O Burrinho de Vovô...!!!

Manoel Augusto


LEMBRANÇAS DA ADOLESCÊNCIA
O BURRINHO DE VOVÔ... !!!
Para alguns dos quase 60 netos do “Seu João Agostinho” essa expressão é bem familiar, principalmente para aqueles que estão acima dos 50 “years old”... As peripécias do “burrinho de vovô” eram motivos de brincadeiras e galhofas dos então “netinhos” nos anos 50 e 60. Naqueles anos e também nas décadas anteriores que datam dos primórdios da nossa cidade, como de resto de todas as povoações surgidas nos sertões, eram comuns as casas serem construídas nos limites das calçadas, deixando um quintal mais amplo possível para servir do que hoje chamamos de garagem. Na época, alojamentos de cavalos e burros, que eram os transportes usuais.
Em Santana do Ipanema essa prática era mais do que um princípio, era a regra. Quase todos os chefes de família moradores da “rua” ou seja da cidade tinham seus sítios ou fazendas, de onde tiravam seus respectivos sustentos, e cumpriam uma rotina quase infalível: passavam a semana na “propriedade” e no sábado vinham “pra rua” fazer a feira, ir à missa no domingo e dar assistência à família. Os filhos freqüentavam as escolas, naqueles anos, muito raras, a princípio o Grupo Escolar Pe. Francisco Correia e Ginásio Santana, depois o Grupo Escolar Ormindo Barros, Colégio Estadual “ainda” Deraldo Campos e as escolas particulares de D. Naraí, da Professora Adelcina Limeira e de D. Helena Braga, entre outras menos conhecidas.
Essa rotina era cumprida também pelos familiares do seu João Agostinho. Uns já moravam na “rua” e não dependiam da labuta na fazenda, outros permaneciam na “rua” enquanto estudavam. Nesse caso me incluo e por sermos em 10 irmãos tínhamos um muro bastante amplo para hospedar as nossas montarias: cavalos, burros e jumentos – até vacas mantínhamos para tirar o leitinho quente na cuia todas as manhãs que saboreávamos com cuscuz feito de milho ralado ou moído... essa uma atividade disputada pela molecada.
Mas voltemos ao burrinho, na verdade nem tão burrinho, era um burrão cinza quase branco e muito esperto. Só o vovô montava no burrinho, quando um estranho se aproximava ele “musgava” as orelhas feito jumento na presença de égua e ficava a olhar de banda ameaçando com um coice, parecia piscar o olho, como se dissesse: “Sou burro de sela eu sei, mas não abusa da condição, nesse lombo que você vê só quem monta é seu João”!!!
Quando o “tio Tonho” não estava cabia a um dos netos ir ao cercado da casinha (em frente a cadeia) pegar o burrinho, normalmente nas segundas feiras de madrugadinha para que o vovô regressasse a Fazenda Felicidade, próxima a Várzea de D. Joana, distante 6 léguas de Santana, era uma tirada boa, só o burrinho agüentava a pisada todas as semanas. Pra pegar o burrinho no cercado só com agrado de uma cuia de milho e assim mesmo em clima de desconfiança. Algumas vezes o burrinho corria o cercado todo e ainda relinchava (ou zurrava) como se “mangando” do pegador, imitando o jumento da canção de Luiz Gonzaga: Você comeu meu mio? E o jumento: Comi, comi, comi...
Nota:
Seu João nos deixou aos 102 anos de idade. Cavalgou até os 85 anos, um exemplo de vida para nós, netos e não netos...
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