ESTÓRIAS DE UM COVEIRO

Histórias Engraçadas

Remi Bastos

José de Arimatéia ou simplesmente Zé Covinha como era chamado, foi um cidadão que residiu em Quipapá no interior de Pernambuco nos idos de 1950. Filho de pais pobres, de cor negra, cuja família conservava os traços ascendentes dos Quilombolas do Povoado Jorge em Alagoas, no município de Santana do Ipanema. Por ironia do destino não teve a felicidade de freqüentar uma escola, era analfabeto por origem. Apesar da vida difícil que levava na cidade onde morava com sua família, sempre se mostrou uma pessoa alegre e bem divertida. Seu primeiro e único emprego foi de coveiro no Cemitério Santa Sofia naquele município.

Zé Covinha era pau para toda obra nas atividades de “enterrar, dar banho e vestir defunto”. Não tinha preconceito com nada. Vez por outra dormia no cemitério, e, geralmente trazia sua bóia acondicionada em uma lata de doce marmelada protegida por um pano branco encardido, amarrado em cruz, onde a conservava no interior das geladeiras junto às ossadas e cadáveres recém-embarcados, para posterior exumação. Pela profissão que exercia, Zé Covinha era filiado ao partido dos fumantes e biriteiros, gostava sempre de puxar um pagoga e tomar sua demerara, a famosa rinchona.

Acontece que na cidade existia um sarará de porte atlético, também biriteiro, muito temido, que vez por outra insinuava o Zé Covinha, chegando às vezes a espancá-lo, deixando-lhe marcas pelo corpo. Certo dia o Zé Covinha soube de uma confusão no cabaré envolvendo o sarará que lhe custou a vida. O morto fresco tinha que passar pelo crivo do coveiro, e não deu outra. À noite, quando o sarará dormia o sono profundo sobre uma mesa de cimento, o Zé Covinha colocou-o de bruço, sentou-se sobre suas coxas e mandou o braço. — “Você não disse que é homem cabra safado, e batia na cabeça e nas costas do defunto. Seja macho, mostre que é valente filho da puta”.

Um outro fato interessante aconteceu por ocasião do falecimento de uma senhora, jóia da sociedade quipapense de classe social médio-alta. O viúvo possuía um mercado de gêneros alimentícios variados, porém, não aceitava vendas a crédito as pessoas de baixo poder aquisitivo, a exemplo do Zé Covinha. Por esta razão, existia certa insatisfação do coveiro com o comerciante. A vigília foi realizada no velatório do próprio cemitério, e couberam ao Zé Covinha os trabalhos de preparação da finada.
Ainda ressentido pelos maus instintos do negociante, o Zé Covinha resolveu fazer vingança. Enquanto preparava a defunta, por sinal uma coroa ainda em forma, e após ingerir algumas doses de cachaça, pensou e agiu. Despiu a morta e fez sexo com ela por duas vezes. Na manhã seguinte quando todos velavam a morta entre prantos e elogios, o comerciante ao lado do caixão dizia maravilhas de sua mulher. O Zé Covinha que acompanhava tudo à distância, vendo o viúvo se lastimando, disse consigo mesmo: “Gaiudo véio fio duma égua!”

Aracaju-05/11/2010

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