GELEIRAS NO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas

GELEIRAS NO SERTÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 26.4.2010)
Antigamente, não tão antigamente assim, pelo menos esses insensíveis (nem todos) chamados políticos, quando morriam eram mais comentados. A imprensa escrita geralmente dava uma página, duas ou três falando daqueles indivíduos desde o berço. Eram biografias completas como se fossem honras fúnebres mesmo. Muitos leitores que acompanhavam e admiravam aqueles agentes, compravam e guardavam os jornais como verdadeiras relíquias, exibindo vinte ou trinta anos depois, aos amigos, à mídia, em reuniões políticas intelectuais... Às vezes o falecido se tornava célebre, entrava firme para a história e qualquer objeto que se referisse a ele, tinha muito valor até para colecionadores. É o caso de Juscelino, Getúlio, Caxias e tantos outros cultuados no Brasil. Não nos referimos ao hábito de guardar esses objetos, mas o de se escrever sobre o homem que foi prefeito famoso, governador, senador, presidente da República. Mas outros homens que militaram também em cargos públicos foram reconhecidos após a passagem. Esse hábito da imprensa parece que vem acabando ou mesmo sendo trocadas essas homenagens biográficas dos políticos por outras profissões como a de cantor, por exemplo. Você lembra quando a revista Planeta lançou uma edição extra como tributo a Chico Xavier? Foi publicada em julho de 2002 e custou ao leitor R$ 5,50. Nós a possuímos. Guardamos com muito carinho e temos a maior satisfação em que o pesquisador interessado leia.
Essas observações são coisas do cotidiano aos olhos de escritores, poetas, humoristas e aos de qualquer outro mortal. Meu velho sempre dizia: “tem qente que vê, mas não observa”. Queria ele dizer que não se presta atenção aos detalhes e se assim o faz, logo esquece a lição (se for o caso). É que, sabendo da vida profícua de Albérico Cordeiro, um homem tantas vezes deputado federal e duas vezes prefeito da “Princesa do Sertão”, a imprensa falou do vulto um tanto murcha. Foi ele quem criou o slogan mais esperto dos últimos anos na política alagoana: “Cordeiro Trabalha”. Uma frase de apenas duas palavras, mas de efeito arrasador para os adversários. Outro político foi o empresário Sampaio que foi um símbolo de Palmeira dos Índios, político e empreendedor no estado. É bom repetir, que estamos apenas comentando o encolhimento das antigas reportagens a respeito do assunto. Não acompanhamos trajetória de político nenhum.
Talvez esses comentários não viessem à tona se não tivéssemos sabido do falecimento de mais um dos filhos de Tibúrcio Soares. Tibúrcio, alto comerciante em Santana, fundador de dois cinemas importantes, político por pouco tempo e uma das pessoas mais decentes de Alagoas. A única homenagem que eu conheço a esse magnífico cidadão, são as páginas que estão em nosso livro inédito sobre a História de Santana. Nem uma escola, nem uma rua, nem um prédio público. Uma vergonha às costas que deram a uma pessoa tão ilustre e de tanto caráter. Não importa o século. ELES continuam fazendo GELEIRAS NO SERTÃO.


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