O PÁSSARO VEM- VEM ESTÁ EM EXTINÇÃO NO SERTÃO

Antonio Machado

Antonio Machado

O sertão alagoano é parte do polígono das secas no Nordeste, cuja área de terra é habitada por uma fauna e uma flora das mais belas do Brasil, chamando atenção aos mais curiosos ornitólogos do país, a plumagem dessas aves que outrora povoavam a região era surpreendente, além do canto maravilhoso, que se constituía numa sinfônica silvestre, mormente no amanhecer de mais um dia, ou mesmo no final da tarde, quando o sol começava a crestar a crista das serras no acaso de mais um dia. As aves eram as flores vivas que voavam, pulavam cada uma no seu trinitar diferente na grande orquestra sem maestro. E em meio aquela diversidade de aves e cantos, estava o Vem- vem, que dentro de sua pequenez, era bonito ouvi-lo cantar no seu canto onomatopaico de vem- vem, outros chamam de “vim-vim”, seu canto é tão maravilhoso que o poeta Humberto Teixeira, inspirado compôs magistralmente a cantiga de Vem- Vem que Gonzagão gravou, e se tornou um hino nacional nordestino “quando ouço ele cantando/penso ser você que vem/ fico de oio no caminho/por fim não chega ninguém”.
Sendo o Vem- vem uma ave tão pequena, porém não passou despercebido aos olhos do poeta, essa ave singela tímida de cores preta e amarela, e até às vezes se camufla na folhagem das árvores, mas seu canto é bonito e renova as esperanças dos sertanejos, que ao ouvirem, acreditam ser prenúncios de coisas boas a chegar, notadamente , quando se está esperando alguém, certamente não vai tardar, portanto é sempre bem vindo o canto do Vem-vem no sertão, que outrora era infestado com essas aves tão queridas e admiradas pelos sertanejos. Andam sempre casalados, fazem pequenos ninhos e põem entre dois a três ovos pequenos, criam seus filhotes com pequenos insetos que trazem do campo, são aves muito sensíveis, dada a pequenez de seu porte, mas seu canto é destaque, seu habitat é a copa das árvores.
Ocorre porém, que o desmatamento desordenado e sem controle tanto da flora quanto da fauna , esses pequenos seres estão praticamente em extinção, o que é uma tristeza deveras lamentável. Hoje os campos desnudos ainda sofrem as queimadas levando tudo de roldão, diziamando tudo, matando a natureza destruindo o meio ambiente, que é composto de tudo isto, sem a conscientização devida do homem como responsável de tudo.
A fauna sertaneja cada dia fica menor, depois que passarinho passou valer dinheiro, criou-se o comércio das aves, aí que me vem lembranças de um poeta olhodaguense, conhecido por Benedito do Pedrão, o poeta grande admirador da natureza, se perguntou: como é que se prende um passarinho,/ sem ele matar, sem roubar sem fazer nada?/ Diante dessa indagação, ele escreveu: “se fosse para viver na prisão/prendia o galo de campina/ mesmo sem ser ave de rapina/mas estraga nossa plantação/preferia prender o gavião/que dízima a pintarada/ /pegando eles, cedo, de madrugada, /estranho e levando prá seu ninho/ como é que prende um passarinho/ sem matar, sem roubar, sem fazer nada?”Nesta décima o poeta demonstra seu amor a liberdade, enquanto outro poeta Colly Flores, lamenta a extinção do vem- vem, assim: “a tarde ia no fim/ o Vem- vem estava cantando/ fiquei de parte escutando/ parecia ser pra mim, / nas ramas dos jasmins/ e nas capas dos Pereiros/ lá no meu sítio Gameleiro, / não resta mais ninguém/ nem mais o canto saudoso/ do meu querido Vem- vem”.

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