ADEMIR, O VASCAÍNO

Crônicas

por Carlito Lima

Na Copa do Mundo de 1950, o Brasil teve um goleador excepcional, Ademir Menezes, o “Queixada”, tinha um queixo proeminente, jogava pelo Vasco da Gama, artilheiro da Copa, esperança de um gol na final contra o Uruguai. Tivemos a frustração de perder por 2 x1 do Uruguai em pleno Maracanã, essa tragédia do povo brasileiro ficou inesquecível, entretanto o nome Ademir se perpetuou, muitos meninos nascidos naquela época tomaram o nome de Ademir. Foi o caso de um filho de português dessa cidade, hoje comerciante próspero, figura conhecida na comunidade.

A filha de Ademir lhe prestou uma homenagem, o primeiro neto nascido, tomou o nome de Ademir Madeiro Neto. Ele se encheu de orgulho, ao visitá-lo na maternidade colocou a bandeira do Vasco em cima do berço. Acompanhou seu crescimento com muita proximidade, o neto tornou-se sua paixão, o menino vive com a camisa do Vasco, aprendeu a jogar bola, com sete anos entende de futebol, torce e grita gol do Vasco.

Outra paixão do avô Ademir, uma pequena fazenda nos arredores da cidade histórica de Marechal Deodoro. No fim de semana monta cavalo, cria algumas cabeças de gado, construiu um campo de futebol para garotada da redondeza jogar. Ademirzinho, o neto, é o dono da bola, joga pelo time da fazenda organizado com camisa do Vasco, o adversário joga sem camisa.

Acontece que a esposa e família, preferem ficar na bonita orla da cidade. Martinha, a filha, fazia o sacrifício, acompanhava Ademirzinho no fim de semana à fazenda, para a alegria do avô, Ademar. O menino cresceu, a mãe enjoou com outro filho na barriga. O avô foi sozinho com o neto para fazenda pela primeira vez. Trabalho enorme cuidar de um menino de sete anos. Ao voltar para casa reclamou, mandou contratar alguém para o próximo sábado, tomar conta do Ademirzinho.

A vontade do avô é lei. No sábado, embaixo do apartamento, o neto chegou de mãos dadas com a babá. Morena baixa, cabelos ondulados, rosto oval, sobrancelhas quase cobrindo os olhos negros irrequietos, sorridente, deu bom dia. O avô gostou da aparência da babá, em torno de 25 anos. Entraram na camionete cantando: “Vamos todos cantar de coração... A cruz de malta é o meu pendão... Tu tens o nome do heróico português... Vasco da Gama sua fama assim se fez...” O velho Ademir sorria de alegria, contava aventuras e conquistas do time do Vasco ao neto enquanto dirigia a camionete, sem nunca deixar de dirigir olhares simpáticos e desejosos à Joana, a babá.
A programação pelo dia foi normal, andar a cavalo, percorrer a plantação, almoçaram, descansaram, à tarde o joguinho de futebol com os meninos, prolongado até o gol da Lua, o jogo só termina no gol depois da Lua aparecer na lagoa. Uma reverência à natureza no dia de Lua Cheia. Depois do jantar a babá deitou o neto cansado, dormindo, retornou à sala. Ademir assistia a um filme erótico. Joana sentou-se perto perguntou se podia assistir. Ademir falou ser filme impróprio, ela às gargalhadas, respondeu conhecer mais do que mostrava o filme. Ficaram assistindo as cenas picantes e excitantes do drama, em vez em quando um olhar cruzado. Ao terminar o filme Joana aproximou-se de Ademir, provocou.

- Gostei do senhor, parece gente fina, um homem que gosta de criança é um bom homem, eu tenho um filho da idade do Ademirzinho, quisera ele ter um avô que nem o senhor.

Ademir alisou a mão da babá, ela olhou nos olhos, aproximou o rosto, deu um beijo na boca do coroa.

Há várias semanas Ademir está na maior felicidade, convidou o filho da babá para acompanhar Ademirzinho, eles brincam muito, jogam, com uma diferença, o outro é Flamengo. Tornaram-se amigos, se dão muito bem, à noite dormem no mesmo quarto. Joana e Ademir também se tornaram amigos, ao dormir ela faz cafuné no patrão, se deitam, se amam, ao amanhecer domingo Joana acorda, dá um beijo no rosto do patrão, vai cuidar do café dos meninos.

Comentários