Coisa de pele! Imagine!

Cicero de Souza Sobrinho (Prof. Juca)

O 20 de novembro é uma data muito significativa. É uma data que revela o amor fraternal das pessoas. Neste período, muita gente fala sobre a igualdade entre negros, brancos, amarelos, azuis, vermelhos, rosas, verdes e tantas outras cores. Falam em direitos, falam em igualdade perante os olhos do Divino.
No entanto, não é bem assim que as coisas funcionam. Pois algumas piadinhas de péssimo gosto ainda são motivo de alegria para alguns idiotas. Como por exemplo:

- E ai negão, hoje é teu dia né?
- Nego quando não caga na entrada caga na saída!
- Nego só vai pra frente quando leva um tropeção!
- Nego só é gente quando tá no banheiro, alguém bate à porta e ele responde: tem gente!

Lembro-me de uma professora que disse em uma reunião:
- Queria arrumar uma boneca daquela bem preta!
De súbito veio a pergunta de outra professora:
- Oxe! Pra quê?
Então a professora responde:
- Minha filha disse que quando crescesse iria casar com um negro, pois acha linda a cor da pele! Eu quero pegar uma boneca dessa pra mostrar a ela assim de vez, pra ver se ela se assusta e esquece isso...
Ouve um silêncio sepulcral no recinto.

E assim a nossa sociedade demente vai passando para as outras gerações o débil pensamento de superioridade branca.
Também nas escolas as paredes ficam abarrotadas de cartazes com o tema. Peças de teatro mal explicadas e sem fundamentação alguma reforçam ainda mais o estereótipo de homem fraco, inferior e coisificado.
É bom lembrar que durante o processo de colonização do Brasil as mulheres negras – mesmo não sendo vistas como pessoas – eram constantemente estupradas.
Mas o processo de coisificação dos “afrodescendentes” continua forte em nossa sociedade. Mudaram a nomenclatura – é politicamente incorreto falar negro, agora é afrodescendente – mas, continua permitido denegrir, humilhar, ferir, torturar, matar, inferiorizar, pagar mal, etc.
Em pouco tempo, também será politicamente incorreto falar “branco”, logo, logo o politicamente correto será euro-descendente. E nessa idiotice, nessa forma aveludada de preconceito surgem soluções para compensar os séculos de escravidão e morte – se é que se pode compensar uma coisa dessa. Um dos exemplos claros é justamente o surgimento das cotas para negros nas universidades. Este é um atestado de que aqueles que detêm o poder acreditam e querem deixar claro que as cotas foram feitas para os negros porque eles são incapazes de ingressar na universidade por méritos próprios.
Carlos Alberto de Oliveira* mostrou-se totalmente contra as cotas. Indo de encontro inclusive a um dos grupos mais fortes no Brasil de luta pela igualdade racial.

Exercício nº 1

Imagine uma garota sendo perseguida por três homens bêbados a cavalo em uma estrada deserta de uma cidadezinha do interior na época da colonização. Ela corre, corre, corre, cai e esfola os joelhos, se levanta e continua correndo. Sua respiração ofegante lhe comprime os pulmões, e cada vez mais os pés descalços sangram por causa das pedras. Seus olhos vermelhos de tanto chorar, sua voz rouca pelos gritos de socorro – tudo em vão, pois ninguém ouve...
Mesmo correndo contra todas as possibilidades de escapar, ela não pode parar, pois sabe que se fizer isso será o seu fim. Ela continua correndo com medo de seus perseguidores, mas suas passadas pequenas não conseguem superar o galope dos cavalos. E ela cai! Os homens desmontam de seus cavalos, e numa fúria incontrolável começam a bater na garota! Eles começam a xingam dos piores nomes, cospem na sua cara, puxam seus cabelos com tamanha violência que por várias vezes as mãos arrancam tufos e tufos do seu couro cabeludo.
Ela chora e grita desesperada, mas parece que isso só aumenta a ferocidade dos agressores, que em dado momento mandam-lhe calar a boca ou seria pior. De repente eles começam a bater sua cabeça contra o chão de pedras.
De repente começam a morder seu rosto, braços, pernas, enfim, todo o seu corpo. Num determinado momento rasgam sua roupa e começam a estuprá-la uma, duas, três vezes...
E terminada a sessão de horrores eles vão embora como se nada tivesse acontecido.
Ela fica ali, caída, esmagada, machucada. Seu corpo coberto de urina e sêmen. Costelas fraturadas, braço quebrado, olhos roxos pelos murros que levou. Faltam-lhe no mínimo cinco dentes.

Exercício nº 2

Imagine a dor que está sentindo! Imagine a humilhação! Imagine o pavor! Imagine essa garota branca!


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* Vide Lei Caó
Disponível em: http://ceaprj.org.br/seus-direitos/lei-771689-lei-cao/

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