MERCEARIA SANTO ANTONIO

Marcas do Passado

Remi Bastos

Apos vários anos trilhando na profissão de miçangueiro nas feiras livres de Santana do Ipanema, Guaribas e Poço das Trincheiras, no comércio varejista de miudezas, percursos que fazia semanalmente em uma charrete puxada pela sua fiel Burra Mineira, Seu Antonio Vicente, sentindo-se cansado do ofício resolveu mudar de atividade.
Como tinha experiência no ramo comercial, decidiu inicialmente alugar uma casinhola com duas portas e dois quartos mais ou menos nas vizinhanças da Matança, próximo a casa do soldado Fon Fon. O pensamento de Seu Antonio naquele momento era possuir um local reservado onde pudesse tomar suas cachaças e atender a “quengaiada”do cabaré de Artur Morais.
Várias vezes, eu, Benedito e o mano Mitinho o surpreendíamos com uma rameira no quarto juntamente com um de seus amigos de confiança, o João Botinha, pai de Petrúcio Lata D’água, quando costumeiramente levávamos água em um carrinho-de-mão.
Algumas vezes ao batermos à porta, o velho falava do interior do quarto, “Benedito venha mais tarde estou com dor de cabeça”. No entanto, logo veio o fracasso, Seu Antonio estava falhando na safadeza e já não acompanhava o amigo nas investidas ao copo.
Decidiu então montar uma mercearia de secos e molhados ao lado de sua residência no Bairro do Monumento. Seu Antonio Vicente foi pai de Benedito Abreu Soares, o Benedito Cego, fruto de um segundo casamento com Dona Solidade Abreu. O novo empreendimento levou o nome do seu proprietário, “Mercearia Santo Antonio”, onde tempo depois o prédio funcionou como uma pizzaria pertencente à Rosilene Dantas, viúva de Lumar Dantas. Para se chegar a Mercearia Santo Antonio, vindo das imediações do Tênis Clube Santanense, teria que passar em frente a casa de Seu Jonas Pacífico, no local conhecido como Baixinha e seguir por uma ladeira suave, margeando uma cerca de labirinto pelo flanco direito.
Seu Antonio Vicente estava empolgado com o movimento da mercearia e duas vezes ao mês viajava a Caruaru a fim de comprar mercadorias e reabastecer o estoque. Já não bebia com a mesma freqüência de antes. Sempre que fazia suas viagens a negócio, pedia ao seu filho Benedito que nos convidassem para acompanhá-lo na dormida na venda. Como garantia deixava uma arma com o Biu.
O tempo foi passando, Santana no arranque do progresso, e a idade, fez com que Seu Antonio loteasse o imenso terreno que possuía por trás de sua casa. Todo aquele conjunto residencial onde residem Narciso Alécio, Dona Zefinha Soares, estendendo-se pelo Bellu’s Hotel e adjacências pertenciam ao velho Vicente. Posteriormente, com a idade mais avançada mudou-se para Maceió onde comprou uma casa no loteamento Nuporanga, no Bairro Tabuleiro, passando a morar na companhia de sua filha Assunção até o ano de sua morte, em 1973.

(Em razão do espaço, deixo para continuar este acontecimento em outra oportunidade).

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