FESTAS JUNINAS

Crônicas

Alberto Rostand Lanverly Presidente da Academia Alagoana de Letras

​Carlito Lima é uma dessas figuras fantásticas, oferecidas pela vida. Exemplo de pessoa, sempre deixando transparecer por seu comportamento, de há muito haver dado férias às dores, tristezas e decepções, abolindo de seu dicionário não apenas a palavra reclamação como, acima de tudo, a necessidade de encontrar culpados para suas possíveis angústias.

Cada texto de seus escritos oferece gargalhadas aos convivas, parecendo estar seu espírito em permanente festa.

Recordo, no ano anterior à pandemia participamos de uma celebração junina no salão de recepções do prédio onde moramos e, para surpresa geral, durante o evento os convivas foram agraciados com exímia apresentação da quadrilha Luar do Sertão, ali presente a convite do sempre ativo Carlito.

Foi um verdadeiro show oferecido pelo grupo de jovens, cuja performance já lhes rendeu inúmeros títulos em campeonatos estaduais, regionais e nacionais.

Dançarinos exímios, todos vestidos a caráter: xadrezes, florais grandes e pequenos, listras, chapéu de palha, trancinhas ou maria-chiquinha, saias rodadas com várias camadas e babados diversos.

Voltei no tempo e vi-me em meio à folia característica do mês de junho, com festas na roça, fogueira crepitando, caipiras aprumados, barraquinhas de quitutes deliciosos, além de bandeirolas de inúmeras cores e estilos, enfeitando o salão.

Tudo pronto para esperar a quadrilha, embalada por música típica e linguajar próprio: “anarriê”, “changê de damas”, cumprimento vis-a-vis, outrefoá (autre fois) e tantos outros termos utilizados pelo puxador, os quais, apesar de serem de origem francesa, integram o cotidiano e o linguajar dos participantes daquelas danças.

Ainda hoje, mesmo com o asfalto cobrindo quase todo o chão das cidades, é muito comum vermos alegria junina, principalmente nos dias dos Santos Antônio, João e Pedro, remetendo-nos não somente às comidas e bebidas típicas, como amendoim torrado, batata doce assada, bolo de fubá, canjica, cocada, pé-de-moleque, pipoca, milho, quentão, e sobretudo às músicas cristalizadas na memória e coração de todos os brasileiros, imortalizadas em canções como “Pagode Russo” e Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, “Capelinha de Melão” de Joao de Barros, dentre tantas outras, passadas de pais para filhos e destes para os netos, criando a sensação da permanente existência de um forte elo entre todos e o período junino.

Encantado com a performance da quadrilha Luar do Sertão, embalada pelo tão conhecido refrão cantado inicialmente pelo Rei do Baião “olha para o céu meu amor, vê como ele está lindo, olha pra aquele balão multicolor, como no céu vai sumindo”, facilmente entendi Carlito Lima, pois a vida é realmente uma festa, onde de ruim só a certeza um dia acabar, cessando a magia, a música calando e a luz desligando.

Enquanto tal não acontece, contudo, o fundamental é sabermos usufruir deste momento mágico, tornando-o inesquecível.

Viva São João, Santo Antônio e São Pedro, Viva Carlito Lima.

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