A CARIOCA TRICOLOR

Crônicas

Carlito Lima

Marcelo acordou-se na maior ressaca, feliz da vida com a vitória, com a festa do Fluminense no dia anterior. Sofreu, jogo nervoso, um minguado 1 x 0, entretanto, mais que justo, Campeão Brasileiro - 2010. Levantou-se, beijou os pais na cozinha, tomou um suco de laranja, comentou o jogo, vestiu uma camisa tricolor, desceu à orla da Jatiúca para uma caminhada.

Cumprimentava os amigos mostrando o escudo de seu time na camisa, fazia a festa quando cruzava outro tricolor. Feliz contemplava o marzão verde naquela bela manhã de segunda-feira.

Avistou ao longe, à beira-mar, uma moça de vestido verde, faixa branca na cintura, fone no ouvido, descalça, dançando sozinha. Pequenas ondas cobriam seus pés molhando a ponta do vestido, ela dançava, se requebrava, tendo apenas o mar e o sol como companheiros.

Marcelo sorriu com a bêbada maluca, continuou sua andança até a Ponta Verde, de onde retornou. Ao passar novamente pelo local, a dançarina continuava dançando sozinha e cantando, retornava ao calçadão. Quis o destino, ou o diabo, ou o Sobrenatural de Almeida, a moça cruzou com Marcelo. Ele teve maior susto quando a bêbada, ao avistá-lo, abriu os braços, cantando, sorrindo:

“Sou tricolor de coração... Sou do time tantas vezes campeão...” A jovem alegre aproximou-se, deu um abraço em Marcelo. Sorrindo cantaram, “eu tenho amor ao tricolor...”. Sentaram num banco olhando o mar comentando o jogo, a vitória do Fluminense. Os dois se entenderam, maior empatia, eram tricolores doentes. A moça entre 30 a 35 anos, Marcelo mais velho, pouca coisa. Conversaram mais de uma hora sobre o time do coração. Valéria, advogada, carioca, estava em Maceió para resolver pendências de sua firma, voltaria na terça-feira à noite. Certo momento a garota tricolor convidou-o para tomar uma cerveja, precisava comemorar e muito esse título, havia varado a noite. Atravessaram a rua, na loja de conveniência do posto entornaram meia dúzia de cerveja. Marcelo observou-lhe, em sua vestimenta havia apenas o verde e o branco, faltava o vermelho-grená. Valéria deu uma gargalhada, apertou a mão do amigo, cochichou no ouvido para ele olhar. Sentou-se em sua frente, num gesto discreto e sensual levantou o vestido bem devagar, apareceram as lindas pernas, as coxas, finalmente a calcinha vermelho-grená. Marcelo sorriu, excitadíssimo abraçou Valéria, seus lábios se uniram num beijo prolongado.

Ao entrar no apartamento do hotel, Valéria puxou-o para dentro do banheiro, ainda vestidos, abriram o chuveiro, se abraçaram, se beijaram, molhados, a água descia em suas cabeças em seus corpos, se amaram feitos dois animais encharcados.

Eram 14:00 horas quando Marcelo saiu do apartamento. Valéria dormia o sono dos justos, dos amantes, dos campeões. Ele deixou um bilhete pedindo para telefonar quando acordasse. Depois do jantar, sem alguma notícia de sua tricolor, Marcelo resolveu ir até ao hotel, comprou rosas vermelhas, subiu ao apartamento, quando ia bater à porta, o celular tocou. Era Valéria, perguntou quando ia vê-lo. Ele respondeu, agora mesmo, bateu. Ao abrir a porta, radiante com a surpresa, ela abraçou-o, beijou-o, arrastou seu tricolor. Não saíram durante a noite, amor ininterrupto, uísque, carinho e alegria. Foi a maior comemoração conjunta de dois tricolores, afinal, Fluminense Campeão Brasileiro em 2010.

Valéria adiou seu retorno ao Rio. Passaram dias de amor interrompidos apenas por algumas horas de trabalho. Passearam pelo litoral apreciando o verde azulado do mar nordestino, Marcelo levou-a para um magnífico passeio de escuna na praia de Barra de São Miguel.

Ao passar pela prefeitura, Marcelo mostrou a bandeira do município, tremulava o pendão, verde, branco e vermelho. Ele contou a história. A cidade de Barra de São Miguel quando se emancipou, necessitava de uma bandeira, a secretária de educação levou o problema ao prefeito da época. Ele prometeu resolver. Em casa, o prefeito, engenheiro, passou a noite desenhando. Inconscientemente, aconteceu o incrível, fantástico, extraordinário, a bandeira foi desenhada bem semelhante, quase igual ao do seu time de coração, o Fluminense. A bandeira tricolor balançava pelo vento alegre no mastro da prefeitura para a alegria da carioca.

Valéria retornou encantada com a cidade, com a aventura, com as histórias, com Marcelo, seu alagoano, seu cangaceiro tricolor. Marcaram encontro no Rio, em janeiro, vão continuar as comemorações do campeão na cidade maravilhosa.

Comentários