A BRIGA DA BUFA

Crônicas

Antonio Machado*

Os anos oitenta foram prodígios para a educação, mormente para nós sertanejos. Foi implantada em Arapiraca, a Faculdade de Federação de Professores, constituindo-se “a coqueluche” do momento, notadamente, para àqueles como nós outros, que desejávamos fazer um curso superior.
Aprovado no vestibular, juntei-me à turma de Santana do Ipanema, especialmente, à professora Ivonete Santana, Branca da Emater, Zé Maria, Zé Neto, sua esposa Liônia, Elza Soares, que não é a cantora, mas exímia professora, Zé Arnaldo, Neide Rocha e seu esposo Renê, nosso motorista, um casal maravilhoso, ambos pais do renomado médico Dr. Rendrikson Rocha, um dos melhores médicos que Olho d’ Água das Flores já teve, Marinês, Benedita (Nêga) Elena Bolinha e outras figuras de realce da sociedade santanense.
Nesse período, viajávamos numa combe, com um motorista que via, por vez e outra, uma pessoa na estrada que já havia falecido há muito tempo, não foram poucas às vezes que o inditoso motorista , freava o veículo bruscamente, para não atropelar a tal defunto, que se postava em frente ao carro, certa vez, eu o aconselhei a atropelar a funesta figura, que eu me responsabilizava, pois jamais acreditei nessas estórias hilariantes. Porém, o inesperado aconteceu. Branca, que nas horas vagas, ensinava o finado Mobral, um projeto educacional, nascido nos escombros do período militar que depois morreu, sem deixar herança, então a colega Branca, passou a semana em Maceió, fazendo uns tratamentos, comeu algumas comidas não muito recomendáveis ao seu intestino, e passou a bufar muito fedorento, estava com a barriga inchada. No último bando da combe, dormia a sono solto, à professora Elza Soares, minha grande amiga, foi quando surgiu o morto, o motorista freia bruscamente, no susto, Branca solta uma bufa da gota serena. Elza roncava e dormia, e nesse meio, engole a bufa izinabrada e se engasgou, tosse e vomita dentro do carro. Ivonete exclama: “êita peido da peste” Todos riam.
A professora, vociferava e dizia: essa puta veia, passa a semana em Maceió, comendo rato pode, e agora quer matar agente com essa bufa da boba serena. Puta veia é você, devolve Branca, e os insultos se acaloraram. Elza, desesperada , pede ao motorista para parar, porque quero bater em Branca, que quase me mata com essa bufa da peste. Branca desce primeiro, e de chinelo na mão espera Elza. Ambas já no chão, agrediam-se mutuamente. Eu e Ivonete tentamos resolver e apaziguar os ânimos das colegas, porque a briga estava ficando feia, tudo por causa de uma bufa.
Depois da turma do deixa pra lá, ambas se acalmaram e a viagem prosseguiu. Os colegas do meu tempo de universitário, sabem dessa história, hoje ela faz parte do meu livro “Contando Causos”, que estou escrevendo.


(*) Antonio Machado é escritor e cronista da AAI. e da Acala.

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