Pedagogia com podcasts, escritores, gramáticas, literatura e Suas Excelências Leitores

Crônicas

M. Ricardo-Almeida

https://porvir.org/8-podcasts-sobre-educacao-para-acompanhar-em-2021/

E a cada semana a crônica de novos escritores a convite da escola. E, assim, em Santana do Ipanema, a escola exercita pedagogia com podcasts, escritores, gramáticas, literatura e Suas Excelências Leitores.
A transmigração dos sonhos representados na educação escolar vai mais longe com a leitura de Suas Excelências Leitores. Há gramáticas, ao se estudar Travaglia, porque se encontra além da gramática teórica, que se associa aos estudos linguísticos na busca de como a língua funciona, a gramática de uso que se aproxima do discurso cotidiano, e também a velha gramática normativa cujos estudos são voltados à norma culta da língua, ao padrão da língua sem se ater as variações linguísticas.

No silêncio do universo,
onde os astros navegam,
misteriosas existências
vivendo diferentes vidas
feito vida diferente vive
nesse mundo conhecido;
e em Santana essa hora

há bilhões doutras vidas
vivendo vários mundos,
diferentes mundos vivos
como há minúscula vida
nesse mundo conhecido;
tantas vidas há por hora
celebradas e esquecidas.

“Importante é ser feliz”
cantam as lavadeiras,
enquanto roupas lavam
num Panema imaginário
onde só inexiste água,
cantam as lavadeiras:

“Tudo se justifica,
“felicidade,
“os dias e a vida,
“felicidade,
“no alimento e no sono,
“felicidade,
“na música e nas festas,
“felicidade,
“no trabalho e nas ruas,
“felicidade,
“no sol sobre as nuvens,
“felicidade,
“nas folhas das árvores,
“felicidade.”

Esperança por dias melhores. Encontra-se na profissão de educador a esperança por dias melhores. Apesar das estatísticas, no campo da escolha das profissões, demonstrarem haver pouca procura para exercer a docência; a sociedade reconhece que é o professor quem faz a diferença na vida social. Considerando a desmotivação salarial aos trabalhadores na educação, a longa jornada de trabalho e as atividades intelectuais que lhes exigem compromissos com a educação formal sistematizada exitosa, a esperança por dias melhores conduz os professores a seguirem ensinando. E uma sociedade se faz com esperança por dias melhores. Cabe ao professor zelar pela aprendizagem do aluno e, assim, transformar a sociedade. Não pela exclusão ou evasão escolar; torná-la mais esperançosa. Ensinando haver esperança por dias melhores.

Cada escola na cidade
transmigra os sonhos;
faz nas árvores, folhas,
permitindo novos voos;
todas as aves ganham;

na cidade, cada escola
evita desistências. Idas
vão preencher mundos:
livros. Escola cria asas;
o livro sai de bibliotecas;

vai, Livro, a essas casas.
E tão somente a escola
faz a vida ser mais lida.

Velhos e novos escritores a convite da escola. Na crônica podcast, esse mês em Santana do Ipanema, o escritor-matriz convidado a comentar acerca da literatura em seu conto “Um homem célebre”, usando, por exemplo, a teoria da recepção. Recepciona o podcast, na escola, a literatura pela análise dos receptores:
Podcast: Relendo esse conto do mestre da intertextualidade nascido no Livramento e levado ao Cosme Velho. Machado, ao se considerar em seu conto que o compositor não é parte de uma das classes insuladas, Pestana é um trabalhador braçal ou um artista do povo?
Machado: Esse é o tipo schopenhauriano que sofre de infelicidade moral sem conserto nem concerto.
Podcast: Frye, ao publicar “Anatomia da Crítica”, lembra que, na segunda parte ao escrever “Poética”, Aristóteles refere-se ao diferente nas diferenças de ficções literárias, e o diferente tem causa em personagens que, comparativamente, são melhores, piores ou iguais a gente.
Machado: Isso? Ora soa a memórias póstumas, ora a fumus boni juris porque onde há monturo há fogo.
Podcast: Machado, suas “Memórias póstumas” querem ressignificar à volta à obsessão pela infidelidade ou – digamos assim: prototranscriação – pra desconstruir “Otelo” de Shakespeare?
Machado: Talvez a explicação à prototranscriação que você refere-se se encontra na pena da galhofa.
Podcast: É verdade, Machado, que Capitu é filha da tinta da melancolia?
Machado: Essa pergunta oblíqua iguala-se aos olhos de ressaca.
Podcast: Machado, no superchat de Pastiche, que acompanha o podcast da semana, ele pergunta se o novo livro consegue ter os leitores de Stendhal. Os algoritmos sempre atentos. E Bricolagem manda like e comenta que o teatro é arte das artes graças à literatura. Paródia manda like, e quer saber por que usar mangações em quase todos os capítulos. Eufemismo, num superchat, pergunta ler ou não ler? Melhor desconfiar de eufemismos. Bauman e suas razões, porque a modernidade líquida autoriza deletar à vontade.
Em literatura, fundamental é o que gira em torno da vida na escola em Santana do Ipanema. Questões circunstanciais em inúmeras possibilidades da memória afetiva, conforme demonstram os alunos no município alagoano. Literatura como resultado de hipóteses às arbitrariedades do amanhã.

Em breve, poemas leves,
Santana histórica e solar
em poemas memóricos.
Santana quadro a quadro
como se acha no retrato,
e se encontra na crônica
Santana imagética de sol,
páginas de tantos poetas;

e ainda se ouve o cantar;
é o carro de bois falando;
ainda se escutam aboios
nas serras em Santana;
veja o Panema com água.
Desde quando? Ouça o rio
desde ontem; o rio passa
em breve poemas leves.

E os escritores não são os que escrevem, escritores são os que leem. Na matéria-prima das metáforas, dos textos polissêmicos, as intertextualidades, a interdiscursividade, os gêneros, o conteúdo, a forma, a estrutura frasal, a morfossintaxe, a coesão, a coerência. Se a distância de Descartes é proporcional a aproximação à Idade da Pedra, alunos se reinventam nas diferentes ciências e nos livros se fortalecem.
Hoje convidam escolas santanenses os seus escritores. E, assim, em Santana do Ipanema, a escola exercita pedagogia com podcasts, escritores, gramáticas, literatura e Suas Excelências Leitores.

M. Ricardo-Almeida

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