É, e assim caminha nossa agropecuária

João do Mato

Li ultimamente um artigo sobre produtividade do milho em regime de sequeiro na região do semi-árido nordestino.E também, dentro mesmo assunto,uma distribuição de sementes selecionadas doada á Prefeitura de Santana do Ipanema-Al.
Ao ler essas reportagens, me perguntei: até quando vamos persistir nessa tecla de política agropecuária de faz-de-conta???. Será que não aprendemos ao longo da nossa história que essa é uma política suicida, só trás safras de malogro e nada mais, que colhemos bem um ano e oito não?

Fiquei matutando e confabulando cá com meus botões.Em Sidrolândia-MS, em anos normais, e esses são oito e um não, a produtividade do milho de verão, que equivalente á safra de inverno do nordeste, é de 100 sacos /há, contra uma produtividade da reportagem que falava em 35 sacos / 1,5ha, como um grande feito, que equivale a 23,33sacos/há..E olhe que não estou somando a produtividade da chamada safrinha, que é plantada no final de fevereiro,ato contínuo á colheita de verão, e colhida no final de junho início de julho com produtividade de 50 sacos/há.Se computarmos as duas colheitas teremos 9000kg de milho/há contra 1399,8Kg do da reportagem..Ou seja,15.55% da produtividade anual de 1ha de Sidrolândia.

Infelizmente ou felizmente, a maioria dos produtos agropecuários são commodities e, com tal, seus preços estipulados pela lei da oferta e procura na bolsa de valores e de mercadoria. Portanto, não distinguirá nem beneficiará essa ou aquela condição inerente a alta ou baixa produtividade do produtor. E, nessa realidade, quem produz com produtividade média compatível para cultura já sofre para pagar as contas, imagine quem produz com baixa produtividade.

Estou radicado no estado do Mato Grosso do Sul há vinte anos e, por em incrível que pareça, nunca vi políticos distribuindo sementes selecionadas ou de qualquer tipo em nenhuma cidade ou região. O agricultor é quem corre atrás do crédito, compra suas máquinas e sementes, transgênicas ou não, para tocar seu negócio e obter o melhor retorno do seu capital investido. A atividade é encarada como um negócio qualquer.

Não podemos esperar resultados diferentes se não mudarmos a forma de obtê-los. Plantamos milho e feijão na região e até hoje não conheço ninguém que obtivesse lucro plantando essas culturas em regime de sequeiro no semi-árido.Os fatos comprovam ao longo do tempo.Houve uma época,não muito distante,que se plantava feijão e milho para colher o seguro rural

A falta de um zoneamento agrícola, aliada a total ausência de trabalhos de pesquisas persistentes para definição de um sistema agropecuário compatível com o clima, juntando-se ao desmanche do serviço de assistência técnica são os principais responsáveis por esse estado de abandono que se encontra a agropecuária no estado de Alagoas, e mais gritante ainda no Sertão pela escassez de água.

O que li no Portal Maltanet na seção Agência Alagoas do dia 22/04/2010, uma reportagem sobre a distribuição de sementes em Santana do Ipanema, é no mínimo deprimente e vergonhoso para quem tem um pouco de juízo.O Governador do Estado e mais uma ruma de candidatos ao poder legislativo estadual e federal distribuindo aqueles donativos como se estivessem fazendo uma grande ação.Sabem de ante-mão, que aquilo não resolve nada,que é mais uma safra de ilusão,que o sistema é falido e que só serve para perpetuá-los no poder. Essa é a triste realidade.

Distrito de Quebra Coco, Sidrolândia-MS, 24 de abril de 2010.
João Francisco das Chagas Neto..
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