Palma Forrageira segundo o IPA

João do Mato

MANEJO E UTILIZAÇÃO
DA PALMA FORRAGEIRA
(Opuntia e Nopalea)
EM PERNAMBUCO
Atenção: transcrevemos aqui,em função da importância do trabalho, parte de uma pesquisa desenvolvido pelo IPA.-Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária.

IPA. Documentos, 30
Publicação da Empresa Pernambucana de Pesquisa Agropecuária - IPA
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2 - CLIMA
A palma é uma forrageira bem adaptada às condições do semi-árido, suportando grande período de estiagem devido às propriedades fisiológicas, caracterizadas por um processo fotossintético que resulta em grande economia de água, conforme se pode observar na Tabela 2. Contudo, o bom rendimento dessa cultura está climaticamente relacionado a áreas com 400 a 800mm anuais de chuva, umidade relativa acima de 40% (Viana, 1969) e temperatura diurno-noturna de 25 a 15ºC (Nobel, 1995).
Vale ressaltar que umidade relativa baixa e temperaturas noturnas elevadas encontradas em algumas regiões do semi-árido podem justificar as menores produtividades ou até a morte da palma.
Tabela 2. Eficiência do uso de água de leguminosas, gramíneas e cactáceas, conforme o metabolismo fotossintético. Metabolismo fotossintético Eficiência do uso de água (kg de água / kg de matéria seca)
Leguminosas 700-800
Gramíneas 250-359
Cactáceas 100-150
3 – SOLO E ADUBAÇÃO
A palma forrageira é uma cultura relativamente exigente quanto às características físico-químicas do solo. Desde que sejam férteis, podem ser indicadas áreas de textura arenosa à argilosa, sendo, porém mais freqüentemente recomendados os solos argilo-arenosos. Além da fertilidade, é fundamental, também, que os mesmos sejam de boa drenagem, uma vez que áreas sujeitas a encharcamento não se prestam ao cultivo da palma.
A adubação pode ser orgânica e/ou mineral. Em caso de se optar pela adubação orgânica, pode ser utilizado estrume bovino e caprino, na quantidade de 10 a 30t/ha na época do plantio, e a cada dois anos, no período próximo ao início da estação chuvosa. Dependendo do espaçamento de plantio e nível de fertilidade do solo, nos plantios mais adensados usar 30t/ha.
Para a adubação mineral, é necessário se proceder a uma análise do solo para uma melhor orientação quanto aos níveis a serem recomendados. Em São Bento do Una, (PE), foram obtidos aumentos da ordem de 81% na produção com 10t de estrume de curral/ha e de 29% com a fórmula de 50, 50 e 50kg/ha de N, P2O5 e K2O, respectivamente, quando comparada com a palma não adubada. Já o calcário, na quantidade de 2t/ha, não propiciou aumento de produtividade (Santos et al., 1996). Trabalhos em andamento mostram produtividades crescentes até 600kg/ha de nitrogênio. A Tabela 3 apresenta os valores da extração de nutrientes pela cultura da palma forrageira (Santos et al., 1990).
Vale ressaltar que melhores resultados de produção têm sido observados quando se associam as adubações orgânica e mineral.
Tabela 3. Extração de nutrientes pela cultura da palma forrageira. Produtividade
(t de MS/ha/ano) Quantidade de nutrientes removidos (kg/ha)
N P K Ca
10 90 16 258 235
4 – CULTIVARES
Em Pernambuco, há predominância de três cultivares, ou seja, a gigante ou graúda, a redonda e a miúda ou doce . Entre todas as espécies, a palma gigante, que é a mais comum, juntamente como palma redonda, tem mostrado mais rusticidade que a miúda. Recentemente, o clone IPA-20, material obtido por cruzamento seguido de seleção, tem alcançado excelente aceitação pelos produtores.
O IPA detém um banco de germoplasma na Estação Experimental de Arcoverde, (PE), com cerca de 1.400 entradas de diferentes materiais, sendo 200 destas introduzidas de vários locais como o México, EUA, África do Sul, Argélia, Chile entre outros, bem como vem avaliando os 20 melhores materiais nos municípios de Petrolina, Serra Talhada, Sertânia, Arcoverde, São Bento do Una e Caruaru (PE).
