ZEZITO DE SEU ZÉ RATINHO

Marcas do Passado

Remi Bastos

Seu Zé Ratinho era um cidadão muito conhecido em Santana nos idos de 60. Funcionário do DNER, pessoa sincera, um bom desportista torcedor do Ipanema Atlético Clube em seus melhores dias, e acima de tudo honesto nas suas decisões, procurava está sempre ao lado da razão.

Após perder a esposa vítima de uma fraqueza espiritual quando matou a si próprio, Seu Zé Ratinho para fugir das lembranças da casa onde residia, passou a morar na Avenida Adeildo Nepomuceno Marques, bem ao lado do Tênis Clube Santanense. Foi aí que conheci esta humilde família composta por cinco filhos, sendo duas mulheres e três homens, dos quais Zezito era o mais velho. Crescemos praticamente na mesma rua ouvindo as estórias de trancosos contadas pelo esposo de Dona Enelzíndia (senhora que passou a cuidar da família enlutada), jogando chimbra, pião, jogos de botão e castanha, e preenchendo as manhãs de domingo e feriados jogando bola nos campinhos de Seu Abílio Pereira, Benedito Cego e no Baixio de Seu Nozinho. O Zezito sofria de um desvio visual que na época chamávamos de zarolho ou “Zanôio” para os mais evoluídos.  Andava sempre com o pescoço inclinado para um dos lados que o garantia uma melhor visibilidade. Vez por outra nas rodas de brincadeiras era tachado de “ôi pru cú” em razão da sua performance.

O menino foi crescendo e cada vez mais aperfeiçoando o seu futebol. No entanto, o respeito pelo seu superior era cada vez mais apurado. Muitas  vezes Seu Zé Ratinho antes de sair para o trabalho ordenava a todos de que não queria encontrar ninguém fora de casa ao retornar, era uma lei seca. Porem, o Zezito na sua secura por futebol, bastava o velho dobrar a esquina do Grupo Escolar Padre Francisco Correia para que ele pulasse a janela e partisse em disparada para o campinho de pelada no Baixio de Seu Nozinho. Era o último a chegar para completar o time, jogava de ponta esquerda e  era muito veloz, as vezes chegava passar da bola.  Certa vez, após ter realizado mais uma aventura,
empolgado com o jogo se esqueceu do tempo e quando perguntou as horas ao Nego Zé Lima que estava na reserva e com vontade de entrar na partida, este lhe respondeu dez para o meio dia, horário que o Seu Zé Ratinho estava chegando a casa. Não deu outra, Zezito sem dizer nada a ninguém entortou o pescoço e partiu em  disparada  de estrada a fora na velocidade de um raio. Só deu tempo pular a janela de volta, e quando o velho foi investigá-lo no quarto o encontrou fazendo flexão abdominal justamente para simular o vermelho no rosto e o cansaço do pique que havia realizado do Baixio até sua casa.

Zezito onde você estiver quero que saiba que os nossos momentos na rua em que morávamos, mesmo sabendo da infelicidade que experimentou com a morte de sua mãe, foi um período de flores e que poucos tiveram a oportunidade de desfrutar. Espero nos encontrar em Maceió para relembramos esse tempo ao calor gelado de uma boa cerveja.

Aracaju, 05/09/2009.

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