O PRIMEIRO GRITO DE CARNAVAL E O ESQUADRÃO DO BB EM SANTANA

José de Melo Carvalho

O relógio marcava exatamente três horas da tarde. Estava quase terminado o expediente do BB e era uma sexta-feira que antecipava o carnaval naquela nossa bela cidade de gente grande como nunca, bonita, de respeito, valente e de educação. Tudo bem. Marcos Cintra, de boné no estilo militar mais parecendo o grande historiador, filosofo e general grego, ateniense Xenofonte, organizava com muito trabalho a turma, em fila indiana, todos de camisas brancas e de mangas compridas em direção à AABB, pois os preparativos da festa estavam a cargo de um colega gaúcho, que folgara naquele dia para tal evento. Dez carneiros e muitos galetos, banhados de sal, estavam espetados nas churrasqueiras enormes do clube, sob fogo ardente.

Nas primeiras filas, compostas pelos colegas mais antigos, daí, os mais novos, tanto de idade, como de tempo de banco. Lembro de Humberto, Jeso, Mané do Bode, Sêbo, Denisson, Alvaci, Peleite, Pinheiro, Ventura, Josimar, Eronildes, Neyder, o mano Djalma, Esdras Neguinho, Esdras Caldas, Raimundo, Zé Abdon, Nadinho, Ulisses Clarinete, Capiá, Leão, Zélito, Zé Cicero, o mano Jarbas, o Véi Narciso, Mário Beleza, Valdice, Paulo Neto, Aparecida, Zé Marcio, Alfredinho, Paulo Décio, Tonho Cupim., George, Jurandir, Neto, o mano Ademir, Elias, João Batista e dezenas de outros colegas, que no momento, esqueci.

No coice, os mais novos e na rabeira, a turma de apoio, a cambada de boas recordações, como Paulinho, portando um apito, ao lado, João Farias, Luiz de Gracita e o surubadinha, que era na época, Bastião de Zé Malta, hoje também aposentado do nosso BB, como a nossa turma, além de Vevéu, menor muito esperto “da época”.

Depois do grupo organizado, Marcos Cintra, ao levantar o seu braço direito, Paulinho, de imediato, com seu apito, deu um silvo longo, piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii. A turma se enquadrou. Depois, um silvo breve e começou a marcha em direção à AABB.

Pronto. O pessoal alegre seguia em passos largos, e as moradoras daquela artéria, às portas, como Ana Agra, Nilza Marques, Albertina, Maria de Lourdes e outras, comentavam: “que rapaziada linda” ao tempo, com gestos de educação, os colegas acenavam para elas, que estavam bem satisfeitas.

O grupo prosseguia em sua marcha, logo chegando à AABB, seu destino programado. Daí, o pelotão, adentrava ao clube, ocupando as suas mesas expostas, enumeradas, com a devida antecedência, como solteiros, aqui, casados alí...

O churrasco, ardia sobre um fogo e o cheiro gostoso invadia o ambiente convidando o esquadrão para beber e rolar. Mané Moraes, com o seu grupo “Os Tremendões” começava com a bateria, em ritmo de carnaval. As bebidas de todas iguarias, circulavam em bandejas dos garçons, com a velocidade do trem bala. Ei! Traga mais cinco geladinhas, uma garrafa de Mucuri, um litro de velho barreiro, um de uísque, uma garrafa de vinho, e assim, era sendo consumido tanto o churrasco como o entardecer.

As mulheres, namoradas e convidadas, começam a chegar, tornando o ambiente mais aconchegante e bonito. Casais enchem o salão a dançar, outros agarrados brincam no meio do clube. Atè Vardo Cuiuiú, entrou na festa, que era costume tanto no Tênis, como na AABB, seu acesso.

Quebra Guabiraba, mamãe eu vou ser soldado de Israel, troquei meu pé de cana, as aguas vão rolar, minha cueca tava lavada, ó quantas risos e dezenas de outras marchinhas, deixavam o ambiente sufocado pela alegria que tomava conta. O churrasco servido de mesa em mesa, não deixava ninguém fora do alcance.]

A noite rolou e o dia dava brechas do seu nascer. Os casais começaram a tirar o time, outros colegas também. Nadinho, algumas vezes, levou uns sobre seus ombros para o seu veiculo, outros, no meio de dois colegas, cambaleavam. Acabou a festa. Tudo bem. Maravilha, valeu memo.

Agora, chega a vez do pessoal da limpeza, coordenada pelo Seu Zé Malta. Lembrei nesse momento, da música composta por Osvaldo Oliveira, cantada por Jackson do Pandeiro “O diabo quando não vem, manda o secretário”. O saldo da festa foi Tonho Cupim dormindo dobrado sobre uma mesa; como a camisa branca, era longa, encobria o cabo do velho parabélum. Daí, um garçom para mostrar trabalho, deu uma lapada no espinhaço de Tonho cupim, dizendo: cachorro bebo, vá dormir na calcada porque essa mesa não é cama.

Pelo amor de Deus; Tonho levantou-se de repente, e deu um soco tão violento na cara do garçom, que caiu três metros à sua frente, ao tempo que sacou o parabélum disparando e errando o alvo, pois a bala atingiu somente a sandália do coitado, deixando um rasgo histórico no piso de taco, da época de Paulo Onofre. Depois, quis acionar o gatilho, sendo detido por Zé Malta {tomava conta do bar na época}, quando o elemento procurava a janela para fugir.

Depois da perda do instrumento ora confiscado, Joâo Raposa, foi chamar Seu Zé Nobre, proprietário de carro de praça, que por sinal, morava frente à AABB. O Tonho foi encaminhado para o apartamento de Dona Vicença, depois da delegacia perto da empresaria Dona Maria Brejâo, sob recomendação que deixasse a garrafa cheia d’água e a bacia debaixo da cama. No outro dia, de gravata, sem o velho parabélum, estava sete horas, na porta do BB, como era costume. Bom menino.

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