O INVERNO ESTÁ RONDANDO OS SERTANEJOS

Crônicas

Antonio Machado

Convencionou-se, no sertão, que, o inverno bom começa em abril, com as trovoadas do mês de março, mormente, no dia de São José, dia 19, porém este ano da graça do Senhor, elas falharam, deixando os sertanejos a verem navios, com suas esperanças frustradas, mas aos poucos, as trovoadas estão rondando o sertão, trazendo novos alentos a este povo bom e sofrido das Alagoas, haja vista em algumas partes do sertão já terem chovido, renovando as esperanças dos sertanejos, contudo, grande área sertaneja, ainda continua seca, e enquanto isto os carros pipas cortam as estradas vicinais dos municípios, levando água para a população.
Observa-se os acudes vazios, apenas uma áurea coberta de verde perpassa nas árvores, que ainda não trouxe o canto mavioso dos pássaros no seu chirleio nas árvores para o acasalamento na perpetuação da espécie, ainda se ouve no dorso da serra do Pedrão o canto melancólico da cauã no final da tarde cálida que morre no poente, e a lua cheia surge espreitando a torre pequenina da capela da Imaculada Conceição de Pedrão, com seus raios belos com seu luar prateado abraçando o Nordeste.
Os sertanejos estão com seus roçados prontos no aguardo das chuvas benfazejas , para serem cortadas, preparando-se assim para o plantio, pois são eles, os sertanejos agricultores, responsáveis e heróis anônimos pela alimentação do contingente sertanejo que moreja nesta e noutra plagas deste Nordeste imenso, a exemplo de tantos outros anônimos por aí afora. Quando se sabe que os incentivos agrícolas são os mínimos, quando deveriam ser o máximo, só comparo o agricultor sertanejo com o professor do Estado, tudo para eles implica numa dificuldade, os professores fazem greves, brigam com o governo mas conseguem tão pouco, porque vem os poderosos para dizerem que os movimentos são ilegais, e os agricultores, coitados, morrem com a pedra em cima. O governo já está anunciando a doação de sementes se já não o fez, mas vamos ver como vai chegar às mãos dos agricultores, porque os donos são muitos...
Ah! Sertão, sertão de mulher bonita e homem trabalhador, como tão bem cantou o Gonzagão, este sertão de tantas secas periódicas e históricas, sertão pobre, mas rico e cheio de votos capaz de decidir uma eleição majoritária no Estado, qual a sua redenção? Certamente alguém dirá o tão sonhado e propalado canal do Sertão, ah! Esse sim, seria mesmo, até. Mas qual de nós, sertanejo, que verá? Isto só a história dirá. Disse-me um sertanejo, que ao governo não tem interesse nenhum na conclusão dessa obra, porque ela é um celeiro de votos, já elegeu muita gente graúda, e ainda tem muitos votos, e enquanto isto a obra continua se arrasando com o cobra pelo chão, como canta o velho Roberto Carlos.
Colly Flores, o poeta sem métrica, agora curado de uma forte ‘’macacoa, voltou a escrever, e me mandou esta décima ‘’o sertão está esperando/ a chuva do céu chegar,/ e quando a terra for molhada/ para o sertanejo plantar,/ com a maior alegria/ para a família sustentar,/ de seu roçado,/ no sertão,/ com milho, fava e feijão, / e a sobra num caminhão/ vai a cidade alimentar.’’

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