Em termos de produtividade de massa verde, a palma miúda tem se mostrado inferior às cultivares gigante e redonda. No entanto, quando essa produção é transformada em matéria seca, os últimos resultados se equivalem, por ter a palma miúda mais matéria seca que as outras. Também em trabalhos realizados em São Bento do Una (PE), o clone IPA-20 vem se destacando como mais produtivo que os demais, com uma superioridade em torno de 50% quando comparado com a palma gigante.
Recentemente, em Arcoverde (PE), Santos et al. (2000) observaram que os clones IPA 90-110, IPA 90-111 e IPA 90-156 têm potencial forrageiro superior aos existentes na região. Porém, esse potencial só poderá ser alcançado com adubação, conforme recomendado no item 3. O clone IPA-20 está sendo multiplicado para distribuição aos agricultores. Ao avaliar a produtividade de vinte clones de palma forrageira (Opuntia e Nopalea) no município de Caruaru-PE, Santos et al.(2005) ratificaram a superioridade do clone IPA-20 sobre os demais.
5 – PLANTIO
O plantio da palma usualmente é realizado no terço final do período seco, pois quando se iniciar o período chuvoso os campos já estarão implantados, evitando-se o apodrecimento das raquetes que, plantadas na estação chuvosa, com alto teor de água e em contato com o solo úmido, apodrecem, diminuindo muito a pega devido à contaminação por fungos e bactérias.
Por ocasião do plantio, a posição do artículo, que é um cladódio, também chamado de raquete e de “folha” pelo produtor, pode ser inclinada ou vertical dentro da cova, com a parte cortada da articulação voltada para o solo), plantada na posição da menor largura do artículo, obedecendo à curva de nível do solo. O espaçamento depende do sistema adotado pelo produtor. Quando se pretende fazer cortes a cada dois anos e obter maior produção, pode-se optar por plantio em sulcos em espaçamento adensado de 1,0 x 0,25m, que demandará mais adubação e capinas.
O cultivo adensado da palma, ou seja, a utilização de espaçamentos menores (1,0 x 0,25m ou 1,0 x 0,50m), tem sido recentemente usados como forma de obter altas produtividades). No entanto, com espaçamento adensado, tem-se observado sintomas de amarelecimento do palmal em vários locais, tais como Caruaru, São Bento do Una e Serra Talhada, em Pernambuco e Major Izidoro, em Alagoas. Supõe-se que tal amarelecimento seja devido à deficiência de algum nutriente no solo, ou ao aparecimento de nematóides, que podem estar inibindo a absorção de algum nutriente pela cultura.
No caso de se utilizar a palma como alimento estratégico, deverá ser utilizado o espaçamento de 1,0 x 0,5m, podendo-se fazer colheitas entre dois ou mais anos, usando-se adubação mineral de acordo com análise do solo e orgânica, preferencialmente associadas. A palma em fileiras duplas de 3,0 x 1,0 x 0,5m cultivada para fins de consórcio, com culturas alimentares ou forrageiras, tem ainda a vantagem de possibilitar os tratos culturais com tração motorizada.
6 – CONSORCIAÇÃO
A utilização de culturas anuais intercaladas com a palma, como milho, sorgo, feijão, fava, jerimum, mandioca etc., tem sido uma prática adotada pelos produtores com objetivo de viabilizar o cultivo em termos econômicos e de tratos culturais desta forrageira Todavia, nos espaçamentos simples de 2,0 x 0,5m e 2,0 x 1,0m, recomenda-se fazer o consórcio apenas no ano do plantio da palma ou nos anos de colheita. O consórcio em fileiras duplas é o mais recomendado e poderá ser de 3,0 x 1,0 x 0,5m ou em fileiras com mais de 3m entre as filas duplas, dependendo da necessidade do produtor (Farias et al., 1986). Em pesquisa realizada em São Bento do Una, PE, durante 12 anos, Farias et al. (2000) obtiveram produções de 5,2; 4,8 e 2,9t MS/ha/ano de palma, de 1,6; 1,3 e 2,0t ha/ano de grão de sorgo e 2,1; 2,1 e 3,1t MS/ha/ano de restolho do sorgo, para os tratamentos 2,0 x 1,0m; 3,0 x 1,0 x 0,5m e 7,0 x 1,0 x 0,5m, respectivamente. Foram feitas adubações com 20t/ha de estrume de curral no ano das colheitas da palma. O espaçamento em fileiras duplas também favorece o uso de mecanização, diminuindo-se, assim, os custos de produção, além de contribuir para o controle da erosão do solo.
