A CASA DE PEDRO BÁIA

Marcas do Passado

José Avelar Alécio

Aquela era sempre a casa que aos meus olhos de criança lembrava um fato que me tocava fundo, causando um misto de sensações às vezes contraditórias, ora me causava medo, outras vezes me suscitava desejo de buscar descobrir o mistério que parecia envolver.

Crescia eu, envolvido no transcorrer de uma infância tranqüila, usufruindo do que era possível usufruir. Descobria coisas novas, conhecia e fazia novos amigos; porém o mistério daquela casa permanecia.

A casa era de estilo comum à época, paredes com pintura envelhecida, outras partes sem pintura e sem reboco mostrando tijolos escurecidos. Tinha, porém, uma estrutura forte e localizava-se num ponto destacado da antiga rua da poeira, acima de uma ribanceira. Próxima ao barreiro de dona Conconha.

Hoje, adulto, me ponho a imaginar quão rica era a vida na rua da poeira, hoje Delmiro Gouveia! Sua gente, seu modus vivendus, sua localização... as noites, mesmo sem energia elétrica não deixavam de serem movimentadas. As famílias nas calçadas a conversarem, as crianças na rua empoeirada a brincar. As noitadas com o Casimiro Coco. Os domingos ricos em acontecimentos e anualmente as maravilhosas cheias do Panema!

E a casa continuava lá! Que segredos poderia esconder aquelas quatro paredes?

Minha mente criava, viajava na fase do pensamento lúdico. Posteriori o pensamento lógico exigindo mais. Entretanto não encontrava respostas para aquelas perguntas. E o tempo passava!

Por que?

Sim, por que um homem simples, um alcoólatra, fora capaz daquilo. “Aquilo” marcou um pouco a rua, marcou para sempre uma família e certamente desgraçara a vida do personagem.

Nosso personagem era pintor, chamado na época de caiador. Sua ferramenta de trabalho - um pincel de “um tipo de planta, compacto, comprido com aparência de fêmur, por isso mesmo chamado “Canela de Ema”. Ao terminar o serviço, Pedro Báia costumava desenhar seu logotipo que era justamente o próprio animal”. Informações do escritor santanense Clerisvaldo Chagas.

Pedro Báia encolirava-se quando alguém lhe fazia chacotas envolvendo-o na estória da Ema. Existia até uma paródia envolvendo a ave e o personagem.

As chacotas aumentaram, a paciência pouca do sertaneja exauriu-se alimentada pela sua rudeza e atingiu seu limite. De agora em diante quem lhe falasse da Ema teria o troco, dizia Pedro Báia e para isso comprou uma espingarda.
Pedro Báia com uma espingarda, para que? Ora se aquilo tem coragem de matar alguém! Sabe ao menos usá-la? A conversa corria rua a fora.

O pintor teria coragem? Certa feita ouvi de um jurista que “coragem adquire-se na hora”, quando a necessidade chega e o instinto de sobrevivência fala mais alto”. Recomendando que não aconselhava ninguém ter uma arma em casa, pois em um momento desses poderia cometer um ato e se arrepender o resto da vida.
Tem coragem mesmo? Tem nada! O tempo diria!

E eis que certo dia, um senhor, ao meu entender bem quisto na comunidade, achou de fazer chacota com Pedro Báia com a estória da Ema. Pedro Báia queimou o restinho de juízo, encorajou-se e...mandou ver com a velha espingarda. Cometeu o assassinato. Desapareceu no mundo!

Ficou apenas a casa! A esconder o verdadeiro perfil, os sonhos, os medos, a coragem ou o desequilíbrio de Pedro Báia!

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