LAGOA DA RUA – Olivença/Alagoas

Crônicas

Remi Bastos

Igreja de Olivença

Existem fatos que se passam em nossas vidas que, nem o tempo e a distância com todas as suas fortalezas são capazes de apagá-los de nossas lembranças. Uma rua, uma esquina, um banco da pracinha, um vizinho, um amigo, um campinho de futebol ou até mesmo uma mesa de um simples bar, tudo isso são pontos luminosos que clareiam nossas mentes cada vez tentamos lembrá-los. Ah! Quando eu era criança corria com outras crianças pelas ruas do meu bairro abraçando as chuvas de trovoadas e se banhando nas águas que jorravam das bicas das casas como verdadeiras cachoeiras, e tudo era festa, somente festa que adormeciam no lago das nossas fantasias.

As estórias de trancoso, as brincadeiras e cantigas de rodas em frente as nossas casas, momentos estes que só mesmo a felicidade com a exuberância de sua beleza seria capaz de nos brindar. As tapagens, idéias construídas da nossa imaginação e moldada com barro de louça nas valas das calçadas constituíam verdadeiras represas que encantava a todos, e tudo era festa, somente festa que adormeciam no lago das nossas fantasias.

As águas das enxurradas desciam pelos espaços íngremes da cidade de Olivença convergindo-se na Lagoa da Rua formando aí um lago onde a meninada se banhava no excedente líquido que sangrava de suas vertentes sem o menor risco de contaminação, porque a poluição ainda era uma palavra estranha. A Lagoa da Rua lançava as águas para o Riacho João Gomes que descia pelas cremalheiras do terreno ondulado alimentando outros ribeiros até juntarem-se ao Rio Ipanema na sua foz com o São Francisco.
Mas, toda essa maravilha passou como uma chuva de prata. Foram-se os encantos e em suas pegadas apenas vingou a saudade. A meninada de Olivença que teve o privilégio de ver a Lagoa da Rua florida pelas águas das enxurradas e ali ter um cantinho para brincar com a felicidade, hoje crescidas, não têm mais aquele brilho em seu rosto de poder contar para os seus filhos e netos que sua cidade mesmo em pleno sertão alagoano foi por muito tempo palco de um cenário construído pelas águas da Lagoa da rua.

Dedico esta crônica a minha querida cunhada-irmã Eunice Gomes da Silva que viveu sua infância na cidade de Olivença no Sertão Alagoano.

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