11. ESTIMATIVAS DE CUSTOS DE PRODUÇÃO DE PALMA
Os custos relativos à implantação de um hectare de palma, em quatro espaçamentos, podem ser vistos na Tabela 12.
Tabela 12. Estimativa de custo (R$) de implantação de um hectare de palma, em quatro espaçamentos. Discriminação Custos para os espaçamentos
2,0 x1,0m 1,0x0,2m 1,0 x0,5m 3,0 x1,0x0,5m
Preparo do solo 90,00 90,00 90,00 90,00
Plantio 150,00 300,00 450,00 165,00
“Sementes” de palma e transporte 120,00 405,00 825,00 210,00
Adubação orgânica 450,00 450,00 450,00 450,00
Adubação com fósforo 180,00 180,00 180,00 180,00
Capinas 540,00 585,00 720,00 540,00
Total 1.530,00 2.010,00 2.715,00 1.635,00
Vale salientar que as despesas com capinas poderão diminuir com o uso de herbicidas, pois cada aplicação custa cerca de R$150,00, devendo ser feitas duas a três aplicações por colheita bienal, ficando contudo este uso pendente da extensão de registro de produtos para utilização em palma, além de que a produtividade poderá ser aumentada em função do manejo do palmal, já que experimentalmente tem-se conseguido até mais de 40t MS/h12.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O IPA e a UFRPE vem realizando pesquisas com palma forrageira desde o ano de 1958. Durante o decorrer desses anos, houve um considerável ganho de produção de matéria verde desta forrageira, bem como foram acumulados resultados de melhoramento, espaçamento, adubação, tratos culturais, consorciação, freqüências e intensidades de cortes e alimentação animal, visando à produção de carne e leite. As informações básicas obtidas até o momento são:
��Os materiais de palma IPA-20, IPA-90-110, IPA 90-111 e IPA 90-156 produzem mais que a cultivar gigante, que é a mais cultivada na região;
��o emprego da adubação orgânica (20 a 30t/ha de esterco de curral bem curtido) ou mineral (100kg de N/ha e fósforo, potássio e calcário de acordo com análise de solo) e de um espaçamento adequado pode propiciar aumentos de mais de 100% na produção de forragem;
��a palma miúda, cultivada no espaçamento de 1,0 x 0,5m e adubada com 20t/ha de esterco bovino, produziu em torno de 75t MV/ha/ano, o que corresponde a 9,4t MS/ha/ano. Esta cv. é mais exigente quanto aos tratos culturais e demais condições ambientais, porém é a cv. de maior teor de matéria seca, carboidratos solúveis e digestibilidade;
��os tratos culturais do palmal, por meio do roço ou capina, são essenciais para se obter um aumento de produtividade em torno de 100%. Vale ressaltar que no plantio, utilizando-se espaçamento adensado, observou-se que herbicidas de pré-emergência foram eficientes no controle de plantas daninhas sem causar efeitos fitotóxicos na cultura da palma;
��a freqüência de corte, a cada quatro anos, do palmal plantado em espaçamentos de dois ou mais metros entre filas, deve ser considerada uma importante estratégia de convívio com o semi-árido, pois a palma acumula a produção com persistência do valor nutritivo;
��a palma, depois de colhida, pode ser armazenada à sombra por um período de até 16 dias, sem perda do valor nutritivo e comprometimento da produção de leite, o que pode representar uma redução dos custos com colheita e transporte;
��a palma pode participar em até 40 a 50% da matéria seca da dieta dos bovinos e deve ser fornecida misturada a outros alimentos;
��a palma é um alimento que possui uma digestibilidade superior à da silagem de milho, porém contém um baixo teor de fibra. Mesmo considerado um alimento de alto valor energético, não deverá ser administrado isoladamente, necessitando complementação protéica e fibrosa;

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