DIA DO PALHAÇO

Djalma Carvalho

Num dia desses, enquanto dirigia meu veículo, ocorreu-me ouvir a marchinha de carnaval “Máscara Negra”, composição de Zé Kety, que tem como início: “Quanto riso, oh, quanta alegria! Mais de mil palhaços no salão/ Arlequim está chorando/ Pelo amor da Colombina/ No meio da multidão.”
A seguir, “Palhaçada”, também conhecida como “Cara de Palhaço”, composição de Haroldo Barbosa, interpretada pelo sambista Miltinho: “Cara de Palhaço/ Pinta de palhaço/ Roupa de palhaço/ Foi este o meu amargo fim.”
Vejo em jornal, a propósito, que 10 de dezembro é Dia do Palhaço, iniciativa, a partir de 1981, da casa de eventos e animações, de São Paulo, chamada AbraCadabra, data comemorativa chancelada pela Lei nº 13.561/2017. Evento também comemorado no mundo, no período de 5 a 12 de outubro, como Semana Internacional do Palhaço ou International Clown Week.
Impagáveis palhaços provocavam em mim, ainda adolescente, gostosas risadas nos circos que visitavam Santana do Ipanema na década de 1950, por aí.
É de Charles Chaplin a frase: “Um dia sem risada é um dia desperdiçado.”
Antolim Garcia, antigo proprietário do Circo Garcia, disse em seu livro O Circo: “Tratando-se de palhaços, pensamos logo na melhor maneira de rir; a vida é tão vária, tão enfadonha, que as raras oportunidades para rir devem ser aproveitadas.”
Então tratemos de riso, de palhaço e de circo, como o fiz em meu livro Festas de Santana, 2ª edição, às páginas 153/157 e 203/206.
Quando se trata de riso, há que citar a figura memorável de Charlie Chaplin, o Carlito, que me fez rir, gargalhar, muitas vezes, no antigo Cine Glória em Santana do Ipanema, assistindo a aventuras loucas e engraçadas do grande palhaço, em cenas de cinema mudo.
Circo sem palhaço não é circo, é apenas arremedo de circo, porque ele, o palhaço, diverte crianças e adultos. Com o passar do tempo, as recordações dele vão passando de pais para filhos, para netos. No circo, os adultos transformam-se em crianças.
Circo é casa de riso, de palhaçada. É casa de espetáculo itinerante, cercada e coberta de lona, desmontável, pavilhão armado onde artistas de habilidades diversas se exibem, e seus palhaços divertem crianças e adultos. De casa lotada, o circo será festa em cada cidade do interior, durante temporadas.
Diz-se que o Ceará é conhecido como terra de humoristas. O Brasil, por seu turno, é terra de famosos palhaços, como Bozo, Carequinha, Picolino, entre outros. Porém, o mais famoso deles terá sido Piolin, o Abelardo Pinto (1897-1973). Nascido em 27 de março, data que virou Dia do Circo.
Vez por outra, Santana do Ipanema recebia um novo circo, para alegria da meninada. O Circo de Zé Bezerra, por exemplo, esteve algumas vezes na cidade, sempre de casa lotada por razões muito simples: bons espetáculos, bons palhaços e a beleza de Iracema, jovem sensual, cortejada pelos rapazes do meu tempo. Rumbeira de saia curta a rebolar para aplausos da buliçosa plateia e também atriz de peças do teatro do circo.
Soube, infelizmente, por meio de artigo de autoria de Antônio Samarone, publicado na imprensa sergipana, que o Circo de Zé Bezerra encerrara suas atividades. Seu proprietário, natural de Itabaiana e que dava nome ao circo, havia sido assassinado na cidade de Queimadas, Bahia. Pleiteava o articulista uma estátua em homenagem ao grande artista e empreendedor sergipano.
Recordando, afinal, a passagem de circos por Santana do Ipanema, algumas vêzes, ainda meninote, pensei em juntar-me aos meninos que seguiam o palhaço-perna-de-pau que rua acima e rua abaixo anunciava: “Hoje tem espetáculo?” Ao que os meninos em coro respondiam: “Tem sim senhor!” Mas minha avó Bilia, entre carinhosa e autoritária, não me permitia ter a testa pintada como ingresso grátis, à noite, no circo.

Maceió, dezembro de 2022.

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