NUVENS CARREGADAS

Crônicas

José Malta Fontes Neto

Os dias atuais têm sido momentos de reclusão e aprendizado. A quarentena imposta pela ameaça do Coronavírus e a COVID-19 tem nos proporcionado leituras, estudos e alguns trabalhos que a rotina do jornalista não pode deixar de fazer.

Já foram cinco livros lidos e a perspectiva de mais está por vir.

Hoje, 27 de abril de 2020, acabamos de ler, pela segunda vez, o livro NUVENS CARREGADAS, de autoria do nosso confrade Djalma de Melo Carvalho, membro efetivo da Academia Maceioense de Letras e Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.

Antes de ler a décima terceira obra de Djalma, já tínhamos a garantia de uma boa leitura e de aumentar o nosso conhecimento histórico de Santana do Ipanema, além de aprender mais sobre a arte da crônica, gênero literário que surgiu a partir do ensaio, pela proficiência do escritor, filósofo e humanista francês Michel de Montaigne (1533/1592). No texto “DO ENSAIO A CRÔNICA”, (Carvalho, 2020 p. 51-54) dá uma verdadeira aula sobre esse tipo de texto.

Com esse introito e baseado nas palavras da escritora e professora Deyse Teixeira, quando da apresentação da obra ora em foco, em janeiro de 2020, no seu lançamento em Santana do Ipanema, conversar com Djalma Carvalho e, se o assunto for bom, já se tem a garantia de que ele o transformará em crônica, que inicialmente publica nos meios jornalísticos, à sua disposição e a posteriori imortaliza em seus livros.

Pois bem, NUVENS CARREGADAS é um livro composto de quarenta e sete crônicas, incluo a apresentação por ter já a característica desse gênero, das quais vinte e quatro, ou seja, mais de cinquenta por cento, tem por referência a nossa querida Santana do Ipanema. As demais são momentos especiais que o autor viveu em suas viagens acompanhado da sua querida Rosineide ou de comentários sobre livros ou fatos pitorescos vividos em Maceió, cidade em que o cronista reside.

Com sua expertise no gênero, Djalma Carvalho consegue inserir aspectos importantes, principalmente históricos, na crônica escrita, com retalhos do cotidiano dos dias hodiernos, vejamos:

Em recente viagem a Portugal, o escritor relembrou de suas aulas de história e narrou um momento importante do Brasil e a participação de Alagoanos na Guerra do Paraguai (p.29-31), retratou com detalhes as figuras ilustres como Marechal Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto e, por fim, para inserir nossa Santana do Ipanema, destaca a participação de um Santanense, o acendedor de lampiões Domingos Acácio. Entendem agora porque o nome de um dos bairros de Santana do Ipanema?

O autor sempre em seus livros presta homenagens póstumas a figuras ilustres de sua terra. Na obra em pauta, Djalma homenageou a saudosa Albertina Nepomuceno Agra (p.33-34), no dia do seu desencarne e, como era reconhecida como a dama do teatro Santanense, o cronista prestou também uma justa homenagem a esta arte. Lembrou dos saudosos Dr. Emanoel Fay (p.63-65), Reginaldo José Raymundo – Nadinho das Alagoas (p.67-70) e José de Souza Pinto – Juca Alfaiate (p.79-81). Sem esquecer da Major Elza Cansanção(p.87-89), e para essa homenagem Djalma fez um histórico da participação Brasileira da 2ª Guerra Mundial.

E os temas prosseguem. O nosso querido jumentinho, símbolo de Santana do Ipanema com seu tangedor Candinho teve sua história lembrada. O autor insere esse símbolo a partir do relato de uma viagem feita à cidade Pernambucana Caruaru e, como disse a Deyse, não perde um detalhe. Ao passar por um monumento naquela cidade observou um jumento, assim mais um fato histórico de Santana do Ipanema é apresentado.

Vou quase finalizando essa resenha apresentando outros temas que destaquei na minha leitura: tabagismo, palmatória, réveillon, surgimento do pão, chegada do homem à lua, cangaço, carnaval e festa de Santana.

Você sabia que a queda de um teco-teco (avião de pequeno porte; de um só motor, para pequeno trajeto) deu nome ao Campo de Pouso de Santana do Ipanema? O avião saiu de Santana do Ipanema com destino a Maceió e caiu. Isso aconteceu em 06/09/1945. Assim o nome do piloto deu nome ao campo de pouso de nossa cidade. Vale a pena conferir no livro.

Bem, poderia discorrer muito mais sobre essa importante obra da nossa literatura, mas o objetivo foi alcançado: aguçar a curiosidade do leitor ou leitora para a leitura de NUVENS CARREGADAS.

Parabéns, confrade Djalma de Melo Carvalho. Já estou no aguardo do próximo livro, pois sei já está na inspiração dessa mente brilhante, que consegue, primorosamente, trazer a lume os fatos vividos que perpetuam nossa história e sua vida.

Santana do Ipanema, madrugada de 28 de abril de 2020

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