BACURAU CONTINUANDO NO CARNAVAL

José de Melo Carvalho

O BACURAU CONTINUANDO NO CARNAVAL

José de Melo Carvalho
Membro da Academia Santanense de Letras, Ciências e Artes.
Acadêmico Correspondente da Academia Maceioense de Letras.

Depois das visitas a residências no bairro da Camoxinga, retornaríamos à concentração do Bloco do Bacurau, passando pela Rua do Sebo. Antes, da Ponte do Padre Bulhões, avistamos muita gente banhando-se nas águas do Panema. Pensando tratar-se de outro bloco carnavalesco, dissemos: “Pronto, vamos lá também.”
Imediatamente descemos a ladeira para o esperado banho refrescante e reparador, porque o grupo já estava meio sujo e encharcado de bebidas. Apressamo-nos para conhecer os componentes do suposto bloco carnavalesco.
E a surpresa? Na verdade, não era nenhum bloco. Lá encontramos uma cerimônia de batismo de crentes. O pastor, educadamente, pediu-nos que respeitássemos aquela cerimônia religiosa. Retiramo-nos, sem conversa, e fomos embora para a Rua do Sebo.
Já na Rua do Sebo alguém falou: “Seu Ormindo está bulindo numa maquina de datilografia.” Aí Cara Véia, se aproximou e perguntou: “Seu Ormindo é um cadastro?” Ele respondeu: “Que nada menino, cadastro somente amanhã.” Amabilia apenas olhava.
Hamilton Amaral passava no jipe de Jair, já um pouco melado de talco, porque era carnaval, convidando-nos: “Depois lá em casa, não esqueçam meninos!”
Popota, com um rádio nas costas, ficou observando a passagem do bloco. João Engraxate, gordo que nem um barrão, dizia alegre: “Vão em frente, meninos, o Gilvan ainda está dormindo.” Mané Guarda descia pelo beco em direção do Poço dos Homens com um saco nas costas, levando uma tarrafa e outros ingredientes. Do seu lado direito, na altura da cintura, portava uma garrafinha de pinga, pendurada, amarrada num barbante. Do outro lado, uma panela de barro. O autor deste texto gritou: “Mané Guarda, Mané Guarda.” Ele não me olhando, apenas respondeu: “O que é o que é?” E foi embora, resmungando.
Final do dia, hora avançada. Tínhamos que descansar para participar, à noite, do baile no Tênis Clube, com Mané Morais e sua Banda. Já na Rua Nova, Zé Ormindo, imitou novamente um cachorro doido na frente da Igreja Batista: “auuuuú, auuuuú, auuuuú”.
Estávamos retornando à concentração para deixar combinado que no dia seguinte, segunda-feira, às dez horas, todos deveriam estar no batente para nova saída do bloco. Nisso, aparece Juriti com um trinchete de ponta rombuda na mão, e brabo que nem um siri na lata dispara em voz alta: “Quem foi o gaiato que derrubou minha placa com uma pedrada?” Neto (João do Mato), com muito jeito, respondeu-lhe: “Juriti, a turma é sua amiga, está nos desconhecendo? Ninguém atirou nenhuma pedra em sua placa.” Já meio calmo, continuou Juriti: “E quem foi?” E Neto: “Não sabemos. Acho que foi a turma do Pau-d’arco.” Retomando a raiva, gritou Juriti: “O quê? Vou procurá-la agora mesmo, e saiu bufando, puto da vida.
Remi, um dos líderes desse bloco carnavalesco, deixou de registrar a queixa de Juriti nos arquivos do Pau-d’arco.
Na verdade, o que foi atirado na placa de Juriti não foi uma pedra, mas, sim, uma banda de tijolo. Neto não mentiu. Nota dez para ele. O bloco era organizado, também em sua logística.
Maceió, outubro de 2014.


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