CULPA E MANCHA

José Vaneir Soares Vieira

"Porque as vossas mãos estão contaminadas de sangue, e os vossos dedos de iniqüidade; os vossos lábios falam falsidade, a vossa língua pronuncia perversidade" (Isaías 59:3).

Embora sempre estejam juntas, culpa e mancha são sensações diferentes. Uma não deveria ser mais incômoda do que a outra. As duas são filhas do pecado. Ambas são mais subjetivas do que objetivas.

Culpa é aquele apito do guarda de trânsito que nos faz parar, aquele aguilhão que nos machuca, aquele peso que nos oprime, aquela sirene que não para de tocar. O sentimento de culpa faz surgir um conglomerado de emoções desconcertantes, como medo, vergonha, remorso, baixa autoestima, nervosismo, desespero (dependendo do grau de conscientização do mal praticado). A culpa está emparelhada com a sensação de nudez moral. Nos casos mais intensos e mais graves não resolvidos, pode resultar em suicídio, como aconteceu com Judas.

A culpa provém mais da violação da lei de Deus do que da violação de qualquer norma estabelecida em algum lugar ou tempo. Por meio dela, percebe-se a dessemelhança do ser humano com Deus. Alguém acertadamente disse que a “relação entre pecado e culpa possui uma conotação redentora, pois a partir do reconhecimento de ambos a aceitação da graça torna-se inevitável”.

Mancha é a marca do pecado, o sinal evidente de alguma falta cometida. É como o café derramado no vestido da noiva ou como o leite, no terno do noivo. Depois do acidente, o café ou o leite chamam mais atenção do que o vestido e o terno. Mancha é aquilo que enfeia. É o mesmo que desdouro, desonra, laivo, mácula ou nódoa. Pode significar também imundície, lixo, porcaria ou sujeira.

Mancha é mais um problema interno do que externo. É mais fácil lavar o prato e o copo por fora do que por dentro. A mancha pode não aparecer, mas não deixa de existir. Quanto mais escondida, maior será o mal, pois o esforço de escondê-la gera a hipocrisia. Daí a franqueza de Jesus: “Ai de vocês, mestres da lei e fariseus, hipócritas! Vocês são como sepulcros caiados: bonitos por fora, mas por dentro estão cheios de ossos e de todo tipo de imundície” (Mt 23.27).

Mancha é a desagradável sensação de sujidade, como a do rapaz que não permitiu que o amigo o cumprimentasse dando-lhe um caloroso abraço porque se sentia imundo ao voltar da zona de meretrício.

SETE BILHÕES DE PESSOAS CULPADAS E MANCHADAS

Em 1951 dois rapazes estavam assentados em um banco da estação Deodoro, no subúrbio do Rio de Janeiro, à espera do trem. Um era soldado, o outro, aluno do Instituto Bíblico da Pedra. O seminarista achou por bem evangelizar o soldado, que nunca antes tinha visto uma Bíblia. O cristão abriu a Epístola de Paulo aos Romanos, apontou e leu o versículo 23 do capítulo três: “‘Todos’ pecaram e estão destituídos da Glória de Deus”. Em seguida perguntou ao não cristão: “Quantos pecaram?”. O rapaz não soube responder à pergunta nem na primeira nem nas outras três ou quatro leituras. Como o seminarista insistisse na questão, o soldado respondeu com simplicidade: “23”, o único número que ali estava (até então ele jamais tinha visto um livro com frases numeradas). A intenção do que estava evangelizando era chegar a Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29).

Naquele ano, a expressão “todos pecaram” apontava a existência de 2,5 bilhões de pecadores vivos na face da terra. Em outubro de 2011, 60 anos depois -- com o nascimento de alguma criança, provavelmente na China ou na Índia --, o número de pecadores subiu para 7 bilhões (número 2,8 vezes maior do que o anterior) em toda a terra.

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