base os nossos desejos e afetividades.
Deus não joga dados pra perder
Podemos supor que qualquer ponto na infinitude do espaço cósmico é o Centro do Universo, por estar, em todas as direções, equidistante das “extremidades do infinito”. Também podemos afirmar que tal ponto representa, concomitantemente, o começo e o fim da imensidão do espaço cósmico.

Se dividíssemos a infinitude universal ao meio, tendo criado um plano imaginário, infinito, a ser utilizado como “fronteira” (cisão) do Universo, surgiriam dois universos infinitos, ambos com todos os elementos do Todo. Se, a partir dessa primeira divisão, continuássemos dividindo o Universo-infinito em progressão geométrica, obteríamos infinitas partículas, cada uma delas contendo a principal característica do Universo: a infinitude.

Daí podemos compreender o fenômeno ocorrido num holograma, em que cada parte de tamanho adequado reproduz o Todo. É como uma gota d´água do mar, que é composta por todos os elementos das águas de todo o oceano.

Se o Universo é concebivelmente infinito, qualquer porção deste Universo é infinita.

Imaginemos uma bola de gude, do tipo que tantos de nós usamos nos jogos lúdicos da infância, solta no espaço, inflando, crescendo, expandindo-se contínua e eternamente. Considerando a infinitude do Universo, ela jamais estancaria seu processo de dilatação. E tudo que existisse no seu interior acompanharia seu crescimento: os espaços entre os elementos que formam a sua massa cresceriam na razão direta do crescimento do seu volume total; consequentemente, seus átomos produziram partículas quânticas que, por sua vez, se combinariam formando novos átomos, moléculas, células e tecidos necessários à composição de matérias orgânicas e inorgânicas.

Ocorrendo o contrário, ou seja, a bola de gude comprimindo-se contínua e incessantemente, ela jamais se tornaria "nada", seria sempre um corpo compacto, o qual, visto do nosso ponto de observação imaginária, manteria toda a sua massa original; ou, por causa da incessante compressão, atingiria o ponto de fissão nuclear, explodindo e espalhando incontáveis partículas na seara cósmica. Seria um fenômeno cosmológico equivalente ao que ocorre dando origem a uma multiplicidade de estrelas, compondo sistemas planetários, um fenômeno equivalente ao Big Bang.

Também podemos concluir que um corpo em expansão na infinitude universal não ocupa o espaço de outro corpo, assim como um corpo submetido a contínua compressão não cede espaço para que outro corpo o ocupe; pois, se o espaço é infinito, não há criação nem extinção de espaço. Na verdade, considerando que qualquer ponto, parte ou porção do Universo infinito é, ao mesmo tempo, seu começo e fim, podemos aceitar que seja também o seu Centro.
O espaço-tempo é uma unidade quadrimensional ou hexadimensional?
O conceito einsteiniano sobre espaço-tempo trata de uma unidade quadrimensional, pois, ao espaço tridimensional (altura, profundidade e largura), foi acrescentado o tempo. Porém, se consideramos a tridimensionalidade do espaço, precisamos entender o transcorrer do tempo igualmente tridimensional, visto que o espaço e o tempo se fundem, expandindo-se ou contraindo-se inseparavelmente.

Como não podemos conceber o infinito espacial e a eternidade em separados, também não devemos estabelecer a junção do espaço com o tempo considerando o primeiro tridimensional e o segundo unidimensional, visto que todo espaço pressupõe um tempo necessário para percorrê-lo em todos os seus sentidos. Daí, podemos formular conceitos de infinito e eternidade:

Infinito é o espaço que necessita da Eternidade para ser totalmente percorrido.

Eternidade é o tempo necessário para se percorrer o espaço Infinito.

São grandezas inseparáveis, portanto, acredito que as dimensões atribuídas a uma devem ser conferidas à outra.
Espaço: altura, profundidade e largura.
Tempo: passado(espaço percorrido),presente(espaço em que se está percorrendo) e futuro (espaço a ser percorrido).

Portanto, se o espaço e o tempo são indissociáveis, o evento espaço-temporal deveria ser considerado hexadimensional, formado pela soma das tridimensionalidades de ambos.

Se o Universo é concebivelmente infinito, haveremos de compreender que qualquer porção deste Universo é infinita.

Se qualquer porção do Universo é concebivelmente infinita, conforme exemplo da bola de gude expandindo-se ou comprimindo-se eternamente, assim, haveremos de compreender que qualquer fração do tempo é eterna.

A eternidade pode ser compreendida pela incessante ação do presente absorvendo o futuro e, instantaneamente, transformando-o em passado.

Daí concluímos que Deus joga dados, sim, mas, na condição de Ser onisciente, onipresente e onipotente, conhece de antemão o resultado, portanto Deus só não joga pra perder.

Fernando Soares Campos é autor de "Saudades do Apocalipse - 8 contos e um esquete", CBJE, Câmara Brasileira de Jovens Escritores, Rio de Janeiro, 2003; "Fronteiras da Realidade - contos para meditar e rir... ou chorar", Chiado Editora, Portugal, 2018; e "Adeildo Nepomuceno Marques: um carismático líder sertanejo" (em parceria com Sérgio Soares de Campos); Grafmarques, Maceió, AL, 2022.

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