FALECEU ROMILDO PACÍFICO

Djalma Carvalho

Com o lamento e a consternação da família e dos amigos, chega-me a dolorosa notícia do falecimento, no dia 5 deste mês de abril, do santanense Romildo Pacífico dos Santos, meu colega aposentado do Banco do Brasil e membro efetivo da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Infelizmente, o bondoso amigo e conterrâneo deixa-nos como vítima da terrível Covid-19, doença fatal causada pelo perigoso Coronavírus que se espalhou em forma de pandemia, causando, historicamente e a partir de 2020, a maior crise de saúde no mundo.
No Brasil, particularmente, o perigoso vírus avança de forma avassaladora, infectando mais de 13 milhões de brasileiros, ceifando vidas, nesta data atingindo o número superior a 340 mil óbitos.
Colega de trabalho, querido de todos, homem de bem e do bem, nascido nas asperezas do sertão calcinado de Santana do Ipanema, foi-se o bom amigo Romildo Pacífico dos Santos, ainda com muita disposição e vontade de viver. Profissional responsável, competente, sério, respeitável, leal, atencioso. Pai de família exemplar.
Nessas passagens dolorosas da vida, lembro-me, cada vez, da frase do jornalista José Machado Mota Neto, que li e guardei comigo, publicada em um dos jornais de Alagoas, que diz: “Tombando sem causa ou com causa conhecida, lá se vão os amigos.”
Não gosto de falar nem escrever sobre tristeza, pranto, consternação. Em minhas crônicas sempre enveredei por caminhos alegres, de sorriso e riso. Privilegiei temas de encantamento da alma e da vida e da beleza das paisagens que nos cercam, aqui em Alagoas, no Brasil e pelo mundo afora.
Tenho sempre em mente o que disse o consagrado poeta Vinícius de Moraes, em um dos seus poemas: “Tristeza, por favor, vai embora; a minha alma que chora; quero voltar àquela vida de alegria.”
Numa noite bem escura, em 5 de junho de 1961, lá para meia-noite, depois de desligados os motores envelhecidos da empresa de energia e luz de Santana do Ipanema, bateu à porta da casa de minha avó Bilia, onde eu morava, João Farias Filho, prestimoso contínuo do Banco do Brasil, assustando-nos. Trazia-me a notícia da minha aprovação no concurso do Banco do Brasil, acrescentando que, eu e Romildo Pacífico, tínhamos sido os dois filhos de Santana do Ipanema aprovados no referido certame. Que eu deveria, logo cedo da manhã seguinte, comparecer à agência do BB local, para encaminhamento dos documentos necessários à minha qualificação.
Nessa noite, com a alvissareira notícia, não mais consegui dormir, porque ela, a boa notícia, haveria de mudar o curso da minha vida, como o da vida do conterrâneo Romildo, também aprovado.
Tenho em minha estante dois livros escritos pelo pranteado amigo. O primeiro, publicado em 2003 e, em segunda edição, em 2011, intitulado Do Alto Bonito; o segundo, Pontos de Vida, publicado em 2006. Ambos, autobiográficos.
Vida de muita luta e de trabalho honrado. Vida de menino nascido no campo, no meio rural. Com apenas 5 anos de idade, ele e mais três irmãos menores, órfãos de pai. A mãe viúva, com 25 anos de idade, quatro filhos para criar e uma propriedade de 100 tarefas para trabalhar. De patrimônio, além da pequena propriedade, o falecido pai deixara 2 vacas de bezerros e 2 novilhas, apenas.
Com 7 anos de idade Romildo ajudava o tio a arar terra de sua mãe, para plantio de lavouras de subsistência. Carregar água, para abastecer a casa, em lombo de jumento, tangendo-o estrada afora, era prática frequente em época de seca braba.
Do Alto Bonito a Santana do Ipanema, Romildo andava diariamente, indo e voltando, 24 quilômetros, para estudar no Ginásio Santana.
A vida melhorou quando sua mãe resolveu morar na cidade. Aí Romildo, já adolescente, começou a trabalhar no comércio, em padaria, em armazém de compras de cereais, em escritório contábil. Aos 19 anos, inscreveu-se no concurso do Banco do Brasil.
Aprovado, e com essa idade, tomou posse na agência de Santana do Ipanema em 10/7/1961, onde trabalhou em duas carteiras bancárias e exerceu a comissão de caixa, até transferir-se para a agência Centro de Maceió em 1967. Reencontramo-nos, em 1975, nessa mesma agência, para onde fui transferido para exercer o cargo de Chefe de Supervisores. Ele estava ali, comissionado como chefe de serviço, lotado na Carteira de Crédito Geral, Rural e Industrial, depois de trabalhar por muito tempo na Tesouraria.
Estudou Direito na Ufal, concluindo seu curso em 1973. Formado, exerceu o magistério universitário por alguns anos.
Aposentou-se em 10/7/1991, com o cargo de gerente-geral de agência, com exatos 30 anos de serviço prestado, como bancário.
Deixa viúva Maria Salete, e os filhos Andrea Maria, Romildo André e Flávio Henrique.
Como no excerto da carta do apóstolo Paulo a Timóteo, fechou-se o ciclo: “Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé.”

Maceió, abril de 2021.

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