O PATO QUE MORREU AFOGADO

José Malta Fontes Neto

Santana do Ipanema foi denominada pela escritora Maria do Socorro Farias Ricardo como a Terra dos Escritores e esse título é plenamente justo. Temos muitos escribas em nossa terra e muitas histórias são contadas.

Mas, Santana do Ipanema, como qualquer cidade interiorana, tem no seu conjunto cultural outros personagens, como doidos, contadores de histórias, etc. Ora se tem.

Lembro-me no fim dos anos 70, trabalhando no escritório Fontes Contabilidade, na época situado a Rua Nilo Peçanha, onde hoje funciona a loja Santana Presentes, vez por outra ia até a Sapataria do saudoso Quincas, que ficava no final desta pequena rua, um sapateiro muito inteligente, amante da radiofonia e,na época, assíduo ouvinte da Rádio Globo e até de rádios do exterior.

Naquela sapataria conheci Jaime, que gostava de ser chamado de Jeime (SIC), dizia ele que esse nome foi atribuído a ele pela Rainha da Inglaterra, Elisabete II. Contava que foi convidado a ir a Londres e passando pelo Palácio de Buckingham, que é a residência oficial e principal local de trabalho da Monarca do Reino Unido, ouviu uma voz chamando:-Jeime… Jeime… Curioso e sarcástico eu disse:

- Não me diga que era a Rainha te chamando. Ele calmamente disse: – Claro, e aí fui até ela.

Se você não o conhecesse, com certeza caia na conversa do Jeime (SIC), pois contava histórias em detalhes das suas andanças pelo mundo. Muitas eu ouvi. E ai de quem dissesse que era mentira. Ele logo respondia: - Você não viaja…

Djalma de Melo Carvalho, um dos grandes cronistas de Santana do Ipanema, jáfalou de outro personagem bem conhecido de nossa terra, Lulu Félix; Dizem que o homem contava histórias miraculosas a beça.

Silvano Gabriel, nosso poeta, cordelista, repentista e teatrólogo, certa feita relatou que Lulu Félix dizia que viu uma cobra de quinze metros só de cabeça que demorou quinze dias para atravessar uma estrada. -Será?

Então, falei desses contadores de histórias de outrora, pois hoje fui à Casa O Ferrageiro para papear com o confrade Bartolomeu Barros e, de repente, me deparei comum Jeime (SIC) ou Lulu Félix da modernidade. Coisa rara.

Estava tirando onda junto aos vendedores, quando ouvi um causo de um pato que morreu afogado. Ai resolvi saber essa história. E assim foi contada.

Segundo Murilo, o ex-funcionário do Ferrageiro, Luiz Pureza, hoje aposentado e morador da cidade de Pão de Açúcar, prometeu um pato ao vendedor Juca. Este que não pôde ir buscar o presente, pediu a Damião, filho de Pureza, que trouxesse o pato. Quando perguntou ao portador pela encomenda, ele prontamente disse: - O pato morreu afogado.

Pois bem, imaginem os risos. Mas um contador de histórias de plantão disse que tinha uma explicação à moda Lulu Félix ou Jeime (SIC). Disse-me:

– Malta, você sabe que pato voa, não é? Eu disse que sim.
Então ele acrescentou:
– Olha só, o pato do Juca voou tão alto que caiu na água e, cansado,morreu afogado.

Os risos foram maiores…

Mas o contador de histórias não se conteve e, com o ar de Jeime(SIC), disse:

– Você não entende que muitas coisas podem acontecer! Por exemplo, eu vi uma galinha ser pescada com um anzol. Novos risos… e continuou:

– Lá próximo ao Supermercado Pingo de Ouro tem uma casa que tem uma piscina. E nos fundos tem um terreno. Estava lá e havia umas pessoas tomando banho. De repente, ouviram uma galinha cantar. Daí um pegou uma vara de pescar, colocou um caroço de milho no anzol e jogou para a galinha que imediatamente engoliu e foi literalmente içada.

Diante dessa justificativa do nosso amigo, se uma galinha pode ser pescada com um anzol, eu não duvido que o pato do Juca tenha mesmo morrido afogado.


José Malta Fontes Neto
Santana do Ipanema – AL, 13 de agosto de 2021.

Comentários