SER OUTRO SEM DEIXAR DE SER VOCÊ MESMO

Pe. José Neto de França

Desde que comecei a produzir textos literários ou não, paralelamente, também, desenvolvi o hábito de criar pensamentos curtos capazes de fazer com que quem os ler, sinta a necessidade de refletir sobre o mundo e sobre si mesmo.

Como tudo que é temporal é mutável, por vezes acesso meu “banco de dados” onde arquivo tais pensamentos e fico a reler, refletir, reformular alguns deles segundo meu novo modo de pensar; motivar-me para criar outros, ou mesmo produzir algum texto mais amplo a partir daquele que, no momento, me provocou mais, instigou-me.

Foi o que aconteceu quando, entre tantos pensamentos, esse, como que um flash, provocou minha criatividade: Por vezes, ao interagir com os personagens imaginários que crio em minha mente, acabo confundindo-os comigo. Tanto porque, eles, como criação minha, nada mais são do que eu, comigo mesmo.

De fato, ao longo de nossa vida, com toda carga genética que herdamos de nossos ancestrais, vamos lidando com muitos desafios dentro dos mais diversos contextos que estão relacionados ao momento vivido. E, se quisermos manter um equilíbrio “psicopessoal” e “psicossocial”, temos que desenvolver a capacidade de nos adaptar, sem perder a nossa essência. Em outras palavras, assim como um camaleão, mesmo que institivamente, muda de cor para se adaptar ao meio e evitar risco a sua integridade física, precisamos criar personagens e “dar vida” a eles, para nos proteger individual e coletivamente.

Não se trata aqui, de um DTI – Transtorno Dissociativo de Identidade, mas apenas e tão somente uma forma de “adaptação” ao meio, para evitar males maiores.

Na verdade, nós já fazemos isso, mesmo sem perceber. Por exemplo: quando você se veste para ir à Igreja ou para ir à praia, e vai, tanto sua roupa, como o seu comportamento é outro. Isso porque os ambientes e o meio social “exige” isso de você.

Logicamente que você ao fazer isso não deixa de ser você mesmo, mas “cria”, consciente ou inconscientemente um personagem para a adaptação necessária ao momento.

Outro exemplo: você trabalha em uma determinada empresa. Ela, certamente, tem suas normas e você, mesmo que não concorde com algumas delas, vê-se obrigado a segui-las; Caso contrário será punido/demitido. Enquanto você permanecer, terá que criar e fazer morrer diversos personagens dentro de si mesmo.

Isso vale para desde as situações mais simples, até as mais complexas da vida humana.

Porém temos que “policiar” a nós mesmos para que, sem deixar de ser essencialmente o que somos, saber criar, entrar e sair de cada personagem, evitando que um ou outro extrapole o espaço e o tempo aos quais foram determinados. Porque, se isso acontece, aí sim, correríamos o risco de desenvolver, de fato um DTI – Transtorno Dissociativo de Identidade.

Enigmas da vida...
EGO, ME IPSO!!!
[Pe. José Neto de França]

Comentários