AS INICIAIS RCP

Djalma Carvalho

Nesta conversa de hoje, que devo tratar de hospitalidade e de saudade, começo a dizer que encontrei, quando da minha posse no Banco do Brasil e como prática administrativa, o uso das iniciais identificadoras do funcionário nos documentos datilografados, como recibo, partida contábil, ficha cadastral, contrato, memorandos e cartas. Daí o título destas notas.
Hospitalidade significa, antes de tudo, boa e gentil acolhida. A hospitalidade do povo santanense sempre foi ressaltada, com bastante ênfase, pelos cronistas do passado e por todos aqueles que visitaram Santana do Ipanema, a negócio, em visita, em eventos. E por aqueles, então, que tenham escolhido a cidade para nela residir definitivamente. Ainda mais por outros que, temporariamente, assumiram emprego ou exerceram cargos na cidade.
Como exemplo, o bancário, o promotor de justiça, o juiz de direito, o servidor público, e tudo o mais. Todos deixaram a cidade com muita saudade e com boas e gratas recordações, a julgar pelos francos e leais depoimentos, nesse sentido, de cada um deles. Muitos deixaram grandes amigos e compadres na cidade. Os solteiros, grandes amores.
Há um dito popular na cidade, que diz: “Quem nasceu nesta cidade ou aqui residiu por algum tempo, e tomou água salobra do Panema, jamais esquecerá esta terra e sua gente.”
Nessa história, diga-se que a água do rio Ipanema, retirada das cacimbas do seu leito, sempre foi “água salobra, com gostinho de azinhavre”, como assim o disse Oscar Silva, escritor santanense.
Todo este comentário inicial vem a propósito do encontro que tivera, recentemente, Nelson Almeida Filho, amigo e colega aposentado do Banco do Brasil, com o também nosso colega aposentado RCP, conhecido pelas passagens pitorescas de sua vida boêmia e de aprendiz de candidato a etilista, quando muito jovem.
Hoje, não. O estimado colega RCP é cidadão inteiramente dedicado à família, honesto, responsável, sem vício, de vida saudável. Parece-me que, de boa fé, se convertera aos preceitos religiosos de evangélicos.

Costumo trocar telefonemas, com frequência, com Nelsinho, que, residente na parte baixa de Maceió e bem relacionado na sociedade alagoana, sempre me dá notícia dos colegas aposentados e dos que já nos deixaram e partiram para a vida eterna.
Quando tomei posse em julho de 1961 na antiga agência do BB em Santana do Ipanema, localizada ao lado da Casa O Ferrageiro, no centro da cidade, lá encontrei no quadro de portaria o colega RCP, jovem penedense, muito educado, atencioso, dedicado ao trabalho e de boas amizades no BB e na cidade.
Em 1975, reencontramo-nos em Maceió, na mesma agência centro da Rua Senador Mendonça, para onde ele havia sido transferido fazia alguns anos.
A cada momento, em conversa comigo, RCP lembrava-se com muita saudade de Santana do Ipanema. Contou-me, então, Romualdo Correia Paes que, certa vez, despreocupado e depois de uma homérica farra em Maceió, apanhara o primeiro ônibus para sua residência. Porém, sem perceber, apanhara, erradamente, ônibus de linha interurbana. Nele aboletara-se, adormecera e somente acordara em Cacimbinhas, já no sertão alagoano.
Como se tratava de apenas 35 quilômetros para o final da linha, resolveu saltar em Santana do Ipanema, para abraçar velhos amigos e matar saudades da hospitaleira santa terrinha...

Maceió, julho de 2021.

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