O SEGREDO DE SALVADOR

Crônicas

por Carlito Lima

Houve quem considerasse Salvador corno, entretanto, a história é controversa, afinal sua mulher foi franca, confessou ao marido, estava apaixonada por um colega de trabalho, nada havia consumado, para acontecer o fato, ela saía de casa. Assim Aparecida desapareceu da vida de Salvador. O marido ficou em depressão, sentiu-se traído, dor-de-corno, enciumado, a auto-estima lá embaixo, relaxou nos negócios, compra e venda de carros usados, bebia todo dia, a família deu apoio e força, estava beirando à sarjeta. O tempo é o senhor da razão, já dizia o Presidente, quatro meses depois, Salvador esqueceu o passado, apagou a imagem de Aparecida de sua mente, de seu coração. Continuou vendendo carros usados, seminovos, como ele chama. O ganho dá para se divertir em algumas noitadas, rapariga é seu brinquedo predileto, cata garotas de programa nos jornais, nunca sai mais de três vezes com a mesma menina. Apenas Michelle lhe enfeitiçou, menina nova de uma competência genética, nasceu para o serviço.

Passaram-se tempos da separação, Salvador vivia bem, sem amarração, solteiro. Porém, sua irmã mais velha ficava preocupada, achando que todo ser humano veio à terra para se acasalar, inventava festas convidava moças, coroas disponíveis, Salvador esnobava, jamais outra vez.

Até que um dia se engraçou de Luiza, morena bem conservada, ultrapassando os quarentas, ninguém sabia ao certo sua idade. Amiga da irmã, a coviteira, a cupido, fez o namoro de Salvador. Ele gostou de uma companhia mais velha, mulher bonita, o tempo não foi tão cruel com Luiza. Começaram a sair, cinema, praia, mãozinhas dadas, um beijo, namoro à antiga, passaram-se dois meses para entrar no corpo a corpo. Salvador ficou encantado com a sabedoria da nova companheira, a coroa, bonita e carinhosa fez o homem gemer sem sentir dor.

Luiza contou sua vida, casou-se nova, grávida, nasceu a filha, a alegria da casa, todos encantados com aquela menina bela e sabida, hoje uma moça de 22 anos. Certo dia, o pai foi convidado para um emprego no sul, Usina de Açúcar em Minas Gerais, aceitou na hora, tinha passagem todo mês para ver a família. Com menos de um ano de emprego se enrabichou de uma mineira de Juiz de Fora, nunca mais voltou a casa. Luíza teve que trabalhar, economizar bastante para educar a filha. Antônia ainda não se formou, estuda engenharia á noite, tem seus negócios de venda, se sai bem, gosta, como toda jovem, de uma balada noturna. Marcaram um jantar num restaurante da orla, sábado á noite, para o Salvador conhecer a “enteada”. Ele foi o primeiro a chegar, pediu uma dose de uísque, bebericou feliz da vida, estava gostando da Luiza, mulher educada, assim estava pensando quando ouviu por trás a voz da namorada, boa noite, ele se virou, tomou maior susto, não conseguiu esconder a surpresa ao perceber, Antônia, a filha, era uma das garotas de programa, a preferida, Michelle, seu nome de guerra. Ele conseguiu se recuperar da surpresa estendeu a mão, muito prazer. Sentaram-se à mesa, iniciaram a conversa. Luiza comentou, ao apresentar Antônia pela reação de susto pensava que já se conheciam. Depois do jantar a filha pediu licença, tinha compromissos.

No outro dia Antônia telefonou, marcou encontro com Salvador, foi direta.

- Meu querido amigo, que susto nós passamos, minha mãe jamais imagina meus programas, pensa apenas que gosto da boemia. Confesso estava ansiosa para lhe conhecer, sem nunca imaginar você, o namorado. Ela depois que lhe conheceu mudou completamente, tornou-se alegre, é uma mulher feliz, fala em Salvador o tempo todo, ela lhe ama, lhe adora. Vocês dois formam um belo casal, vim lhe implorar, não acabe esse namoro por minha causa, garanto, deixarei os programas, seja qual for o preço, eu não quero atrapalhar a felicidade de minha mãe, de vocês, esqueça o que passamos.

- Antônia, minha enteada, gosto de Luiza, vamos nos juntar, não se preocupe. Quanto à Michelle foi a mulher mais lasciva, mais sensual, mais competente que encontrei, não dá para esquecer. Será nosso segredo. Entretanto, aviso à Michelle, se der, eu como.

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