ABRAÇOS DE COMPATRÍCIOS

Djalma Carvalho

Em viagens de excursão em grupo que realizei pelo o mundo afora, várias vezes me encontrei com brasileiros que trabalhavam e residiam no exterior, sempre saudosos do Brasil. O local mais fácil para encontrá-los será o de bares e restaurantes, ali facilmente identificados quando escutam nossa conversação no idioma português.
Um pedaço sentimental da pátria brasileira logo se transporta para esses encontros, expresso no abraço apertado, prazeroso, carregado de saudade do Brasil, de sua cidade natal, dos familiares, de sua gente.
No período de 10 a 23 de agosto de 2011, eu e Rosineide, Ademir e Marisete, dois casais, viajando sob os cuidados e orientação da empresa portuguesa Abreu Turismo, estivemos fazendo o circuito Paris, Bordeaux, San Sebastian, Bilbao, Madri, Salamanca, Coimbra, Fátima e Lisboa, com uma pequena estada na cidade do Porto.
De vez em quando, nesse percurso turístico, observamos Ademir, meu irmão, a conversar longa e animadamente com garçons de bares e boteco, uma vez por ele identificados e após responderem a que time de futebol do qual eram torcedores no Brasil. Conversa animada e, com certeza, de saudade da terra natal. Em Salamanca, por exemplo, jovem brasileiro e estudante universitário atendeu-nos, cordialmente, no restaurante da esplanada de uma das principais avenidas da cidade.
Acabo de ler no “Apenso no Grifo”, título que, inteligentemente, o confrade João Neto Félix Mendes dá as suas publicações, sobre história, pesquisa, memórias, reminiscências, sempre dosadas de beleza literária.
Agora vejo o contexto do breve histórico da ditadura militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985, de violenta repressão a seus opositores. Muitos foram presos, torturados, assassinados ou desaparecidos. Outros recorreram ao exílio.
No contexto da monografia “Imprensa do Exílio” da graduanda em jornalismo Thatiana Amaral de Barcelos, publicada em 2008 pela UFRJ, acha-se o relato da vida e morte do santanense Nestor Peixoto Noya.
Trata-se, segundo a autora, de “trabalho minucioso e singular de reconstituição histórica da chegada e adaptação dos brasileiros exilados” na França, Suécia e Suiça, primeiros países que os acolheram.
Em 1973, também como exilado, Nestor Noya chegou à Suécia, para ficar e trabalhar nesse país. Somente depois da Anistia (Lei 6.683/1979), Nestor esteve em Santana do Ipanema, parece-me que em duas ou três vezes. Em uma dessas vindas, em 2000, esteve ele em Garanhuns, a convite, para a festa do centenário do Colégio XV de Novembro, no qual estudara o curso de ginásio e o científico.
Na Suécia trabalhou e aposentou-se depois de 30 anos de serviços profissionais prestados ao Estado sueco, como fotógrafo e cinegrafista. Lá permaneceu até sua morte em 6/11/2016, aos 76 anos de idade. Cremado seu corpo, os restos mortais foram sepultados em 29/4/2017, em Santana do Ipanema, sua terra natal. Deixou três filhos: Joana, Simon Moacyr e João Pedro. Os dois primeiros moram na Suécia. João Pedro, em Niteroi-RJ. Filhos de relacionamentos diferentes.
A propósito desse texto sobre Nestor Noya, voltemos ao comentário sobre o cordial e prazeroso encontro com brasileiros no exterior, do qual tratamos no início desta conversa.
Lembrei-me, então, do fato que ocorreu, faz muito tempo, com senhoras alagoanas participantes de grupo em excursão pela Escandinávia, ao visitarem um shopping Center em Estocolmo, na Suécia.
Vendo-as, indo e vindo, falando português, um alegre senhor delas aproximou-se, perguntando-lhes de qual estado do Brasil elas procediam. Ao responderem que eram de Alagoas, o senhor disse-lhes: “Também sou alagoano. Sou de Santana do Ipanema.”
Pronto. A partir daí, com saudade de sua terra natal, a conversa alongou-se, acompanhando-as durante toda a visita ao shopping. A conversa intensificou-se, mais ainda, logo depois que Nestor Noya soubera que uma das senhoras da excursão, viúva de funcionário do Banco do Brasil, havia residido em Santana do Ipanema.

Maceió, abril de 2021.

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